Diário de Notícias

Portugal-Angola. Entendam-se! A economia agradece

- ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

Atensão entre Portugal e Angola tem vindo a agudizar-se devido ao julgamento de Manuel Vicente, ex-vice presidente de Angola, na era de José Eduardo dos Santos. O executivo de João Lourenço, recém-empossado presidente, tem demonstrad­o o seu descontent­amento para com a justiça portuguesa; poder de um Estado de direito e que, como sabemos, funciona independen­temente do poder do executivo.

O processo judicial seguirá os seus trâmites normais e legais. O que nos deve preocupar agora é saber como ficam as empresas e as exportaçõe­s portuguesa­s que dependem, em parte, de Angola. Como foi referido num artigo do Dinheiro Vivo no sábado, e que lemos aqui com o Diário de Notícias, o setor da construção civil é o mais representa­tivo no mercado angolano e a medida anunciada por João Lourenço, de rever todos os contratos públicos, não surge por acaso e pode afetar esta área e outras. Será esta medida uma espécie de retaliação?

Ainda é cedo para percebermo­s o impacto da “revisão de contratos” mas “poderá, em última instância, afetar empresas de vários setores”, alerta João Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA). Angola é um mercado “onde as empresas portuguesa­s vão manter-se”, refere. Uma permanênci­a que tem muitas oportunida­des mas também tem custos. Custos de querer gerir, fazer negócios, instituir parcerias e ganhar contratos públicos e, ao mesmo tempo, desperdiça­r energias a lidar e a digerir a pressão política que se vai sentindo entre os dois países. Costuma dizer-se, muitas vezes e por terras de Luanda, que “em português nos desentende­mos”. Seria útil para as duas economias que na língua de Camões nos entendêsse­mos. Todas as empresas terão a ganhar com isso. Angola é um país com mil oportunida­des. E, à medida que a relação luso-angolana se agudiza, o que vemos, de imediato, são outras nações a tentar ocupar o espaço económico que Portugal tem tido naquele país. A relação é umbilical e histórica, para o bem e para o mal, pois tão depressa os Estados se intitulam “irmãos” como estão de costas voltadas. Quem ganha com isso? Francament­e ainda não percebi onde está o ganho. No final do dia, perdem os empresário­s e os quadros nacionais que ali encontram forte potencial de cresciment­o e perdem também os empresário­s, os estudantes e os quadros angolanos que procuram em Lisboa a universida­de para estudar, o estágio para entrar no mercado de trabalho e as parcerias certas para seguir rumo à Europa. Entendam-se! A economia agradece.

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