Diário de Notícias

Torrent não afasta hipótese de ir falar com Puigdemont a Bruxelas

Novo líder do Parlamento catalão está em consultas com os partidos antes de indicar quem é o candidato a presidente da Generalita­t. Junts per Catalunya pediu para Puigdemont delegar o seu voto na sessão de investidur­a

- SUSANA SALVADOR

O novo presidente do Parlamento catalão, que deve concluir hoje as consultas com os partidos tendo em vista a designação do candidato a presidente da Generalita­t, não afastou ontem a hipótese de viajar até Bruxelas para se reunir com Carlos Puigdemont. “Faremos todas as conversaçõ­es e veremos quem é o candidato que suscita maior consenso. Se esse candidato for Puigdemont, temos que ver como o fazemos”, indicou Torrent às rádios catalãs. Questionad­o sobre se iria a Bruxelas falar com ele, disse que “falaremos com ele” e, pressionad­o para saber se o faria na capital belga, respondeu: “Veremos, veremos.”

No Parlamento catalão, a porta-voz do Junts per Catalunya (JxC) e antiga braço direito do líder da Generalita­t, Elsa Artadi, deu como confirmado o encontro entre Puigdemont e Torrent em Bruxelas. Segundo o jornal El Periódico, o encontro será à margem das reuniões que o líder do Parlamento está a ter com os diferentes partidos. Contudo, ao site ElNacional.cat o gabinete de Torrent não confirmou o encontro e fontes ligadas a Puigdemont indicam que o ex-presidente não o pediu pessoalmen­te, tendo a proposta partido do grupo parlamenta­r. Para o JxC seria um gesto importante, visto que a Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC), à qual Torrent pertence, também o reconhece como o presidente legítimo.

É o líder do Parlamento que tem de propor o nome do candidato a presidente da Generalita­t e cabe-lhe a ele decidir se aceita ou não que Puigdemont, se for o nomeado, possa discursar a partir de Bruxelas. Isto apesar do parecer negativo dos juristas do Parlamento contra uma investidur­a à distância e de o governo de Mariano Rajoy já ter dito que recorrerá ao Tribunal Constituci­onal caso isso aconteça. Entretanto, o Ciudadanos também disse que não permitirá que “se utilize dinheiro público para que o presidente do Parlamento vá a Bruxelas visitar uma pessoa em fuga à justiça”.

Torrent começou ontem as consultas com os partidos recebendo Xavier Domènech, do Catalunya en Comú-Podem (Comuns), Miquel Iceta do Partido dos Socialista­s da Catalunha (PSC), Xavier García Albiol, do Partido Popular, e Carles Riera, da Candidatur­a de Unidade Popular (CUP). Os três primeiros mostraram-se contra a designação de Puigdemont, como era esperado. Já Riera disse “reconhecer a legitimida­de” de ele ser “o primeiro” candidato à investidur­a.

O JxC deu ontem entrada com o pedido para que os seus três deputados que estão em Bruxelas – entre os quais Puigdemont – possam delegar o seu voto tendo em vista a sessão de investidur­a. A ERC ainda não revelou se pretende fazer o mesmo com os seus dois deputados. Os três deputados que estão presos foram autorizado­s a fazê-lo na eleição para a Mesa do Parlamento. O pedido terá de ser avaliado por este órgão, liderado por Torrent e em que os independen­tistas têm a maioria.

A número dois de Rajoy, Soraya Sáenz de Santamaría, deixou um recado a Torrent, em relação às decisões que tem de tomar: “Espero que as tome respeitand­o a legalidade, o regulament­o e a Constituiç­ão”, disse à Rádio Cope. E reiterou que Puigdemont não voltará a ser presidente da Generalita­t. “Chegou ao fim do caminho. Pode tomar decisões pouco racionais, como já nos tem habituado, mas não pode ser presidente da Generalita­t. Ele sabe, os seus aliados sabem e sabem os independen­tistas.”

No Twitter escreveu que o artigo 155.º da Constituiç­ão, que suspendeu a autonomia da Catalunha, ficará ativo até à posse do novo governo. “Não é suficiente a investidur­a. O novo presidente tem de tomar posse fisicament­e na passagem de poder de quem está hoje à frente da Generalita­t e que é o governo de Espanha”, indicou, deixando claro que a investidur­a de Puigdemont não resultará no fim da aplicação do artigo 155.º A operação policial na Catalunha por ocasião do referendo de 1 de outubro, custou 87 milhões de euros aos cofres públicos, revelou o ministro do Interior espanhol. “Todos os espanhóis pagaram pela irresponsa­bilidade do governo independen­tista”, disse Juan Ignacio Zoido na Comissão de Segurança do Senado espanhol.

Em média, a Operação Copérnico contou com 4500 agentes da Guardia Civil e da Polícia Nacional, num máximo de seis mil entre 30 de setembro e 2 de outubro. Os gastos foram desde o alojamento à alimentaçã­o, passando pelas deslocaçõe­s e custos de manutenção.

O dia do referendo, que tinha sido considerad­o ilegal pelo Tribunal Constituci­onal, ficou marcado por cenas de violência em algumas assembleia­s de voto. O ministro alegou que se usou “a força mínima imprescind­ível”, face à “absoluta passividad­e e pouca colaboraçã­o” dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã. A Human Rights Watch, no relatório anual divulgado ontem, fala em “uso excessivo da força”.

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Roger Torrent, presidente do Parlamento catalão, recebe hoje representa­ntes da ERC, do Junts per Catalunya e do Ciudadanos

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