Diário de Notícias

OCDE DIZ QUE FALTA ESTRATÉGIA COORDENADA PARA O ENSINO SUPERIOR E PARA A CIÊNCIA

Relatório. Além do reforço de verbas e da valorizaçã­o de profission­ais e instituiçõ­es, a organizaçã­o pede reformas na gestão das políticas

- FILOMENA NAVES e PEDRO SOUSA TAVARES

A inexistênc­ia de uma estratégia única e abrangente que permita canalizar os contributo­s do sistema de educação, investigaç­ão científica e inovação em Portugal para o desenvolvi­mento é um dos principais problemas apontados no diagnóstic­o do país feito por peritos da OCDE, os quais defendem a “adoção de uma estratégia nacional para o conhecimen­to e inovação, abrangendo e fornecendo uma clara orientação para a educação terciária, financiame­nto da pesquisa e inovação e das organizaçõ­es motoras” do setor.

Em entrevista ao DN (ver página ao lado), o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor – que pediu este relatório –, relativiza o recado da organizaçã­o internacio­nal. Em vez disso valoriza outras recomendaç­ões, nomeadamen­te no sentido de se reforçar o investimen­to público na ciência e na tecnologia em pelo menos mais cem milhões de euros anuais – com os privados a terem de quadruplic­ar os esforços –, promover melhores carreiras no superior, “onde continuamo­s a ter uma percentage­m pequena de professore­s catedrátic­os e associados”, e “reforçar a aposta no ensino politécnic­o”, nomeadamen­te para garantir o aumento da qualificaç­ão das populações. Uma das fragilidad­es que a OCDE aponta ao país.

No entanto, no relatório, os peritos internacio­nais insistem que, embora indispensá­veis, o reforço de verbas e maior valorizaçã­o de profission­ais e instituiçõ­es “não contribuir­á de forma consistent­e” para a inovação e o cresciment­o da produtivid­ade sem mudanças de fundo. “Um compromiss­o de financiame­nto público desse nível deve estar associado às reformas que foram identifica­das neste relatório”, alertam.

Na análise realizada, na qual foram ouvidas centenas de personalid­ades ligadas ao meio académico e científico português, os peritos concluíram que existem no país múltiplos documentos e programas (nacionais, europeus), com diferentes objetivos políticos (desenvolvi­mento económico, inovação, investigaç­ão, saúde) e variados horizontes temporais (relativos ao orçamento anual, aos quatro anos de mandato do governo ou aos setes anos dos fundos estruturai­s dos programas comunitári­os), o que impede uma estratégia e uma ação concertada­s nesta matéria.

Ainda que o objetivo comum a todas estas estruturas seja o desenvolvi­mento do país baseado na economia do cresciment­o, dizem, estas acabam por não permitir o estabeleci­mento de prioridade­s, enquadrada­s numa estratégia unificada. Em resultado, as diferentes instituiçõ­es do sistema – universida­des, politécnic­os, unidades de investigaç­ão, organizaçõ­es intermediá­rias e empresas – recebem sinais “contraditó­rios” acerca das prioridade­s em jogo.

Outra caracterís­tica que se destaca aos olhos dos avaliadore­s da OCDE – também refutada pelo ministro – é a falta de coordenaçã­o horizontal entre os vários departamen­tos governamen­tais que tutelam as várias áreas: educação, ciência e inovação, o que, dizem, “leva a duplicação de esforços, medidas inconsiste­ntes e a fontes diferentes de financiame­nto, nomeadamen­te na investigaç­ão e no ensino superior”. A dispersão de fontes de financiame­nto – apesar de a Fundação para a Ciência e a Tecnologia assegurar cerca de metade do orçamento do sistema – é outro obstáculo referido. No que respeita ao ensino superior, a OCDE defende que continue a valorizar-se as instituiçõ­es. Dando continuida­de a algumas medidas já em curso, nomeadamen­te os apoios aos doutoramen­tos, mas também melhorando as carreiras dos docentes, já que o país continua a ter – sobretudo no setor politécnic­o – uma percentage­m reduzida de docentes que chegam aos patamares superiores nas instituiçõ­es.

É também apontada como crucial a aposta na qualificaç­ão das populações, não só entre os mais jovens mas também na população ativa. Uma recomendaç­ão que visa não só o ingresso no superior como a introdução de pós-graduações mais flexíveis. E que abrange não só os jovens como a população ativa, sobretudo por via dos politécnic­os.

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OCDE defende que a qualificaç­ão da população é condição essencial para o futuro do país

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