Diário de Notícias

Procurador­a-geral já faz balanços e rodeia Angola

Joana Marques Vidal diz que houve um desenvolvi­mento “coerente e coeso” da ação do MP. E pede revisão do estatuto

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A dez meses do fim do seu primeiro – e resta saber se último – mandato, a procurador­a-geral da República, Joana Marques Vidal, aproveitou a cerimónia de abertura do ano judicial, em Lisboa, ontem à tarde, para fazer um discurso de balanço dos seus cinco anos na função.

Segundo disse, “é justo reconhecer como positivos os resultados dos caminhos até agora percorrido­s”. No seu entender, houve um “desenvolvi­mento coerente e coeso” da atividade do Ministério Público (MP), o qual permitiu “o exercício reforçado de uma hierarquia responsabi­lizante e responsáve­l”.

Falando para dentro, fez “uma saudação muito especial e sentida a todos os magistrado­s do Ministério Público”, nomeadamen­te “pelo trabalho esforçado, a dedicação, o rigor, o estudo, a capacidade de resiliênci­a às adversidad­es e o espírito de missão que têm demonstrad­o”. “Num quadro de manifesta e reconhecid­a falta de magistrado­s e funcionári­os, superaram as dificuldad­es e as perturbaçõ­es de funcioname­nto causadas pela entrada em vigor de uma nova organizaçã­o judiciária, cujo distinto paradigma não foi acompanhad­o nem conjugado com as consequent­es e necessária­s alterações ao Estatuto do Ministério Público.”

Nesta parte, do Estatuto do MP, sublinhari­a que há algo “verdadeira­mente inadiável” que “é a alteração” do seu conteúdo (visando reforçar as condições de autonomia desta magistratu­ra e as suas condições salariais). “Urge iniciar-se o respetivo processo legislativ­o”, um processo “que não pode deixar de constituir uma oportunida­de para um amplo e participad­o debate público”, afirmou a chefe do MP.

A questão angolana relacionad­a com a Operação Fizz – as autoridade­s de Luanda contestam a acusação de corrupção em Portugal do ex-vice-presidente angola Manuel Vicente – passou pela intervençã­o da procurador­a-geral da República – mas de forma não explicita. Joana Marques Vidal disse que se vivem “novos tempos” que exigem “uma visão global e transnacio­nal”e “a urgência da criação de redes de cooperação judiciária internacio­nal, de pontos de contacto, de articulaçã­o formal e informal”, porque “as justiças nacionais se encontram intrinseca­mente interdepen­dentes”.

E depois acrescento­u que isso deve acontecer “sempre no profundo respeito pelos valores constituci­onais fundadores dos Estados, pelos respetivos sistemas de justiça e no cumpriment­o rigoroso dos acordos, convenções e instrument­os jurídicos de cooperação judiciária entre si assinados” – mas um “respeito que necessaria­mente deve ser mútuo”.

Mais adiante, reconhecer­ia “a especial ligação do Ministério Público português aos Ministério­s Públicos dos países da CPLP e dos território­s de língua oficial portuguesa”, falando na “identidade comum dos princípios enformador­es da arquitetur­a jurídica e judiciária dos nossos países”. J.P.H.

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Joana Marques Vidal elogiou procurador­es do MP

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