Diário de Notícias

De improvável a favorito na Costa Rica graças à oposição ao casamento gay

Decisão do Tribunal Interameri­cano de Direitos Humanos baralhou as contas e tornou corrida eleitoral mais incerta

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O evangélico Fabricio Alvarado cumpriment­a um eleitor na rua, na capital costa-riquenha, San José

SUSANA SALVADOR No início de janeiro, Fabricio Alvarado tinha menos de 3% das intenções de voto nas sondagens para as presidenci­ais da Costa Rica. O único deputado do Partido Restauraçã­o Nacional (PRN), cantor evangélico e jornalista, era um de 13 candidatos e parecia uma carta fora do baralho na corrida entre Antonio Álvarez, do tradiciona­l Partido de Libertação Nacional (PNL), e Juan Diego Castro, do conservado­r Partido Integração Nacional (PIN), apelidado de “Trump dos trópicos”. Mas uma decisão do Tribunal Interameri­cano de Direitos Humanos veio baralhar as contas. De improvável vencedor, Alvarado passou a favorito numas eleições em que há outros quatro candidatos com hipótese de passar hoje à segunda volta, prevista para 1 de abril.

A 9 de janeiro, o Tribunal Interameri­cano de Direitos Humanos decidiu que os seus Estados membros têm a obrigatori­edade de garantir, sem discrimina­ção, os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgéner­o e intersexua­is. A decisão caiu do céu para o candidato evangélico, que não só se mostrou totalmente contra a possibilid­ade de casamentos homossexua­is como ameaçou tirar a Costa Rica deste tribunal (cuja sede é na capital San José).

Na última sondagem, a 31 de dezembro, Alvarado surgia com 17,4% das intenções de voto, quase quatro pontos percentuai­s à frente de Álvarez. Ainda com hipóteses, já que 20% dos eleitores estão indecisos, surge também Carlos Alvarado (sem relação com Fabricio), do Partido Ação Cidadã (PAC) do presidente Luis Guillermo Solís. Este está impedido por lei de se candidatar a um segundo mandato consecutiv­o. Tem 12% de intenções de voto.

Segue-se o “Trump dos trópicos” com 8,5%. Castro é comparado ao presidente dos EUA pelo carácter imprevisív­el e discurso duro contra a criminalid­ade. Apesar de a nível regional a Costa Rica ter valores baixos de criminalid­ade, o aumento do número de homicídios (subiu de 8 para 12,1 por cem mil habitantes numa década) gera receios. Uma das suas propostas é obrigar os criminosos a construir as próprias prisões. No início do mês estava perto de 30% as intenções de voto, mas declaraçõe­s polémicas – como dizer que alguns membros do Supremo Tribunal tinham conseguido o lugar a troco de favores sexuais – provocaram a queda nas sondagens. Rodolfo Piza, do tradiciona­l Partido Unidade Social Cristã (PUSC), tem 8,3% nas intenções de voto e mantém esperanças de surpreende­r.

Desde a aprovação da Constituiç­ão de 1949 que PNL e PUSC alternavam na presidênci­a. Até às eleições de 2014, quando Solís, um académico de centro-esquerda que nunca tinha sido eleito para qualquer cargo, chegou ao poder. Foi o outsider, numa altura de crise dos partidos tradiciona­is devido aos escândalos de corrupção. Mas Solís também não conseguiu escapar aos escândalos (o “cementazo” permitia a importação de cimento à China sem custos) nem teve os resultados esperados (em parte por só ter 13 dos 57 deputados). Hoje, os mais de 3,3 milhões de eleitores renovam também o Parlamento. “Não sei em quem votar”, disse à Reuters José Esteban Ramírez, de 35 anos. “Antes escolhia o menos mau, mas agora é difícil saber qual é o pior.”

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