Enfrentar o frio e os ratos para subir o Kilimanjaro e ajudar as crianças
Ao escalar a montanha mais alta de África, Natália e Cidália Luís conseguiram angariar 300 mil dólares para ajudar o Children’s National Medical Center
Natália e Cidália Luís gostam de brincar a dizer que toda a vida subiram montanhas. Ossos do ofício quando falamos de duas mulheres à frente de uma empresa de construção de estradas. Mas o Kilimanjaro foi “o pico dos picos”. Em finais de 2014, as irmãs partiram para a Tanzânia com um objetivo: recolher o máximo de dinheiro possível para ajudar o Children’s National Medical Center num projeto de investigação de diagnóstico intrauterino.
“Estava frio, e estava húmido e havia ratos”, recorda Cidália. “Quem diria que num montanha onde não cresce nada haveria tantos ratos”, exclama. Mas para Natália o pior mesmo foi o frio. “Na terceira noite, tinha chovido, o vento chegava a mais de 100 km/h, estavam uns 20 graus negativos. Eu não conseguia dormir. Estava a ficar com graves sintomas de doença das alturas. Tínhamos combinado que, se uma tivesse de descer, a outra continuava sozinha. À meia-noite chamei a minha irmã e disse-lhe que, se não dormisse e não me sentisse melhor de manhã, ela ia ter de continuar sem mim. Foi das decisões mais difíceis que tive de tomar. Fiquei devastada.”
A salvação veio através dos homens que as empresárias tinham contratado numa aldeia local para as ajudar a chegar até ao topo. “O líder do grupo ouviu-nos a falar e perguntou o que se passava. Disse-lhe que não conseguia dormir há três dias porque não conseguia aquecer. Ele voltou 40 minutos depois – porque foi o tempo que demorou a ferver água à altitude a que nos encontrávamos – e trazia dois sacos de água quente”, lembra Natália. A quem estiver a pensar escalar o Kilimanjaro, a empresária deixa portanto a dica: levem sacos de água quente. Recomposta após três horas de sono, quando acordou a empresária sentia-se uma mulher nova. “Acordei e pensei: meu Deus, eu consigo fazer isto.”
E conseguiram. As duas chegaram ao cimo dos 5895 metros do Kilimanjaro e, após sete dias de escalada, colocaram a flutuar no topo da montanha mais alta de África a bandeira do Children’s National Medical Center, onde “acontecimentos devastadores” da vida as tinham levado.
Muito mais do que uma história de superação física, esta é uma história de
superação espiritual. E, se Cidália costuma dizer que deixou “muitas das suas mágoas no topo daquela montanha”, Natália ainda hoje se emociona ao recordar o sacrifício dos homens que as acompanhavam para as ajudar a chegar ao topo.
“Estávamos no último acampamento e vieram ter connosco a perguntar se podiam recuperar os sacos de água quente porque nós já não íamos precisar deles na última etapa da subida. Foi a primeira vez que me apercebi de que estes homens que nos tinham ajudado a subir aquela montanha tinham abdicado da sua única fonte de calor para nos ajudar. Isto é humanidade”, conta.
De volta à aldeia onde tinham contratado 19 homens para a subida, as irmãs Luís decidiram retribuir da forma que podiam. Por isso, deixaram para trás todas as camadas de roupa extra que levavam, mas também a comida e o resto do equipamento que carregavam. “Estava tanto frio naquela montanha e eles usavam T-shirts e uns casaquinhos porque não tinham mais nada!”, indigna-se, por isso “deixámos lá tudo, não trouxemos nada de volta connosco. E até hoje estamos em contacto com o líder do grupo”.
O seu esforço rendeu 300 mil dólares ao Children’s National Medical Center.