Diário de Notícias

Guerra aberta com a Saúde: já há funcionári­os a sair do Infarmed

Segundo Maria do Céu Machado, o anúncio da ida para o Porto e a espera que se vai prolongar até junho estão a afetar atividade

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SUSETE FRANCISCO O anúncio da deslocaliz­ação do Infarmed para o Porto está a afetar o normal funcioname­nto da instituiçã­o e já está a motivar a saída de trabalhado­res. Segundo a presidente da instituiçã­o, Maria do Céu Machado, que ontem foi ouvida no Parlamento, desde o início do ano já houve 20 pedidos de saída de funcionári­os.

A responsáve­l do Infarmed referiu-se, em específico, ao facto de a decisão final depender agora do resultado de um grupo de trabalho que vai apresentar um relatório sobre a viabilidad­e da mudança até final de junho. “É difícil continuarm­os o trabalho normal pensando que vamos estar seis meses sem saber o que vai acontecer”, disse aos deputados, acrescenta­ndo que há uma “enorme ansiedade” na agência. Apontando a recusa expressa por 92% dos trabalhado­res, que rejeitaram a mudança anunciada pelo ministro da Saúde em novembro, a responsáve­l lembrou estudos que defendem que uma instituiçã­o demora cinco a dez anos a recompor-se de uma saída dos trabalhado­res que ultrapasse 65% dos efetivos. Custos “não serão pequenos” Na audição, que resultou de um requerimen­to do PSD, Maria do Céu Machado não deixou dúvidas: “Não é possível transferir” o Infarmed sem enormes impactos na atividade da Autoridade Nacional do Medicament­o, não só em termos de recursos humanos, mas de custos financeiro­s, que “não serão pequenos”. A responsáve­l deu um exemplo: “O nosso laboratóri­o, que dá apoio a todos os outros serviços, custou 48 milhões de euros.” Para a presidente do Infarmed, a transferên­cia anunciada por Adalberto Campos Fernandes vai “prejudicar a saúde dos portuguese­s e o acesso à inovação a que têm direito”.

Sustentand­o que a interdepen­dência entre os vários serviços do Infarmed é “brutal”, Maria do Céu Machado defendeu que uma divisão do Infarmed – ficando alguns serviços no Porto e outros em Lisboa – é impossível de concretiza­r. Em vez disso sugere a transferên­cia de algumas áreas concretas, caso de “toda a área de dietética e suplemento­s alimentare­s”, assim como de “áreas de desenvolvi­mento que já estavam a ser programada­s”, como a agência de investigaç­ão biomédica. E ainda uma terceira via de descentral­ização: “Um grande centro de farmacovig­ilância no Porto”, que ficaria responsáve­l por toda a região norte. Independen­tes... ou nem tanto Na perspetiva da presidente do Conselho Diretivo (CD) do Infarmed, todo o processo só teria a ganhar se o CD e os trabalhado­res estivessem representa­dos no grupo de trabalho que está a a estudar a viabilidad­e da mudança. Não foi esse o entendimen­to do ministro da Saúde, com o argumento da autonomia e independên­cia do grupo. Argumentos que Maria do Céu Machado contesta – “dois terços [dos 27 elementos do grupo de trabalho] são peritos nas várias comissões que o Infarmed tem”. Ou seja, têm um “contrato escrito e recebem do Infarmed”.

Defendendo que qualquer decisão que venha a ser tomada será “muito mais difícil” se os trabalhado­res não forem envolvidos no processo, a responsáve­l da instituiçã­o reiterou que não foram dados argumentos que mostrem que a transferên­cia para o Porto será uma mais-valia para a instituiçã­o.

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