Diário de Notícias

Começa hoje ciclo dedicado à coreógrafa Tânia Carvalho em três salas de Lisboa, com duas estreias e sete remontagen­s

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MARIA JOÃO CAETANO Tânia começou a aprender ballet em criança, com 5 anos, em Viana do Castelo. “Foi a minha mãe que escolheu mas foi uma boa escolha”, conta. Depois teve dúvidas. Foi para artes plásticas e só depois voltou a estudar dança e coreografi­a, pelo meio também música e piano. Não se lembra de alguma vez ter querido ser bailarina, com tutus e coque na cabeça. Também nunca teve vontade “de pertencer a uma companhia ou de trabalhar com este ou aquele”: “Gosto muito de dançar mas é dançar as minhas peças, as dos outros só gosto às vezes. Dançar, na verdade, nunca dancei muito. Sempre quis ser criadora. O que eu gosto mesmo é de criar coisas, em dança e não só.”

A explicação surge em frases curtas, poucas palavras, muitas hesitações. Tânia tem 41 anos e não gosta muito de falar sobre o seu trabalho, prefere que seja o trabalho a falar por si. E assim será. Assinaland­o os 20 anos de carreira da coreógrafa, os teatros municipais Maria Matos e São Luiz e a Companhia Nacional de Bailado (CNB) apresentam a partir de hoje e até início de março, em Lisboa, nove peças de Tânia Carvalho. São quase todas reposições e remontagen­s, há apenas duas estreias (o filme Um Saco e Uma Pedra – Peça de Dança para Ecrã, e S, peça feita para a CNB). Em nenhuma delas iremos vê-la a dançar. Mas poderemos vê-la a tocar piano (em De Mim não Posso Fugir, Paciência).

“Não sei exatamente quando se assinalam os 20 anos. Em 1997 entrei para o coletivo Bomba Suicida mas quando estava a estudar no Fórum Dança já fazia imensas coisas. Uma pessoa tem esta vontade de ser criadora e começa a fazê-lo logo desde o início, desde que começa a estudar, ou antes até, não há essa fronteira entre intérprete e criadora.” Mesmo sem ter certezas sobre a efeméride, este pareceu-lhe um bom pretexto para apresentar de novo algumas peças de que gosta bastante. A mais antiga será De Mim não Posso Fugir, Paciência, que é de 2008, e a mais recente Doesdicon, que se estreou no ano passado pelo Grupo Dançando com a Diferença.

Programar o ciclo e remontar estas peças obrigou-a a olhar para trás. Sem dramas. “Na verdade eu nunca deixei de olhar”, diz. “Não é que esteja sempre a pensar nas coisas que fiz, mas elas estão cá. Não houve nenhuma surpresa, não há nada que eu não soubesse. As peças que fui fazendo estão presentes em mim, não fisicament­e presentes nem de uma forma ativa, mas estão ali.” E ainda: “Não há nada que eu faça de que não gosto. Se não gostar, não mostro. Com o tempo as coisas mudam, posso já não estar no mesmo sítio, mas naquela altura fazia sentido. Por isso acho que gosto de todas as peças e não me importo de as mostrar.”

O ciclo começa com Icosaehdro­n, uma das suas peças mais conhecidas, por ter 20 intérprete­s em palco. “Os grupos grandes são um desafio matemático, eu adoro estar a fazer esquemas. Para além do movimento, a estrutura da peça é muito importante para mim.” Ao contrário de muitos outros coreógrafo­s, Tânia Carvalho não trabalha a partir de improvisaç­ões. Gosta de planear as coreografi­as fazendo desenhos, imaginando formas, e depois diz aos bailarinos aquilo que quer: Mais do que bailarina, Tânia Carvalho é acima de tudo uma criadora

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