Perspetiva de inédito tri inglês pode servir para motivar rivais
Inglaterra parte favorita para o Torneio das Seis Nações após ter ganho em 2016 e 2017. Mas Irlanda e Escócia podem surpreender…
ANTÓNIO HENRIQUES Arranca hoje a edição 124 do Torneio das Seis Nações, a mais antiga prova do mundo entre seleções de qualquer modalidade que, criada em 1883 com as quatro seleções britânicas, viu a França juntar-se em 1910 e em 2000, com a chegada da Itália, ganhou a atual designação.
Após a longa digressão de verão de 2017 dos British and Irish Lions à Nova Zelândia – que obrigou um vasto lote dos melhores jogadores das quatro seleções britânicas a um esforço extra e não permitiu, antes da época, o necessário tempo de recarga e recuperação cada vez mais exigido pelo brutal nível do râguebi atual – o torneio deste ano apresenta-se com características especiais. Para lá das inúmeras lesões (42 de habituais titulares nas seis seleções, muitas em consequência dos curtos períodos de descanso por pressão dos clubes), só agora os melhores atletas começam a entrar em forma. Aliás, não será coincidência que em três dos últimos quatro torneios realizados após anos de digressão dos Lions (2002, 2006 e 2010) tenha sido precisamente a França, não envolvida nas series, a ganhar a prova.
E tendo em vista o Mundial do Japão em 2019, esta será mesmo uma edição-charneira, com as equipas a aproveitarem para lançar jogadores e cimentar modelos de jogo que, no próximo ano, já terão de estar interiorizados.
Chegado ao comando da Inglaterra em finais de 2015, Eddie Jones levou a equipa da rosa à conquista de dois triunfos seguidos no Seis Nações, incluindo o primeiro Grand Slam em 13 anos, e a sua formação parte como favorita óbvia para aquele que seria um inédito terceiro título consecutivo. Afetado por muitas lesões de peças importantes no seu quinze e pelo mau momento dos melhores clubes ingleses – só os bicampeões europeus Saracens se qualificaram para os quartos da Taça dos Campeões – Jones conta ainda assim com um apreciável lote de jogadores que bem justificam nova candidatura.
Depois de em 2017 ter estragado a festa inglesa ao ganhar em Dublin na última ronda – não impediu o título, mas roubou o Grand Slam e impediu o recorde de 19 vitórias seguidas para a Inglaterra – a Irlanda (atual 3.ª no ranking) será a única equipa capaz de evitar o tri inglês. Baseando-se no excelente momento das províncias do Leinster e Munster na Taça dos Campeões, o conjunto de Joe Schmidt – só hoje em Paris estarão 11 Lions entre os 15 titulares – quererá vencer todos os jogos até à última jornada, quando em Londres e no fim de semana de St. Patrick’s Day, o seu dia nacional, tudo ficará resolvido.
Depois de grandes exibições na janela de outono, a Escócia, agora treinada por Gregor Townsend, poderá também ter uma palavra a dizer. Os escoceses terão estreia complicada em Cardiff, para mais sabendo que apenas venceram duas vezes na jornada inaugural nas 18 edições da prova! Mas se baterem os galeses, então o duelo com a Inglaterra para a Calcutta Cup, na 3.ª jornada, será sensacional.
Com Warren Gatland de novo ao leme (e com a reputação robustecida pela digressão empatada dos Lions) depois de, no ano passado, ter sido dispensado para a poder preparar, Gales pretende voltar a disputar os lugares cimeiros. Questionado sobre o provável vencedor da prova, o técnico neozelandês foi claro ao apontar a sua equipa. Mas com tantas lesões de jogadores essenciais, um eventual êxito seria um autêntico case study…
Tal como é a atual situação da França, que inesperadamente (ou talvez não…) trocou de treinador em dezembro, com Guy Novès a dar lugar ao também sessentão Jacques Brunel (11 vitórias em 50 jogos como responsável pela Itália, entre 2012 e 2016). Em pouco tempo o técnico já mostrou não ter medo de tomar decisões e revolucionou, convocando seis estreantes entre os 23 jogadores que hoje defrontam a Irlanda. E, apostando tudo, vai colocar como abertura Matthieu Jalibert, 19 anos, que só em novembro se estreou no top 14!
Quanto à Itália, e apesar dos esforços da sua federação, continua irregular e sem chama. Com zero triunfos nos dois últimos torneios, é de novo a grande candidata à colher de pau do último classificado.