Manuel Heitor “Sem mais qualificações é impossível”
O ministro da Ciência e Ensino Superior discorda da análise de que o país precisa de centralizar as políticas de ciência e formação, mas admite reforçar a coordenação. A aposta nas qualificações da população, no investimento no superior e na investigação
“Vamos reforçar a coordenação mas não a centralização. A estratégia tem de ser de maior participação pública”
A OCDE diz que a ausência de uma estratégia nacional centralizada leva à dispersão de esforços e objetivos contraditórios no superior e na ciência. Como comenta esta análise? Esse aspeto já foi discutido quando foi apresentado o relatório preliminar. De uma certa forma, as pessoas do Conselho Coordenador do Ensino Superior opuseram-se a essa recomendação. É uma visão típica da OCDE, que é por natureza uma instituição muito centralizadora. Penso que o relatório tem muito mais conteúdo do que isso. Obviamente que vamos responder a essa crítica, no sentido de reforçar o esforço de coordenação, mas nunca reforçando a centralização de uma estratégia que, pelo contrário, tem de ser de maior participação pública. A OCDE também diz – e muito bem – que é preciso reforçar a autonomia das instituições científicas e do ensino superior, que é o que temos feito desde 2007. Também é defendida a criação de uma “task force interministerial”, para garantir a coerência das medidas, nomeadamente entre o superior e ciência e a economia. Essa articulação já acontece? No fundo, isso acontece. A inovação é o elemento importante de coordenação entre a ciência e a economia. O próprio programa Interface foi lançado pelo primeiro-ministro, com a participação ativa dos dois ministérios, exatamente para isso. Neste momento está bem coordenado e será um dos elementos reforçados na resposta política à OCDE. Esta avaliação serve para nos sujeitarmos a uma leitura externa de Portugal no contexto europeu. Claro que esses aspetos podem ser melhorados. Este relatório é o que os peritos da OCDE consideram depois de terem falado com centenas de pessoas. É natural que as pessoas sintam isso. Mas mais do que ser tudo coordenado, é importante que haja oportunidades para diferentes ações. Para Portugal cumprir a meta de ter 3% do PIB em investigação e desenvolvimento até 2030 o Estado terá de aumentar a dotação em cem milhões por ano. E os privados terão de quadruplicar o investimento. É viável? Depois de cinco anos a divergir na Europa, 2016 foi um ano de retoma da convergência. A despesa pública aumentou e o privado também. A perspetiva é conseguirmos estar nestes 12 anos consecutivos com um reforço. Num âmbito de esforços comunitários para uma economia baseada no conhecimento não é muito difícil. O setor privado conseguir em 12 anos multiplicar por quatro a despesa em investigação é um desafio grande. Tal como criarmos dois mil postos de trabalho qualificado por ano, sobretudo nas empresas. A aposta nas qualificações da população é outra questão central... A OCDE vem chamar a atenção para que sem mais qualificações e investimento nas qualificações é impossível. Esse é também um desafio para os empregadores, para investirem nas qualificações mas também para as exigirem. Não apenas na formação inicial. É fundamental atrair mais jovens mas também a população adulta, com cinco ou mais anos de experiência.