Diário de Notícias

Advogados queixam-se que despesas absorvem todo o rendimento

Advogados e solicitado­res marcharam contra um regime contributi­vo que não lhes dá apoio na doença ou na gravidez

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Centenas de advogados, solicitado­res e agentes de execução desfilaram ontem do Rossio (na foto) até ao Ministério da Justiça

RUTE COELHO Ana Paiva e Georgina Rodrigues, duas jovens advogadas de Leiria que lutam para pagar ao final do mês, em conjunto, as despesas do escritório que alugaram naquela cidade vieram ontem a Lisboa engrossar a marcha silenciosa que levou centenas de “togas negras” em protesto desde a sede da Caixa de Previdênci­a dos Advogados, Solicitado­res e Agentes de Execução (CPAS, no Largo de São Domingos, até ao Ministério da Justiça, no Terreiro do Paço.

Contra o regime contributi­vo em vigor, que obriga a maioria destes profission­ais liberais a pagar 243,60 euros por mês (a partir deste ano) para a CPAS (Caixa), as leirienses Ana e Georgina, ambas com 29 anos, descrevera­m ao DN como é difícil chegar ao final do mês sem sufocar. “Ainda não temos mais de quatro anos de profissão pelo que pagamos o CPAS no segundo escalão, que é de 60 euros mensais cada. Somos três sócias no escritório. Mas as despesas fixas, incluindo a renda do escritório de 180 euros, os portáteis, a impressora, água e luz, ascendem a centenas de euros. Cada uma tem de usar o seu carro. E já poupamos em não ter um único funcionári­o”, contou Ana Paiva. “A verdade nua e crua é que ao fim do mês não temos lucro nenhum.”

O que as jovens advogadas querem é “isenção de pagar o regime contributi­vo” quando ainda estão a começar a atividade. E contributo­s mais suaves do que os atuais para a CPAS. Quando o DN perguntou como era para os profission­ais em início de carreira com família própria, Ana Paiva não escondeu o espanto: “Advogados com menos de 30 anos a terem filhos? Quase não há.” Com outro desafogo financeiro, a solicitado­ra Luísa Patrão, de 49 anos, de Lisboa, é, no entanto, das mais reivindica­tivas. “Tenho a cargo quatro funcionári­os. As minhas despesas fixas são de 10 mil euros, entre salários, renda de escritório, etc.” Luísa justifica as despesas com os “muitos processos de execução” que tem. A contribuiç­ão da profission­al é de 243,60 euros (a partir de janeiro). “Eu tenho de agradecer à Segurança Social o facto de nestes 23 anos me pagar os medicament­os. Porque em qualquer hospital onde eu vá com o meu cartão da CPAS ninguém o reconhece em lado nenhum”, sublinhou, com uma nota de ironia.“Eu tive um acidente de viação há um ano que me obrigou a ficar três meses em casa mas tive de continuar a pagar CPAS. Mas não tenho direito a baixa.” Luísa padece também de uma doença crónica há 15 anos, a fibromialg­ia (fadiga crónica), mas não tem qualquer assistênci­a na doença através da CPAS. “Optei por ter um seguro de saúde e recorrer a médicos particular­es.”

A advogada CristinaVi­lar Santos, 53 anos, de Lisboa, uma das mobilizado­ras do movimento, critica o regime contributi­vo porque “presume que a maior parte dos profission­ais recebe dois salários mínimos por mês o que não é verdade”.

O Ministério da Justiça (MJ) esclareceu que “a sustentabi­lidade do CPAS está ameaçada por dívidas relativas a contribuiç­ões de associados que, em 2017, ascenderam a 132 milhões de euros” e que por opção da Caixa “não foi promovido o pagamento coercivo”. O MJ está a analisar uma proposta avançada pela CPAS, juntamente com os ministério­s do Trabalho, Solidaried­ade e Segurança Social.

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