Governo negoceia portagens para salvar 700 empregos da PSA em Mangualde
Novo modelo do grupo liderado por Carlos Tavares poderá pagar classe 2 nas autoestradas. Fábrica portuguesa poderá montar menos 20 mil unidades. Continuidade de produção será decidida até final de julho
Grupo PSA instalou-se em Portugal em 1962. Mangualde é considerada a fábrica com “melhor qualidade de montagem” da Europa
DIOGO FERREIRA NUNES O governo está a renegociar os contratos de concessão das autoestradas com a Brisa desde o final do ano passado. Esta é a reação do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas ao alerta ontem deixado pelo grupo Peugeot-Citroën (PSA) em Portugal: se não houver alteração das classes das portagens, o investimento em Mangualde está em risco. Em causa estão 700 postos de trabalho.
“O investimento da PSA em Mangualde está em risco no médio prazo”, alertou o diretor-geral do grupo PSA em Portugal quando questionado sobre o facto de o novo modelo K9, que começará a ser produzido em série em outubro, ser classificado como veículo de classe 2 nas portagens por ter mais de 1,10 metros de altura no eixo da frente.
O K9 (nome provisório) é o veículo comercial ligeiro que vai substituir a Citroën Berlingo e a Peugeot Partner no início do próximo ano e que será apresentado no início de março, no salão automóvel de Genebra. A fábrica de Mangualde pretende produzir 100 mil unidades deste veículo em 2019, um quinto das quais com o mercado português como destino, ou seja, 20 mil comerciais ligeiros da Peugeot, Citroën e Opel.
A PSA espera “até ao final de julho” para saber se há alguma alteração da lei das portagens. Se não houver mudanças, a fábrica de Mangualde só vai produzir 80 mil unidades no próximo ano; e o terceiro turno de montagem, que arranca em abril para assegurar o final da produção da Peugeot Partner e da Citroën Berlingo, poderá durar apenas seis meses.
Para se preparar para a produção do K9, a empresa de Mangualde recebeu cerca de 50 milhões de euros, verba destinada ao investimento global na “industrialização do carro” e à “transformação da fábrica”.
Valor apoiado por fundos comunitários – foi um dos primeiros projetos a beneficiar do Portugal 2020 – e anunciado em junho de 2015. Na altura, a PSA Mangualde destacava que o lançamento da produção do K9, veículos de nova geração, estava associado à “ambição de aumentar o número de fornecedores nacionais da fábrica de Mangualde”.
O dossiê das portagens é da responsabilidade do Ministério do
Efeito no PIB O grupo PSA gerou receitas totais de 1,17 mil milhões de euros em 2017, com o negócio do comércio e indústria. Corresponde a 0,8% do PIB.
Carros por fabricar com classe 2 Há cerca de 20 mil carros da PSA Mangualde que pode ficar por fabricar se o modelo K9 for classificado como classe 2 em vez de classe 1. Planeamento e das Infraestruturas. O gabinete de Pedro Marques diz que “no último trimestre do ano passado foram iniciadas as renegociações do contrato de concessão com a Brisa”, a maior gestora privada de autoestradas do país.
Contactada pelo DN/Dinheiro Vivo, a concessionária diz que “o Estado tem a prerrogativa de rever o contrato de concessão” e que “a revisão é feita nos termos definidos pelo contrato de concessão”. A Brisa lembra que, nas negociações, “será tido em conta o equilíbrio financeiro da concessão” e que em 2004, após pedido do governo, introduziu um regime especial para os monovolumes de sete lugares.
A renegociação do contrato com a Brisa arrancou depois de, em julho, o grupo de trabalho criado no Parlamento ter entregado no gabinete de Pedro Marques uma proposta para alterar as classes nas portagens. O setor automóvel quer que as classes passem a ser determinadas pelo peso dos veículos e não pela altura no eixo da frente.
“Fazia sentido um sistema que olhasse para a componente principal que introduz desgaste, que é o peso e não a altura. Um veículo ligeiro [peso inferior ou igual a 3500 kg] deveria ter uma classe. Os pesados, conforme o número de eixos, deveriam ter outras classificações”, sugeriu Alfredo Amaral.
A classe das portagens pode ser determinante para o sucesso comercial de um veículo. Na A1, a principal autoestrada do país, um carro com classe 1 paga 22,15 de Alverca até Carvalhos; um carro com classe 2 paga quase o dobro pelo mesmo percurso: 38,45 euros. O grupo francês diz que o SUV Opel Mokka, por ter mais de 1,10 metros no eixo da frente ,“não se vende em Portugal” apesar de ser “um dos carros mais vendidos na Europa”.
O futuro desta fábrica está nas mãos do governo. Até lá, o grupo francês lembra que a unidade de Mangualde “soube adaptar-se ao longo dos tempos” e que “é a fábrica do grupo que presta melhor qualidade de montagem a nível europeu”. Só que o investimento recebido em 2015 apenas terá efeito durante a vida do K9.