Torrent não afasta hipótese de ir falar com Puigdemont a Bruxelas
Novo líder do Parlamento catalão está em consultas com os partidos antes de indicar quem é o candidato a presidente da Generalitat. Junts per Catalunya pediu para Puigdemont delegar o seu voto na sessão de investidura
O novo presidente do Parlamento catalão, que deve concluir hoje as consultas com os partidos tendo em vista a designação do candidato a presidente da Generalitat, não afastou ontem a hipótese de viajar até Bruxelas para se reunir com Carlos Puigdemont. “Faremos todas as conversações e veremos quem é o candidato que suscita maior consenso. Se esse candidato for Puigdemont, temos que ver como o fazemos”, indicou Torrent às rádios catalãs. Questionado sobre se iria a Bruxelas falar com ele, disse que “falaremos com ele” e, pressionado para saber se o faria na capital belga, respondeu: “Veremos, veremos.”
No Parlamento catalão, a porta-voz do Junts per Catalunya (JxC) e antiga braço direito do líder da Generalitat, Elsa Artadi, deu como confirmado o encontro entre Puigdemont e Torrent em Bruxelas. Segundo o jornal El Periódico, o encontro será à margem das reuniões que o líder do Parlamento está a ter com os diferentes partidos. Contudo, ao site ElNacional.cat o gabinete de Torrent não confirmou o encontro e fontes ligadas a Puigdemont indicam que o ex-presidente não o pediu pessoalmente, tendo a proposta partido do grupo parlamentar. Para o JxC seria um gesto importante, visto que a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), à qual Torrent pertence, também o reconhece como o presidente legítimo.
É o líder do Parlamento que tem de propor o nome do candidato a presidente da Generalitat e cabe-lhe a ele decidir se aceita ou não que Puigdemont, se for o nomeado, possa discursar a partir de Bruxelas. Isto apesar do parecer negativo dos juristas do Parlamento contra uma investidura à distância e de o governo de Mariano Rajoy já ter dito que recorrerá ao Tribunal Constitucional caso isso aconteça. Entretanto, o Ciudadanos também disse que não permitirá que “se utilize dinheiro público para que o presidente do Parlamento vá a Bruxelas visitar uma pessoa em fuga à justiça”.
Torrent começou ontem as consultas com os partidos recebendo Xavier Domènech, do Catalunya en Comú-Podem (Comuns), Miquel Iceta do Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC), Xavier García Albiol, do Partido Popular, e Carles Riera, da Candidatura de Unidade Popular (CUP). Os três primeiros mostraram-se contra a designação de Puigdemont, como era esperado. Já Riera disse “reconhecer a legitimidade” de ele ser “o primeiro” candidato à investidura.
O JxC deu ontem entrada com o pedido para que os seus três deputados que estão em Bruxelas – entre os quais Puigdemont – possam delegar o seu voto tendo em vista a sessão de investidura. A ERC ainda não revelou se pretende fazer o mesmo com os seus dois deputados. Os três deputados que estão presos foram autorizados a fazê-lo na eleição para a Mesa do Parlamento. O pedido terá de ser avaliado por este órgão, liderado por Torrent e em que os independentistas têm a maioria.
A número dois de Rajoy, Soraya Sáenz de Santamaría, deixou um recado a Torrent, em relação às decisões que tem de tomar: “Espero que as tome respeitando a legalidade, o regulamento e a Constituição”, disse à Rádio Cope. E reiterou que Puigdemont não voltará a ser presidente da Generalitat. “Chegou ao fim do caminho. Pode tomar decisões pouco racionais, como já nos tem habituado, mas não pode ser presidente da Generalitat. Ele sabe, os seus aliados sabem e sabem os independentistas.”
No Twitter escreveu que o artigo 155.º da Constituição, que suspendeu a autonomia da Catalunha, ficará ativo até à posse do novo governo. “Não é suficiente a investidura. O novo presidente tem de tomar posse fisicamente na passagem de poder de quem está hoje à frente da Generalitat e que é o governo de Espanha”, indicou, deixando claro que a investidura de Puigdemont não resultará no fim da aplicação do artigo 155.º A operação policial na Catalunha por ocasião do referendo de 1 de outubro, custou 87 milhões de euros aos cofres públicos, revelou o ministro do Interior espanhol. “Todos os espanhóis pagaram pela irresponsabilidade do governo independentista”, disse Juan Ignacio Zoido na Comissão de Segurança do Senado espanhol.
Em média, a Operação Copérnico contou com 4500 agentes da Guardia Civil e da Polícia Nacional, num máximo de seis mil entre 30 de setembro e 2 de outubro. Os gastos foram desde o alojamento à alimentação, passando pelas deslocações e custos de manutenção.
O dia do referendo, que tinha sido considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional, ficou marcado por cenas de violência em algumas assembleias de voto. O ministro alegou que se usou “a força mínima imprescindível”, face à “absoluta passividade e pouca colaboração” dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã. A Human Rights Watch, no relatório anual divulgado ontem, fala em “uso excessivo da força”.