Diário de Notícias

Indústria 4.0 cria riqueza às empresas mas traz riscos para os trabalhado­res

Concentraç­ão de riqueza para empresas, falta de descanso e formação constante para operários são desafios desta revolução

- DIOGO FERREIRA NUNES

A imparável quarta revolução industrial pode criar um mundo de oportunida­des para as empresas mas está recheada de riscos para os trabalhado­res. A concentraç­ão de riqueza pelos grupos económicos, a falta de descanso e a necessidad­e constante de formação para os trabalhado­res foram os alertas deixados ontem por políticos, professore­s e sociólogos, que discutiram o futuro do mercado laboral na indústria 4.0 durante a Cotec Europe Summit, que decorreu em Mafra.

A concentraç­ão da riqueza pelas empresas é o principal risco. “As novas empresas tecnológic­as enriquecem mais com muito menos empregos. Temos de garantir que a receita criada pela tecnologia vai contribuir para a melhoria da vida dos humanos”, assinalou Arlindo Oliveira, presidente do Instituto Superior Técnico (IST). “A maior parte do desemprego é resultado de uma crise de um regime de acumulação de capital da finança. A concentraç­ão da riqueza no topo vai ter de ser mexida”, avisou Manuel Carvalho da Silva, sociólogo do Centro de Estudos Sociais (CES).

A indústria 4.0 também está a dificultar a distinção entre trabalho e descanso. Graças à inteligênc­ia artificial, “o conceito de trabalho das 09.00 às 17.00 está destruído”, segundo Arlindo Oliveira. O ex-secretário-geral da CGTP pede “clarificaç­ão do conceito de trabalho e não trabalho”: as pessoas “não podem perder o controlo do tempo” porque a sociedade “está a caminhar para um permanente caos entre tempos de trabalho e de descanso, com consequênc­ias no convívio de família”, alertou.

A formação ao longo da vida será outra constante da indústria 4.0, porque “65% das crianças atual- mente na escola vão trabalhar em profissões que ainda não existem”, lembrou o comissário europeu Carlos Moedas. Esta revolução, que quer acabar com as tarefas rotineiras, “eleva a fasquia ao nível das competênci­as que as pessoas têm de ter para que sejam mais valiosas do que um computador”, destaca Arlindo Oliveira.

O governo português lançou há um ano a sua estratégia para a indústria 4.0. Mais de metade (40) das medidas (64) já está em execução. Desde o desenvolvi­mento de programas de aceleração para a mobilidade – como o 4Scale, em parceria com o CEiiA – a iniciativa­s de capacitaçã­o – como o InCode – há projetos com impacto para empresas e trabalhado­res, segundo a secretária de Estado da Indústria. Ana Teresa Lehmann anunciou ainda que existem 700 milhões de euros de financiame­nto para executar em 2018.

O apoio financeiro para esta revolução industrial, no entanto, não chega, na perspetiva do Presidente da República. “Esta economia 4.0 não exigiria uma União Europeia 4.0 e sistemas políticos 4.0 e sistemas sociais 4.0? Uma resposta simples dirá que a mudança em curso é imparável e que o resto virá por acrescento. Nada parará a mudança. Mas se for acompanhad­a por uma União Europeia 4.0 e sistemas políticos 4.0 e sistemas sociais 4.0”, alertou Marcelo Rebelo de Sousa na sessão de encerramen­to.

“A economia 4.0 tem de ser acompanhad­a por uma União Europeia 4.0 e sistemas políticos e sociais 4.0”

MARCELO REBELO DE SOUSA

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Marcelo Rebelo de Sousa entre Juan Carlos I e o atual rei de Espanha, Filipe VI, à entrada do Convento de Mafra

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