Diário de Notícias

Preços subiram 30% com imposto sobre refrigeran­tes

Taxa entrou em vigor há um ano. Associação do setor diz que fez aumentar as importaçõe­s ilegais e pede isenção para as light e zero

-

LUCÍLIA TIAGO O imposto sobre os refrigeran­tes e sumos foi uma das principais surpresas fiscais do Orçamento do Estado do ano passado e as contas à nova taxa do açúcar começaram a ser feitas em fevereiro de 2017. Um ano depois, o setor regista uma quebra de vendas da ordem dos 5% nas várias categorias de produtos e um aumento de 25% a 30% nos preços de venda aos consumidor­es. E reclama a criação de um escalão isento para as bebidas zeroe light.

O balanço da Probeb – Associação Portuguesa das Bebidas Refrescant­es Não Alcoólicas dá ainda conta de que, ao incidir sobre as bebidas adicionada­s de açúcar ou de outros edulcorant­es, o novo imposto está a fazer que as empresas que produzem estas bebidas em Portugal estejam a sofrer concorrênc­ia de produtos não afetados pelo tributo e também de produtos mais baratos (nomeadamen­te das marcas do distribuid­or) ou ainda “de importaçõe­s ilícitas com origem em Espanha”.

Esta nova taxa foi incorporad­a no imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas (IABA) e passou a incidir sobre refrigeran­tes, com ou sem gás, sumos, bebidas energética­s e também sobre bebidas com reduzido teor de álcool (acima de 0,5% mas inferior a 1,2%), onde se incluem, por exemplo, a cidra ou o hidromel. Sempre que o teor de açúcar supera os 80 gramas por litro, o imposto a pagar é de 16,46 euros por hectolitro (ou 16 cêntimos por litro). Quando é inferior aos 80 gramas, a taxa é de 8,22 euros por hectolitro (ou de 8 cêntimos por litro). A estes valores há ainda a adicionar a taxa do IVA (23%).

Tudo somado, o preço final ao consumidor aumentou e as vendas retraíram-se. “No canal alimentar verificou-se um aumento de 25% a 30% no preço final, o que tem um efeito muito significat­ivo em Portugal dado o poder de compra limitado dos consumidor­es e o preço relativo destes produtos”, referiu ao DN/ /Dinheiro Vivo Francisco Furtado Mendonça, secretário-geral da Probeb.

O mesmo responsáve­l assinala ainda que a quebra no consumo não se deveu apenas à subida dos preços mas também ao impacto do novo tributo na reputação desta categoria de bebidas. Num inquérito online lançado pela Nielsen, no verão do ano passado, cerca de 60% dos consumidor­es portuguese­s revelaram ter em atenção o teor de açúcar que consta da tabela nutriciona­l das bebidas e 50% admitiu que esta informação pode influencia­r a compra.

Os dados da Nielsen sobre a evolução dos bens de grande consumo no ano passado indicam que a categoria das bebidas até foi a que mais cresceu (8,4%), o que pode encontrar justificaç­ão no facto de 2017 ter sido um ano em que os termómetro­s registaram por várias vezes temperatur­as acima do normal. Mas nem todos os produtos desta categoria (que inclui todas as bebidas) registaram esta evolução.

A quebra no consumo dos refrigeran­tes e sumos com adição de açúcar ou de outros edulcorant­es está também patente na receita que o novo imposto gerou entre fevereiro e dezembro de 2017. No Orçamento do Estado o governo registou uma previsão de 80 milhões de euros por via desta fat tax, mas o resultado foi de 69,63 milhões de euros.

Os dados facultados ao DN/Dinheiro Vivo pelo Ministério das Finanças mostram que os meses de verão (julho, agosto e setembro) foram os que resultaram em valores Um ano depois da criação do novo imposto, o setor das bebidas regista uma quebra de 5% nas vendas de receita mais elevados – sendo os únicos em que foi superada a casa dos oito milhões de euros.

Francisco Furtado Mendonça sublinha que a indústria tem feito um “grande esforço para se adaptar ao novo contexto”, através da reformulaç­ão dos produtos para redução dos teores de açúcar. Até dezembro de 2017, o peso dos produtos com mais de 80 gramas de açúcar desceu de 61% para 37,9% do volume total dos associados da Probeb. Esta adaptação, salientou, enquadra-se também no compromiss­o do setor em reduzir o teor calórico dos refrigeran­tes em pelo menos 25% até 2020. “Até ao final de 2017 já reduzimos 20%”, garante.

O secretário-geral da Probeb avisa contudo que, tal como está desenhado, o imposto sobre as bebidas açucaradas (com dois escalões de imposto acima ou abaixo de 80 gramas por litro) “não incentiva a continuaçã­o de reformulaç­ões”. É neste contexto que o setor tem defendido a criação de um escalão isento de IABA que permita a retirada das bebidas light ou zero da alçada do novo tributo. Esta estratégia, sublinha, incentivar­ia a transferên­cia do consumo para bebidas sem açúcar.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal