12 anos de Seixal vão dar lucro de 206 milhões
Embaló, de partida para o RB Leipzig, por uma verba que pode chegar aos 20 milhões, é o último a ser negociado. Renato Sanches continua a ser o talento made in Seixal que mais rendeu
O Benfica prepara-se para vender mais uma joia da formação num negócio milionário. Úmaro Embaló, de apenas 16 anos, vai rumar ao RB Leipzig, da Bundesliga, numa transferência que poderá chegar aos 20 milhões de euros. Desde a construção do centro de estágio no Seixal, em 2006, têm sido vários os jogadores da formação vendidos por valores elevados. E a consumar-se a saída de Embaló, a SAD benfiquista atinge os 206 milhões de lucro nos últimos 12 anos.
O lucro até poderia ter sido maior, dado que, no total das transferências, o Benfica superou os 252 milhões de euros. No entanto, em alguns casos, os encarnados não detinham a percentagem total dos passes dos jogadores e em todos eles tiveram também de pagar comissões a intermediários. Contas feitas, quase 47 milhões nestas despesas. Ainda assim valores recordes em Portugal nos últimos anos.
Estas contas contabilizam vendas feitas desde 2006, quando foi construída a Caixa Futebol Cam- pus, no Seixal. Nomes como Nélson Semedo e Oblak, que renderam muito dinheiro aos cofres da Luz, não entram nesta contabilidade, pois o defesa e o guarda-redes não realizaram qualquer jogo nas equipas de formação. Ambos, refira-se, foram vendidos por 46,5 milhões (30,5 e 16, respetivamente), o que poderia fazer que as águias em 12 anos chegassem quase aos 300 milhões de euros em apenas 24 transferências.
Saliente-se também que outras verbas podem ser acrescentadas a estes valores, pois foram muitos os jovens que o Benfica emprestou a diversos clubes, tanto nacionais como estrangeiros, e normalmente estas cedências acarretam custos ao clube de destino. Os encarnados, contudo, nunca oficializaram as verbas destes negócios.
Vendas são “necessárias”
Já por diversas vezes que jovens com 16 anos ou menos deixaram clubes como Benfica, FC Porto ou Sporting para rumarem a alguns dos principais emblemas europeus. Mas o caso de Embaló é o primeiro a atingir números desta dimensão. Invulgares para a idade, mas “necessários”. Quem o diz é Gaspar Ramos, antigo diretor de futebol dos encarnados na década de 90.
“É uma grande venda, não tenham dúvidas. É um jovem de 16 anos, que poderá até ser um novo Cristiano Ronaldo, tem muito valor, mas não sabemos o dia de amanhã. Hoje em dia os jovens perdem-se muito facilmente, sobretudo se não forem bem acompanhados. E os clubes portugueses precisam de dinheiro no presente, não podem estar à espera que ele renda mais dentro de alguns anos. Ele tem 16 anos e 20 milhões para um jogador dessa idade, para um clube português, é irrecusável”, começou por salientar.
Olhando a alguns casos de jogadores da formação que o Benfica vendeu, e levando em conta que alguns depois se transferiram para outros clubes, por quantias ainda mais elevadas, casos Bernardo Silva (50 milhões de euros do Mónaco para o Manchester City), André Gomes (saiu do Valência para o Barcelona por 35) ou até Gonçalo Guedes, de quem se diz poder sair do PSG por 70 M, os encarnados poderão ter perdido uma oportunidade de rentabilizar mais os seus ativos, dado que saíram muito novos da Luz. Gaspar Ramos, contudo, entende a política da SAD liderada por Luís Filipe Vieira.
“O Benfica não pode pensar em valorizar apenas um ou dois jogadores. Tem de valorizar um plantel. E nesse sentido é o que tem estado a fazer. É claro que os jovens merecem oportunidades, mas para vencer títulos é preciso é experiência. E para ter jogadores experientes é necessário vender. Se apareceram propostas de milhões por jovens que ainda não tinham provado muito ao mais alto nível, têm de ser aceites para depois usar esse dinheiro para apetrechar um plantel, para que a equipa se valorize toda, com títulos, e depois cinco ou seis sejam vendidos por muitos milhões e não apenas um”, disse o ex-diretor desportivo, dando o exemplo de Bernardo Silva.
“Agora é fácil falar do Bernardo, que deu um salto enorme para o Manchester City. Mas quando foi vendido ao Mónaco, apesar de tudo o que se falava dele, foi uma grande transferência. Vejam-se os jogadores que saíram de Portugal com 20 anos por essa verba. Claro que o Benfica gostava de o manter na equipa, mas nessa altura certamente que seria necessária verba para contratar jogadores mais experientes. Mas não se pense que com esta política o Benfica deixa de apostar em jovens. Bem pelo contrário! O clube vende um ou dois e sobem outros tantos das camadas jovens ou da equipa B para a principal”, concluiu Gaspar Ramos.
A transferência mais cara foi a de Ederson, para o Manchester City, a troco de 40 milhões. Contudo, águias só tinham metade do passe