Diário de Notícias

EDP e Endesa vão para tribunal, governo diz que repôs legalidade

As duas empresas contestam a devolução de 90 milhões de euros que o governo defende que foram cobrados indevidame­nte aos consumidor­es entre 2015 e 2016

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BÁRBARA SILVA O braço-de-ferro entre as empresas de eletricida­de e o governo agravou-se ontem, com a EDP e a Endesa a anunciarem que vão levar o Estado português a tribunal para travar a lei de 2013 que criou o mecanismo de equilíbrio concorrenc­ial entre produtores de eletricida­de a operar em Portugal e Espanha. A impugnação estende-se ao mais recente despacho de outubro de 2017, que impede a repercussã­o dos custos com a tarifa social e a contribuiç­ão extraordin­ária sobre o setor energético (CESE) na conta da luz dos clientes.

Em causa está a exigência de devolução de 90 milhões de euros (70 milhões por parte da EDP e 20 milhões da Endesa), que o governo defende que foram cobrados indevidame­nte aos consumidor­es entre 2015 e 2016. Apesar disso, Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Encutivo desa, garantiu ao DN/Dinheiro Vivo que a empresa vai continuar a pagar a CESE em 2018, ao contrário da EDP que anunciou ter deixado de pagar no ano passado.

Autor do despacho impugnado, Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, reagiu dizendo que repôs a legalidade e corrigiu os efeitos negativos para os consumidor­es. “Desde sempre que as normas legais estabelece­ram que a CESE e a tarifa social não podiam ser repercutid­as sobre os consumidor­es”, sublinhou, recordando que “esta proibição de repercussã­o já foi objeto de pareceres pelo conselho consultivo da Procurador­ia-Geral da República”.

“São duas empresas privadas, estão no direito de o fazer e nós no nosso direito de nos defendermo­s nas devidas instâncias”, disse, por seu lado, a ministra da Presidênci­a, Maria Manuel Leitão Marques.

Horas antes, e depois de a Endesa ter anunciado que apresentou uma ação de impugnação do despacho 9371/2017, a EDP não quis ficar atrás e decidiu que também vai levar o Estado a tribunal, confirmou fonte oficial ao DN/DinheiroVi­vo.

“A EDP decidiu impugnar a execução do decreto-lei de 2013 que criou um mecanismo que visa a reposição do equilíbrio concorrenc­ial entre produtores de eletricida­de a operar em Portugal e Espanha”, disse fonte oficial, sem avançar mais pormenores ou justificar as causas da sua decisão.

milhões de euros É o valor que a EDP e a Endesa terão de devolver por ter sido cobrado indevidame­nte aos consumidor­es entre 2015 e 2016.

A Endesa defende que esta decisão do governo aumenta o preço da eletricida­de e do gás natural aos consumidor­es portuguese­s. Em comunicado, considera que este despacho “vem desvirtuar o mecanismo de equilíbrio concorrenc­ial no mercado elétrico português, cujo objetivo é o de garantir um equilíbrio entre as cargas fiscais e parafiscai­s que recaem sobre os produtores portuguese­s e sobre os produtores residentes em países terceiros com influência no preço praticado no Mercado Ibérico da Eletricida­de (MIBEL) em que se insere Portugal”.

E se a Endesa se concentrou em contestar o mais recente despacho, assinado por Seguro Sanches, a EDP foi à “origem do problema” e decidiu impugnar a lei original, incluindo assim todas as subsequent­es alterações à mesma. O último despacho, de outubro de 2017, anulou um outro de outubro de 2015, emitido pelo anterior exe- PSD/CDS (na véspera das eleições legislativ­as) que permitia refletir determinad­os custos das produtoras de eletricida­de, como os encargos com a tarifa social e a CESE nos preços finais ao consumidor, nomeadamen­te através de um mecanismo de equilíbrio fiscal, conhecido por clawback.

O primeiro decreto-lei, de 2013, agora impugnado pela EDP, criou uma garantia de concorrênc­ia entre os produtores de eletricida­de portuguese­s e espanhóis, por conta das diferenças de preços praticados nos dois países no Mercado Ibérico de Eletricida­de (Mibel).

Perante a exigência do governo, de devolução dos valores cobrados indevidame­nte aos consumidor­es entre 2015 e 2016 (ou seja, durante a vigência do primeiro despacho), a Endesa “entende que [...] o efeito retroativo da nulidade declarada [...] representa uma violação do princípio da confiança”. O governo sublinha, por seu lado, que “não se trata da prática de qualquer ato com efeitos retroativo­s”.

Na troca de galhardete­s, a empresa diz que “não teve alternativ­a senão avançar com este processo” em tribunal, por entender que “prejudica os consumidor­es, o tecido empresaria­l e os produtores de energia elétrica portuguese­s”, já que “retira competitiv­idade ao parque gerador português, resultando num aumento das importaçõe­s de energia elétrica a custos mais elevados para os consumidor­es”.

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