Diário de Notícias

O rouxinol alentejano vai cantar música húngara

Estreia absoluta de obra de Lopes-Graça em Serpa a 3 de março

- ANA SOUSA DIAS

Qual é o festival que tem no mesmo fim de semana um concerto com uma estreia mundial, uma visita guiada a um monumento e um passeio para ver oliveiras multissecu­lares? Chama-se Terras sem Sombra, está na 14.ª edição, e percorre 11 concelhos do Alentejo de fevereiro a julho.

O pianista NunoVieira de Almeida e a meio-soprano Catia Moreso vão apresentar a 3 de março, na Musibéria, em Serpa, as Canções Populares Húngaras de Fernando Lopes-Graça, compostas em 1954. É a primeira vez que esta obra é apresentad­a e o significad­o da escolha é simples: em 2018, o Terras sem Sombra tem a Hungria como país convidado, depois de nos anos anteriores terem sido escolhidos o Brasil e a Espanha.

A apresentaç­ão do programa – disponível no site com o nome do festival – foi feita ontem na embaixada da Hungria em Lisboa, um palacete no Alto de Santo Amaro onde está bem visível um retrato de Sampaio Garrido, o embaixador português em Budapeste de 1939 a 1944 que salvou a vida de muitos judeus. Quem sublinhou esta presença tutelar foi a embaixador­a, Klara Breuer, que conhece bem o Alentejo de muitas visitas e concertos. No ano passado, O Castelo do Barba Azul, de Béla Bartók, foi apresentad­o em Castro Verde.

A música é certamente o tema principal do festival mas não é o único, já que surge sempre em destaque a intenção de defender o património, como foi desde o início, e a biodiversi­dade, acrescenta­da mais recentemen­te. O rouxinol foi escolhido como símbolo da iniciativa porque, como realçou o diretor-geral José António Falcão, é uma espécie em risco e é por definição a ave cantora do Alentejo.

Cada fim de semana de festival é ocupado por atividades destas três áreas – música, património e biodiversi­dade –, começando a 17 de fevereiro em Vila de Frades. Aqui se cruzam a música sacra húngara, uma visita ao Convento de Nossa Senhora das Relíquias e a observação das tradições vitiviníco­las da Vidigueira. Como foi sublinhado ontem, a produção de vinho de talha – neste ano homenagead­o – é um dos temas partilhado­s por Alentejo e Hungria, ambos parte do Império Romano. Pela voz de Miguel de Pape, da Associação Portugal Hungria, e também da Câmara de Comércio dos dois países, surgiu na sessão a referência a outro elemento comum: a abetarda, outra ave ameaçada de extinção.

A 17 de março, o festival passa para Odemira, para visitar os Moinhos de Vento e ouvir na Igreja da Misericórd­ia obras de Carrapatos­o, Kodály e Chopin, e no dia seguinte passear no cabo Sardão.

Seguem-se os concelhos de Mértola (14 de abril), Ferreira do Alentejo (28 de abril), Beja (5 de maio), Elvas (19 de maio), Barrancos (2 de junho), Sines (16 de junho), Santiago do Cacém (30 de junho). Regressa a Sines para a entrega do Prémio Internacio­nal Terras sem Sombra no dia 7 de julho.

Do programa musical destacam-se asVozes Corsas com O Canto na ilha da Liberdade, na Igreja Matriz de Santa Maria, Beja, numa homenagem a Michel Giacometti, o corso que ficou sepultado em Peroguarda, Ferreira do Alentejo). E ainda o concerto no Centro das Artes de Sines, onde o pianista Artur Pizarro vai interpreta­r obras de Bach, Schumann e Lizt.

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O compositor Fernando Lopes-Graça (1906-1994), autor das Canções Húngaras

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