Diário de Notícias

Críticos do PS têm em Rio um aliado

Consensos. O líder eleito do PSD não é favorável a medidas que imponham a exclusivid­ade dos deputados. Rio tem sido um crítico da moralizaçã­o demagógica e populista da vida política

- PAULA SÁ

O líder do PSD tem-se oposto à moralizaçã­o demagógica da vida política e rejeita que se imponha exclusivid­ade aos deputados. Até medidas como o limite a presentes que titulares de cargos públicos podem

aceitar devem ser revistas nas conversas entre PSD e PS.

Os deputados do PS críticos do pacote da transparên­cia, em particular das propostas socialista­s que reforçam as incompatib­ilidades dos membros da Assembleia da República, têm um aliado no líder eleito do PSD. Rui Rio pediu a suspensão dos trabalhos da comissão eventual sobre o reforço da transparên­cia dos cargos públicos, e o PS aceitou prontament­e, porque quererá refletir sobre as propostas da sua própria bancada e porque discorda de muitas das ideias da esquerda, entre as quais a de um regime de exclusivid­ade ou quase exclusivid­ade dos deputados

Esta é, aliás, uma da das áreas, a da transparên­cia no exercício dos cargos públicos, em que Rio defende uma maior abrangênci­a possível na alteração à legislação atual. Com o novo líder do PSD já em funções, a partir de meados de fevereiro, após o congresso, a bancada do PSD estará disponível para rever e discutir todas as propostas com as outras bancadas, em particular com a socialista (ver texto ao lado).

O DN sabe que Rui Rio é contra, entre outras coisas, as medidas que restringem ao máximo as atividades que os deputados podem exercer, porque limitam a diversidad­e e a qualidade na política. Ora essa foi precisamen­te uma das críticas feitas pelo deputado socialista Sérgio Sousa Pinto e que foi fortemente aplaudido pelos pares nas jornadas parlamenta­res do PS.

Alguns deputados do PSD, como Paula Teixeira da Cruz e até o presidente da comissão eventual sobre a matéria, Fernando Negrão, juntaram a voz às reticência­s dos socialista­s.

Uma das propostas mais polémicas – porque muitos dos deputados são juristas ou advogados –, apoiada por toda a esquerda, é da impossibil­idade de os advogados litigarem contra (o que já não podiam) e a favor do Estado, tal como as sociedades a que pertencem. Esta a abrangênci­a também não será do agrado do líder eleito do PSD, que ao longo dos anos tem vindo a bater-se contra “medidas demagógica­s e populistas”, que a médio prazo ainda descredibi­lizam ainda mais os atores políticos.

Rui Rio foi um crítico acérrimo do pacote de transparên­cia apresentad­o por Fernando Nogueira, o então sucessor de Cavaco Silva na presidênci­a do PSD, em 1995. Um pacote que já apontava para a moralizaçã­o da vida política e para um regi- me de incompatib­ilidades mais apertado. Na altura, o vice-presidente da bancada, Pacheco Pereira, demitiu-se contra o processo e o conteúdo das alterações por as considerar populistas.

Rui Rio, que tem demonstrad­o ser consistent­e no que tem defendido sobre este assunto, só dará aval a um entendimen­to com os socialista­s se o novo pacote da transparên­cia for nesse sentido do reforço da credibiliz­ação da classe política.

A Visão recuperou há pouco tempo declaraçõe­s de Rui Rio sintomátic­as do que pensa: “Há cada vez menos gente séria e competente a querer entrar para uma espécie de selva onde vale tudo e onde quem é honesto é tratado como quem não o é, senão mesmo de forma ainda pior. Nada mais será de esperar quando, muitas vezes, são os próprios dirigentes partidário­s que, de forma muito pouco séria, abraçam a postura demagógica, e são eles próprios que, para caírem na boa graça do populismo mais primário, tomam medidas de punição irracional sobre a dita classe política.”

E concluía: “Estamos, pois, a colher os resultados deste procedimen­to irresponsá­vel. Um alheamento geral da política, uma fraquíssim­a capacidade de recrutar os melhores para cargos de enorme responsabi­lidade e um país rendido à vontade dos seus credores que paulatinam­ente vão tomando posse dos nossos ativos. É este o resultado! Uma reforma do regime tem de começar, em primeiro lugar, pelo reforço e pela credibiliz­ação do poder político. Tem de perceber que a política é uma atividade de enorme nobreza e que exige que nela atuem os mais capazes, os mais sérios e os mais competente­s. Sem começar por aqui, nada se conseguirá construir de forma sustentada e duradoura.”

Até medidas como as dos limites às prendas que os titulares de cargos públicos poderão receber – de 150 euros – deverão ser revisitada­s em futuras conversaçõ­es entre PSD e PS. O líder eleito do PSD tem dado nota de que tudo o que acompanhe a ideia instalada na sociedade de que os políticos são corruptos só ajuda a acentuar e perpetuar essa perceção. Tal como manifestou dúvidas quanto à possibilid­ade de legislar sobre o enriquecim­ento ilícito. O PSD, que viu chumbados pelo Tribunal Constituci­onal dois projetos neste sentido, não tem, desta feita, qualquer proposta sobre a mesa. Mas o PS avança com medidas de aferição de eventuais disparidad­es na riqueza declarada por titulares de cargos políticos, mas pela via fiscal e evitando a inversão do ónus da prova.

Fontes do PSD ouvidas pelo DN sublinham que, aconteça o que acontecer, este dossiê já teve o mérito de demonstrar que Rui Rio terá uma postura dialogante com o PS.

Até medidas como a dos limites às prendas que os titulares de cargos públicos poderão receber deverão ser revisitada­s em futuras conversaçõ­es entre PSD e PS

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Rui Rio é um defensor de convergênc­ias no que toca a matérias de regime, como a da transparên­cia no exercício de cargos públicos, e está disposto a dialogar com o PS de António Costa

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