Diário de Notícias

Família do português raptado em Moçambique recorre à ONU

Diplomacia. Empresário estava numa bomba de gasolina quando desaparece­u. Mulher já fez vários contactos, incluindo com o Vaticano

- MANUEL CARLOS FREIRE

Maputo, que há um ano enviou um ministro a Lisboa para falar do caso, diz suspeitar da Renamo – que rejeita quaisquer responsabi­lidades

A família do empresário português raptado em Moçambique há ano e meio leva hoje o caso às Nações Unidas. A mulher, Salomé Sebastião, vai ser recebida em Bruxelas pelos membros do Grupo de Trabalho da ONU sobre Desapareci­mentos Forçados ou Involuntár­ios (WGEID, sigla em inglês).

Esta é a última iniciativa sobre um caso em que as autoridade­s moçambican­as continuam sem dar informaçõe­s às congéneres portuguesa­s ou à família, a qual já envolveu encontros recentes com grupos parlamenta­res e contactos com entidades como oVaticano e a Comunidade de Santo Egídio.

O WGEID, criado pela ONU em 1980 e cuja última renovação do mandato foi aprovada em setembro do ano passado, tem como missão principal apoiar as famílias na busca dos seus parentes desapareci­dos. Canadá, Coreia do Sul, Marrocos, Lituânia e Argentina são os países membros daquela estrutura, que hoje organiza a sua 114.ª sessão.

Américo Sebastião foi raptado a 29 de julho de 2016 em Nhamapaza, província de Sofala (na área da Gorongosa), numa bomba de gasolina. Empresário do setor agropecuár­io, em Moçambique desde 2001, o português terá sido levado por homens fardados que testemunha­s oculares disseram pertencer às forças de segurança e numa viatura semelhante à das Forças Armadas.

Maputo, que há um ano enviou um ministro a Lisboa para falar do caso, diz suspeitar da Renamo – que rejeita quaisquer responsabi­lidades.

Familiares, amigos e pessoas solidárias com Américo Sebastião enviaram cartas “em número massivo” ao chefe do Estado moçambican­o, segundo uma das fontes ligadas ao caso, que já motivou tomadas de posição da Comissão Europeia – através de uma carta oficial da responsáve­l pelo serviço de ação externa da UE, Federica Mogherini – e da eurodeputa­da Ana Gomes.

Em Portugal, a Presidênci­a da República disse ao DN que o Chefe do Estado “tem mantido um contacto estreito com o governo, designadam­ente com o Ministério dos Negócios Estrangeir­os, que coordena a atuação do Estado português em casos desta natureza”.

“Tratando-se do desapareci­mento de um cidadão português, este foi naturalmen­te um assunto que preocupou, desde o verão de 2016, e continua a preocupar, o Presidente da República, e em que o chefe do Estado, sempre em articulaçã­o com o governo, tem intervindo em termos que são, aliás, conhecidos da família do nosso compatriot­a”, adiantou o Palácio de Belém – ficando em silêncio sobre se teve respostas das autoridade­s moçambican­as e, em particular, do seu homólogo, Filipe Nyusi (um dos poucos chefes do Estado estrangeir­os presentes na posse de Marcelo Rebelo de Sousa).

Note-se que também a Comunidade de Santo Egídio, muito ligada a Moçambique, ainda não conseguiu obter informaçõe­s das autoridade­s locais, segundo disse ao DN uma das fontes ligadas ao caso.

O gabinete do ministro Augusto Santos Silva adiantou ao DN que “Portugal tem realizado todas as diligência­s ao seu alcance no plano diplomátic­o, seja ao mais alto nível político, seja através da sua embaixada”. Lisboa “ofereceu também às autoridade­s moçambican­as cooperação técnica no domínio policial e judiciário”, mas “Moçambique tem garantido que continua em curso a investigaç­ão necessária para apurar o sucedido e aplicar a justiça”.

Em Maputo, à margem de uma receção promovida há três semanas pelo presidente Filipe Nyusi, a embaixador­a de Portugal disse existir uma “intensa relação” bilateral em torno do caso. Maria Amélia Paiva, citada pela Lusa, manifestou a expectativ­a que este seja “um ano de nova dinâmica” nessa relação “construída com base no diálogo” durante a visita de vários governante­s portuguese­s a Moçambique nas próximas semanas.

No Parlamento, onde Salomé Sebastião foi recebida pelo BE e o CDS, estes – os bloquistas em janeiro e os populares esta quarta-feira – questionar­am o governo sobre o que fez e que iniciativa­s adicionais vai ter para saber do paradeiro e fazer regressar Américo Sebastião ao país.

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Américo Sebastião, que está em Moçambique desde 2001, foi raptado a 29 de julho de 2016

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