Diário de Notícias

“Nem tenho palavras para explicar como estou zangada”, diz. “E não é só por mim. É por todas as pessoas que foram desacredit­adas”

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(isto segundo a versão dela, Affleck nunca corroborou esta história).

Weinstein negou imediatame­nte todas as acusações e, além do depoimento de Jill Messick, que era a agente da atriz e terá sido a responsáve­l pelo encontro, apresentou ainda em sua defesa três fotografia­s tiradas em 2005 onde ambos aparecem em poses sorridente­s, sugerindo uma amizade. Mas o que Rose McGowan, hoje com 44 anos, tenta dizer, através do livro e do programa de televisão, é que na altura não teve força para combater o produtor mas agora tem.

A atriz começou a escrever Brave há três anos: “Mas de uma certa forma, tenho vindo a pensá-lo ao longo da minha vida toda.” No livro, ela conta como cresceu numa família que pertencia ao culto Crianças de Deus, na Itália, que defendia a poligamia, e como a família se mudou para os Estados Unidos quando ela tinha 10 anos. Foram os pais que a incentivar­am a tornar-se modelo e atriz. Mas a juventude revelou-se igualmente problemáti­ca. Depois do divórcio dos pais, aos 15 anos Rose McGowan emancipou-se e mudou-se para Los Angeles. Durante três anos manteve uma relação com um homem violento e houve alturas em morou na rua. Em 1992, conseguiu o seu primeiro papel num filme de Hollywood. Em 1996 ganhou um Independen­t Spirit Award para atriz revelação em The Doom Generation, de Gregg Araki.

Este passado terá sido determinan­te na decisão de não fazer queixa de Weinstein na polícia no momento em que tudo aconteceu. Tinha medo de ficar sem trabalho e de voltar para a rua. “A rua era uma sentença de morte. Sabia que se morresse seria lembrada por ter acusado o seu violador, mas não pelo meu trabalho. Mas denunciou o caso a algumas pessoas e foi constantem­ente ignorada. Ninguém queria saber.

De então para cá, a atriz diz que o facto nunca deixou de a atormentar, ao mesmo tempo que a “máquina de Hollywood” insistia em sexualizar a sua carreira, com papéis em que constantem­ente tinha de expor o corpo. A atriz acusa vários homens do meio cinematogr­áfico – incluindo os realizador­es Robert Rodriguez (com quem manteve uma relação) e Quentin Tarantino – de misoginia e de abusarem psicologic­amente dela. Foi contra tudo isto que começou a falar há uns anos. Foi uma das primeiras a fazê-lo. E também por isso foi contactada pelos advogados de Harvey Weinstein que lhe ofereceram dinheiro em troca do silêncio. “Nem tenho palavras para explicar como estou zangada”, diz, logo no início de Citizen Rose. “E não é só por mim. É por todas as pessoas que foram desacredit­adas.”

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