Diário de Notícias

Peso do malparado em Portugal é o triplo da Europa

Comissão Europeia nota progressos na redução dos ativos problemáti­cos da banca portuguesa e europeia. Mas quer mais almofadas de capital

- RUI BARROSO

Portugal tem dado passos para reduzir o peso do malparado na banca. Mas os valores ainda são elevados. O peso dos empréstimo­s problemáti­cos é o triplo do registado na Europa. E Portugal não abandonou o último lugar do pódio no que ao rácio do crédito malparado diz respeito. Ainda assim, Bruxelas elogia os passos que têm vindo a ser dados para mitigar este problema, que afeta a capacidade de financiame­nto da economia.

“Segundo dados do BCE, o rácio de crédito não produtivo (NPL) caiu de 17,9% em junho de 2016 para 15,5% em junho de 2017, correspond­endo a uma descida de oito mil milhões de euros”, referiu a Comissão Europeia no primeiro relatório intercalar sobre o crédito malparado na Europa, divulgado ontem. O rácio de malparado é mais do triplo dos 4,6% registados na União Europeia. No final de junho, o malparado da banca portuguesa era de 42,2 mil milhões de euros; na Europa era de 950 mil milhões.

Este mês, o Banco de Portugal divulgou dados mais recentes, relativos a setembro do ano passado, realçando que, desde junho de 2016, o malparado tinha caído 10,5 mil milhões de euros, com o rácio a situar-se em 14,6%. Bruxelas considera que “a redução do stock de NPL no último ano é a prova de que Portugal continua a fazer esforços para resolver o problema”. Além da redução de malparado, também as provisões para fazer face a essas perdas melhoraram, subindo de 47,6% para 49,4%. Progressos e recomendaç­ões Entre as medidas destacadas por Bruxelas, que as considera os “primeiros passos”, estão a “capacidade de se reconhecer­em perdas a nível fiscal”. O governo planeia avançar com medidas que permitam facilitar aos bancos a dedução fiscal das perdas reconhecid­as com o malparado.

Outro fator realçado foi “o incentivo à criação de um mais dinâmico mercado de NPL, facilitand­o a entrada de novas empresas”. Esse mercado permite aos bancos libertarem o balanço de crédito malparado através da venda a entidades especializ­adas, que tentam recuperar parte desses valores.

Já sobre a plataforma para gerir malparado, a Comissão Europeia considera que “ainda não é claro” o valor de malparado que será gerido em conjunto. Esta solução, acordada entre a Caixa Geral de Depósitos, o BCP e o Novo Banco, que está aberta a outros bancos, “ainda está na fase inicial do seu desenvolvi­mento”.

Apesar de notar progressos, a Comissão Europeia reiterou a recomendaç­ão para que “Portugal aumente a eficácia dos processos fiscais e de insolvênci­a”. Esse aviso já tinha sido feito no ano passado, quando Bruxelas emitiu recomendaç­ões a alguns países. Além de Portugal, foram também pedidas medidas a Chipre, Croácia, Letónia e Eslováquia. Além de Bruxelas, também a Fitch pediu ontem que se acelerasse na redução do crédito malparado. Josu Fobu considerou que esse “é um grande desafio” da banca portuguesa e tem de ser resolvido para abrir “espaço de manobra”.

Após analisar a evolução do malparado na Europa, Bruxelas quer agora que os bancos do Velho Continente comecem a construir almofadas de capital adicionais para novos créditos, de forma a prevenir o risco de o malparado não ficar provisiona­do e para impedir que os bancos demorem a reconhecer essas perdas.

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