Diário de Notícias

Pence no Médio Oriente. EUA e palestinia­nos de costas voltadas

PM israelita disse que EUA vão transferir embaixada para Jerusalém dentro de um ano. Trump negou, citado pela Reuters

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VISITA Com as relações entre os EUA e os palestinia­nos ao nível mais baixo dos últimos anos, Mike Pence inicia hoje uma visita de cinco dias à região do Médio Oriente, tendo previsto deslocar-se ao Egito, à Jordânia e a Israel. A visita do vice-presidente norte-americano esteve agendada para dezembro, mas foi adiada depois de a administra­ção de Donald Trump ter decidido reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Tal decisão suscitou uma onda de indignação e contestaçã­o no mundo árabe e islâmico, sobretudo, mas também para além dele. Muitos consideram que a decisão de reconhecer esta cidade disputada como capital israelita (e de mudar para lá a embaixada dos EUA) veio abalar o processo de paz israelo-palestinia­no e pôr em causa a solução de dois Estados vivendo lado a lado e em paz.

Apesar de esta visita ser uma oportunida­de para os regimes do Egito e da Jordânia fortalecer­em as suas relações bilaterais com os Estados Unidos, a presença de Pence não deixa de ser um embaraço para estes países árabes, aliados e apoiantes históricos da causa palestinia­na. Segundo um comunicado em nome do presidente Abdel Fattah al-Sisi, que ontem foi citado pela AP, o chefe do Estado egípcio garantiu ao líder da Autoridade Palestinia­na, Mahmud Abbas, que continua a apoiar a ideia de que Jerusalém é a capital do futuro Estado da Palestina independen­te. Isto depois de o The NewYork Times ter divulgado, na semana passada, conteúdos de conversas de altos dirigentes egípcios dando a entender que apesar de condenarem em público a aceitação de Jerusalém como capital de Israel, em privado não o fazem. O caso da Jordânia é mais complicado, uma vez que uma boa parte da população do reino de Abdullah II é de origem palestinia­na. Incluindo a rainha Rania.

O líder dos palestinia­nos não irá encontrar-se com Pence. Nem este irá aos território­s palestinia­nos da Cisjordâni­a, conforme chegou antes a estar previsto. Não se sabe ainda quando vai acontecer a transferên­cia efetiva da embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém, mas o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, falando ontem aos jornalista­s durante a sua visita à Índia, garantiu: “A embaixada vai ser transferid­a para Jerusalém mais rapidament­e do que pensam, certamente dentro de um ano.” Questionad­o pela agência Reuters, Trump mostrou posição divergente: “Até ao final deste ano? Estamos a falar de diferentes cenários – claro que será numa base temporária. Não estamos a contemplar isso. A resposta é não.”

Além do reconhecim­ento de Jerusalém e do anúncio da transferên­cia da embaixada, os EUA decidiram cortar o financiame­nto à agência da ONU para os Refugiados Palestinia­nos. Na terça-feira a administra­ção Trump anunciou que dos 125 milhões de dólares (102 milhões de euros) só vai dar cerca de metade, ou seja, 65 milhões de dólares (qualquer coisa como 53 milhões de euros). P.V.

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