Diário de Notícias

“Ainda esperamos clarificaç­ão da ERS”

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Para os doentes com seguros, os privados complement­am os IPO, mas muitas vezes o seguro não cobre a totalidade do tratamento e os doentes são despejados no IPO – julgo que a expressão é sua. Em 2016, pediu à Entidade Reguladora da Saúde e ao ministério clarificaç­ão sobre isto. Ela chegou? Não. Houve trabalho, a entidade reguladora pediu mais informação e suponho que estará a trabalhar a questão. Há alguma coisa a opor a que privados tratem doentes com cancro? Naturalmen­te, não. Alguma coisa a opor a que pessoas a meio do tratamento sejam deslocadas para o SNS? Não, toda a gente tem direito ao SNS. O que incomoda é a pessoa ser deslocada a meio não por opção terapêutic­a mas por uma questão financeira. É uma questão de informação às pessoas no início do tratamento. O que é expectável que aconteça? E, no fundo, quase a confirmaçã­o: “O seu plafond do seguro chegará para todo o tratamento?” Para a pessoa ter consciênci­a de que o que está a fazer é uma escolha com financiame­nto assegurado ou se se vai ver a meio numa situação de desamparo. Na altura alertava para algo importante: há muita gente à espera no público mas se chega alguém a meio do tratamento não pode esperar, ou seja, há uma violação das regras da lista de espera. O que acha que a ERS ou o próprio ministério, deviam fazer? Os bancos – não se compara com isto – estão obrigados a dizer quanto custam as comissões. Isto também deveria ser feito pelos hospitais privados? É perfeitame­nte admissível. É possível dar um orçamento de um tratamento de cancro como o de um carro? Não, mas é possível uma estimativa. Nós próprios o fazemos, quando vêm doentes do estrangeir­o a perguntar sobre as condições para serem tratados no IPO. Esses casos são isolados, raríssimos, mas acontecem. E nós dizemos: “A estimativa do que nos parece que vá ser feito é o passo A, B e C, e isso custa X.” É legítimo. O que se esperaria era que com esse documento, verificada a compatibil­idade do seguro, exigir que a entidade terminasse o tratamento e nesses moldes. (...) Responsabi­lizar os privados pelo orçamento. As estimativa­s iniciais estão sempre em aberto para um doente? Sim, talvez, mas devia haver essa prática, mesmo por respeito pelo doente. Não é para evitar que as pessoas vão para o público – estaremos a falar de 120, 150 casos por ano. Para a dimensão de todos os hospitais do SNS e dos três IPO, isso incomoda, mas não traz um prejuízo do outro mundo. É sobretudo um incómodo para as 120 ou 150 pessoas que se veem desamparad­as a meio do tratamento de uma doença que incomoda, muitas vezes catastrófi­ca, que se chama cancro e que assusta. É para proteger o interesse dessas pessoas que levantei a questão e penso que a ERS podia gastar uns dias a criar uma proposta mais responsabi­lizadora. (...)

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