UKIP está em crise e a queda vai além da irrelevância pós-brexit
Já vai no seu terceiro líder no espaço de ano e meio. O fundador do partido aconselha a sua dissolução. Nigel Farage diz que este está numa altura de “reforma ou morte”
ANA MEIRELES “Como seu fundador, apenas posso sugerir que devia dissolver-se agora. Pode haver necessidade de um partido responsabilizar os conservadores sobre o brexit mas esse partido não é o UKIP. A ele falta-lhe credibilidade política e provoca risos em vez de simpatia. É tempo de ele desaparecer”, escrevia há duas semanas do The Guardian Alan Sked, o fundador do UKIP, então com o nome de Liga Anti-Federalista, em 1991.
Este desabafo surgiu por causa do escândalo em torno do líder do partido, Henry Bolton, cuja namorada fez comentários racistas sobre Meghan Markle, a noiva do príncipe Harry. Jo Marney acabou por pedir desculpas e Bolton disse que os dois iam terminar a relação, que tinha começado na altura do Natal.
Na sequência desta polémica, Bolton, líder desde setembro, saiu derrotado numa moção de censura do comité executivo nacional do partido, mas garantiu mais uma vez que não iria demitir-se da liderança. A vice, Margot Parker, abandonou o cargo devido à sua recusa.
No final da semana passada, Bolton voltou a ser notícia com a descoberta de que tinha mentido sobre o nível de qualificação que obteve na academia militar de Sandhurst. O seu destino dentro do partido será discutido numa reunião especial marcada para este mês.
Nigel Farage, líder histórico do partido (que saiu pouco depois do referendo), admitiu que o UKIP está a enfrentar um momento de “reforma ou morte”. “Se ele for liderado por um grupo de amadores, dentro de 18 meses não terá valor.”
Sob a liderança de Farage, entre 2006 e 2016 (com um interregno entre 2009 e 2010), o UKIP conquistou 12,5% dos votos nas legislativas de 2015 por causa da sua campanha anti-UE e a favor da saída do bloco comunitário. Popularidade que levou o então primeiro-ministro David Cameron a realizar o referendo sobre o brexit.
Desde a sua saída de cena, o partido entrou numa espiral de caos, em parte porque o seu principal objetivo – o Reino Unido deixar a UE – é agora a política oficial de conservadores e trabalhistas. Mas também tem sofrido uma crise de liderança. Diane James, a sua sucessora, durou uns meros 18 dias no cargo, e Paul Nuttall, o senhor que se seguiu, demitiu-se após o partido obter só 1,8% dos votos nas eleições legislativas antecipadas de junho. Agora, a liderança de Bolton está a em risco e não se avista sucessor.
Chegou a falar-se na possibilidade de Farage estar a preparar Nigel Farage abandonou a liderança do UKIP três meses após o referendo sobre a UE e no qual o brexit saiu vencedor uma nova versão do UKIP, para garantir uma separação total da UE, e que provavelmente mataria o atual partido, pois muitos dos seus militantes deveriam segui-lo. Ou até um regresso à liderança do UKIP. Há duas semanas, Farage (quase) descartou essas duas hipóteses. “Sem ideias de um novo partido, apesar do que andam a especular”, disse à Reuters. Questionado se tenciona regressar à linha da frente da vida política, respondeu: “Duvido.”
Uma das consequências desta