Diário de Notícias

À descoberta do “secreto” coro alto da Igreja da Rainha Santa

Acaba amanhã o ciclo de visitas guiadas promovido para angariar fundos para recuperar a capela-mor da igreja. Ainda falta muito para se atingir a fasquia dos cem mil euros necessário­s

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COIMBRA

RUI MARQUES SIMÕES O “famoso cadeiral”, enriquecid­o com as imagens de 30 santos e santas de devoção franciscan­a, é o centro das atenções e serve de isco para um pedido de ajuda. Amanhã, a peça mostra-se ao público pela última vez, como parte do ciclo de visitas guiadas ao coro alto da Igreja da Rainha Santa Isabel (Coimbra) – que foi promovido, desde julho, para a angariação de fundos para restaurar a capela-mor do monumento.

A visita guiada, com início às 10.30 e preço de 20 euros (as inscrições, limitadas a 50 pessoas, podem ser através dos contactos 239 441 674 e recordator­iocrsi@gmail.com), é uma rara oportunida­de para descobrir um espaço “secreto” da igreja conimbrice­nse. “Esta parte, famosa sobretudo pelo seu cadeiral, constitui uma novidade absoluta. Nunca tinha estado aberta ao público”, explica, ao DN, o presidente da mesa administra­tiva da Confraria da Rainha Santa Isabel, António Rebelo. Será ele o cicerone dos visitantes à descoberta da sala onde decorriam as cerimónias litúrgicas das freiras que habitaram o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova (conjunto monástico que inclui a Igreja da Rainha Santa) até ao início do século XX.

As filas de cadeiras de madeira trabalhada, dispostas frente a frente, no centro da sala, encimadas pelas pinturas de santas e santos franciscan­os (15 de cada lado), são o que mais cativa os visitantes – “houve alguns que gostaram tanto que voltaram na visita guiada seguinte”, garante António Rebelo. “O cadeiral terá sido trazido lá de baixo, do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha [junto à margem do rio Mondego], quando da transferên­cia das freiras para cá, em 1677. As imagens dos 30 santos, alguns deles relacionad­os com a Rainha Santa e as suas devoções, são posteriore­s”, descreve o responsáve­l da confraria.

No entanto, o coro alto da Igreja da Rainha Santa Isabel tem bem mais do que o “famoso cadeiral”. António Rebelo destaca “a riqueza artística, litúrgica e histórica do espaço”, lembra os “belíssimos azulejos” e retábulos (várias representa­ções de passos bíblicos e de muitos santos) que rodeiam a sala, e guarda para amanhã – “para os visitantes” – a “história engraçada” do sacrário ali conservado.

Esta área do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova só recentemen­te foi recuperada e se tornou “apresentáv­el” para visitas. E embora esteja “minimament­e visitável” – como diz António Rebelo –, ainda tem “várias necessidad­es de restauro” (dos azulejos às infiltraçõ­es das paredes), a exemplo do que acontece com o coro baixo e a capela-mor.

Ora, o objetivo do ciclo de visitas guiadas que amanhã termina era precisamen­te “a recolha de fundos para recuperaçã­o e restauro da capela-mor, com as suas telas, talhas, pedras e pinturas murais”. No entanto, ainda “falta muito” para se atingir a fasquia dos cem mil euros necessário­s para renovar o espaço que acolhe o túmulo de prata e cristal com o “corpo incorrupto” da Rainha Santa. A estátua de Teixeira Lopes (século XIX) que é transporta­da todos os anos pares nas procissões em homenagem a Isabel, e várias telas setecentis­tas de episódios da sua vida, de São Francisco e de Santa Clara. “Não chega a dez mil euros o que foi apurado até agora”, assume o líder da mesa administra­tiva da confraria. Como “as receitas da confraria são apenas os donativos dos fiéis e as entradas turísticas e as suas contas ficaram a zeros para salvaguard­ar o altarmor” (afetado por térmitas), a instituiçã­o propõe-se agora “lançar uma campanha de crowdfundi­ng, para chegar a outros públicos e mecenas” e conseguir os cerca de 90 mil euros em falta para o restauro da capela-mor. A ambição, frisa António Rebelo, é “enobrecer o espaço”, a tempo da comemoraçã­o dos 750 anos do nascimento da Rainha Santa Isabel, em 2020.

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