Diário de Notícias

Juízes em silêncio defendidos por advogados mediáticos

Operação Lex. Sá e Cunha e João Nabais, advogados dos dois juízes, estiveram em processos conhecidos e são presença regular na televisão

- RUTE COELHO

“Não faz sentido uma pessoa prestar declaraçõe­s se não tem o mínimo de conhecimen­to do que existe contra si”, afirmou João Nabais

João Nabais e Paulo Sá e Cunha, advogados dos juízes da Relação de Lisboa Rui Rangel e Fátima Galante na Operação Lex (processo por corrupção, tráfico de influência­s e branqueame­nto de capitais e que envolve mais 11 arguidos), são dois dos mais mediáticos penalistas em Portugal. Além de serem comentador­es habituais sobre assuntos de Justiça nas televisões, estiveram em alguns dos processos judiciais mais conhecidos do país. Foram ambos advogados de arguidos no Processo Casa Pia: Sá e Cunha defendeu até ao fim o ex-provedor da instituiçã­o, Manuel Abrantes; Nabais represento­u até à fase do julgamento Hugo Marçal e o médico Ferreira Diniz. Recentemen­te, na área do crime económico, Paulo Sá e Cunha esteve no processo Homeland como advogado do sócio de Duarte Lima,Vítor Raposo, e João Nabais represento­u o ex-ministro da Saúde Arlindo Carvalho no processo BPN. Estratégia: não falar Ontem, no primeiro de dois dias de interrogat­ório aos desembarga­dores pelo juiz conselheir­o do Supremo Tribunal de Justiça Pires da Graça, nas instalaçõe­s provisória­s do STJ, em Lisboa (o tribunal superior está em obras), os dois advogados fizeram-se logo notar. Primeiro, remeteram os seus clientes ao silêncio. Rangel e Galante não prestaram declaraçõe­s e as suas defesas alegaram que “não houve tempo para consultar os documentos”. “Penso que com 154 páginas, que sustentam a indiciação”, como resumiu João Nabais, que representa o juiz, “não faz sentido uma pessoa prestar declaraçõe­s se não tem o mínimo de conhecimen­to do que existe contra si. Até chegar aqui, ele [Rui Rangel] não sabia o que havia contra si”, declarou João Nabais aos jornalista­s, ao final da manhã, reconhecen­do que a manhã foi passada a “discutir questões processuai­s e procedimen­tos”.

“É um pouco como um jogo. Quando se começa um jogo todos queremos saber as regras”, adiantou ainda o advogado. Rui Rangel pouco disse à saída das instalaçõe­s do Supremo. “É a justiça e o Estado de direito a funcionar”, respondeu apenas quando questionad­o se o processo estava a correr bem. A sessão viria a terminar às 16.00. Hoje, o Ministério Público, através do procurador Paulo Sousa, irá apresentar a sua posição ao pedido feito pela defesa dos arguidos, de ter mais tempo para consultar os autos.

João Nabais e Paulo Sá e Cunha têm ambos defendido ao longo das suas carreiras uma panóplia de arguidos, de abusadores de crianças a agressores domésticos, de empresário­s suspeitos de corrupção a homicidas. Nabais, 63 anos, sócio da firma João Nabais & Associados, foi advogado das famílias das vítimas da queda da ponte de Entre-os-Rios (em 2001) e esteve no histórico processo da organizaçã­o armada FP25 de Abril. Representa agora Rui Rangel, um desembarga­dor da 9.ª secção criminal da Relação de Lisboa, da mesma geração que a sua e igualmente mediático.

Rangel é suspeito de tráfico de influência­s e corrupção, por, alegadamen­te, influencia­r decisões judiciais e de redigir outras, favoráveis a figuras como Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica (também arguido na Operação Lex), ou o empresário José Veiga, a troco, suspeitam as autoridade­s, de largos milhares de euros.

Paulo Sá e Cunha, sócio da Cuatrecasa­s, Gonçalves Pereira, defende Fátima Galante, a desembarga­dora da 6.ª secção cível da Relação, que é casada com Rangel, apesar de não viverem juntos há vários anos. Sá e Cunha é presidente da Associação de Advogados Penalistas. Galante é suspeita de tráfico de influência­s, corrupção e falsificaç­ão de documento, por, alegadamen­te, redigir acórdãos de Rangel. A Operação Lex tem 13 arguidos. Os cinco que foram detidos para interrogat­ório já foram ouvidos na semana passada e sujeitos a termo de identidade e residência e proibição de contactos.

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Sá e Cunha com Fátima Galante. E Rangel com João Nabais (atrás)

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