Nathalie Loiseau: “Eleição de Macron deu um novo sopro à Europa”
De visita a Lisboa, onde hoje participa noV Encontro Nacional de Estudantes de Ciência Política, no ISCSP, para apresentar a visão do presidente Emmanuel Macron para a UE na conferência O Futuro da União Europeia, a ministra dos Assuntos Europeus francesa, Nathalie Loiseau, falou com o DN por antecipação. Apesar de admitir “algumas divergências” com os EUA de Donald Trump, garante que é a “instabilidade do mundo” que exige “o fortalecimento da UE”. E, apesar de todas as ameaças, afirma que a Europa “é o único espaço no mundo onde as liberdades individuais, o empreendedorismo e a justiça social estão protegidas”. o qual, é verdade, temos também algumas divergências. Mas, em geral, a instabilidade do mundo, a amplitude dos desafios que enfrentamos (climáticos, digitais, de segurança ...) exige um fortalecimento da União Europeia. Exerceu funções na Embaixada de França nos Estados Unidos durante a Guerra do Iraque, em 2003. A América de Trump é muito diferente da América de George W. Bush? O mundo de 2018 é bastante diferente do de 2003. Brexit, populismo, divisões Este-Oeste – os desafios são enormes para a União Europeia. No futuro, podemos esperar uma Europa mais forte ou “muitas” Europas”? A Europa é o único espaço no mundo onde as liberdades individuais, o empreendedorismo e a justiça social estão protegidas. De facto, enfrentamos desafios consideráveis. A existência de uma Europa forte e soberana é uma das melhores respostas a esta questão. Mas a França assume plenamente que, para continuar com a refundação da Europa, será necessário mudar de método. Acreditamos que, para progredir, os avanços iniciados devem poder desenvolver-se sem serem bloqueados por países que não querem, ou ainda não podem, associar-se. Estamos comprometidos com a unidade da Europa e, ao mesmo tempo, com a possibilidade de avançar mais rapidamente, com alguns países, para projetos ambiciosos. Na verdade, isto é bom para a Europa inteira. A Catalunha ameaça desestabilizar a Espanha, vizinha da França e um Estado membro da União Europeia. Será mais um desafio para Bruxelas? E pode ter consequências em França, sobretudo na Córsega? A questão da Catalunha só pode ser considerada no contexto do Estado de direito e do respeito pela Constituição espanhola. Esta é a razão pela qual a França não reconheceu a “declaração de independência” que o anterior Parlamento catalão havia adotado. Nós temos apenas um interlocutor: o governo de Madrid. Atualmente, a Europa precisa de unidade e solidariedade e não de mais divisões. Cada situação regional tem as suas especificidades; as da Córsega conseguem ter expressão e o governo está disponível para uma discussão serena e concreta, para que o Estado e a autarquia territorial da Córsega possam responder às preocupações dos habitantes da Córsega de forma eficaz. O Presidente da República francesa está precisamente hoje na Córsega. O presidente Emmanuel Macron pretende uma França no coração da Europa. Como ministra, como tem aplicado essa ideia até agora? Em relação à visão ambiciosa de uma refundação da Europa, temo-nos esforçado por verificar que ela é partilhada pelos nossos parceiros europeus. Constatamos com satisfação que é realmente o caso. Hoje, existe um processo em andamento para a refundação da nossa União – com, nomeadamente, o lançamento da Agenda dos Líderes chefiada pelo presidente Tusk. Como ministra, tenho trabalhado, por um lado, para partilhar as nossas posições com os nossos parceiros europeus e conhecer as suas prioridades e, por outro lado, para explicar a Europa aos meus concidadãos. Em abril, vamos lançar as consultas dos cidadãos sobre a Europa, o que nos permitirá ouvir as preocupações, as ideias e propostas dos europeus em relação à Europa. Fico muito feliz que Portugal tenha aderido a esta iniciativa, juntando-se a mais de 20 países. Estou confiante em que tiraremos ilações preciosas. Um ministro das Finanças da zona euro, um orçamento desta zona euro. Esses projetos do presidente Macron são mais difíceis de concretizar com a Alemanha ainda sem governo? Em primeiro lugar, quero afirmar novamente o prazer que temos em trabalhar com Mário Centeno. Está agora aberta uma nova fase no Eurogrupo. Para a necessária reforma da zona euro, o nosso objetivo deve ser um acordo político a longo prazo, já a partir deste verão, e em cuja preparação o Eurogrupo terá um papel fulcral. A França e a Alemanha trabalham em estreita colaboração neste processo. É claro que estamos ansiosos por trabalhar com o governo alemão quando este for formado, mas posso assegurar-lhe que o trabalho que a chanceler Merkel está a fazer para conseguir uma nova coligação não limita, de modo algum, o envolvimento importante da Alemanha nos assuntos europeus... Veja os recentes avanços na Europa da defesa, para dar apenas um exemplo. Macron é frequentemente apresentado como o novo líder da Europa e até mesmo do mundo livre. Isso é merecido ou ainda é muito cedo? Vivemos num mundo multipolar e em movimento e acredito que a expressão “líder do mundo livre” pertence à história! É claro que a eleição de Emmanuel Macron deu um novo sopro à Europa. Ele tem uma ambição para a Europa, porque estamos a viver um momento fulcral. As respostas que vamos dar às questões sobre a energia, o digital, as migrações, a formação profissional e o investimento irão definir o nosso futuro. E a União Europeia, que defende um equilíbrio único entre liberdade, justiça, equidade e direitos individuais, tem neste mundo uma responsabilidade especial.