Diário de Notícias

Peter James “A internet deu origem a novas formas de crimes”

- JOÃO CÉU E SILVA

Peter James já vendeu perto de 20 milhões de exemplares dos seus livros policiais. Marcada para Morrer (You Are Dead) foi traduzido para português e dá continuaçã­o a uma mania do autor, a de ter sempre a palavra dead no título. Tornou-se uma imagem de marca da sua saga com mais sucesso, em que o protagonis­ta Roy Grace seduz leitores, livros atrás de livros. À terceira página do romance faz questão de implodir a bomba atómica e enervar os leitores. É a melhor estratégia para chegar ao n.º 1 das tabelas? Gosto sempre de um livro que me prende desde as primeiras páginas e é o que tento fazer. Acho que as pessoas que leem policiais estão à procura daquela emoção que as faz sentir inseguras. É fácil manter o leitor atento e estar sempre um passo à frente dele? Antes de ser escritor a tempo inteiro a minha experiênci­a era no cinema e na televisão, onde há mudanças rápidas nas cenas. Acho que ajuda a manter a atenção dos leitores. Nunca me esqueço de que eles são inteligent­es e procuram estar um passo à minha frente, o que me faz esforçar ainda mais! Com as inúmeras séries policiais na TV ainda é fácil competir? Tenho a sorte de ter uma excelente relação com várias forças policiais no Reino Unido e em todo o mundo. Delas, obtenho um fornecimen­to intermináv­el de histórias, muitas das quais são quase demasiado inacreditá­veis para serem verdadeira­s. Também me inspiro nos jornais ou até numa observação casual por parte de alguém e, muitas vezes, apenas nos recantos obscuros da minha própria imaginação! O argumento do livro está focado no rapto de Logan, mas não deixa de introduzir muitos personagen­s com vida própria. É para distrair os leitores? Tento não só escrever uma história emocionant­e mas também analisar o mundo em que vivemos e as razões pelas quais as pessoas fazem o que fazem. Para isso, é importante criar personagen­s estruturad­as verdadeira­mente fortes, e gosto de escrever cada livro a partir de, pelo menos, três perspetiva­s diferentes: do vilão, da vítima e da polícia. As mulheres deste livro têm todas forte personalid­ade. Já não é tempo para personagen­s femininas frágeis? Fui criado por uma mãe muito forte, que era uma mulher de negócios bem-sucedida numa época em que isso não era fácil, e sempre respeitei mulheres fortes. Há espaço para personagen­s masculinos e femininos frágeis, ambos aparecem nos meus livros. Porque faz reaparecer a ex-mulher do protagonis­ta Roy Grace tantas vezes? O facto de Roy Grace ter uma mulher desapareci­da é uma parte importante da personagem. Desde que ela desaparece­u no dia do 30º aniversári­o, nove anos antes de o conhecermo­s, que ele a elogia e diz como era maravilhos­a. Ao mostrá-la aos leitores e ao desvendar outro lado da sua personalid­ade, vê-se que não era, de facto, a mulher perfeita que Roy sempre pensou que era. Esta saga vai continuar até quando? Enquanto os meus leitores gostarem de os ler e eu continuar a gostar de os escrever. Não tenho planos para deixar de os escrever em breve! A atualidade criou novos temas ou um serial-killer ainda é a melhor aposta? Estão sempre a surgir novos temas, a internet deu origem a uma grande variedade de novas formas de crime, como a fraude romântica, sobre a qual estou a escrever atualmente. O meu último livro de Roy Grace, Dead If You Don’t, gira em torno do rapto de um adolescent­e – no livro não há nenhum assassino em série envolvido! Também incluí algumas das últimas tecnologia­s como o resgate em bitcoins. Alguns dos seus livros tiveram adaptação cinematogr­áfica. Ficou satisfeito? Até agora não fiquei feliz com nenhum dos três livros que foram adaptados. A série Roy Grace está agora em desenvolvi­mento e trabalho com uma equipa que inclui um escritor de quem gosto e respeito, o que me dá esperança. Esteve envolvido em quase trinta filmes. Porque o livro policial não o satisfaz; porque prefere este registo ou porque tem saudade dos seus antigos filmes de terror e romances eletrónico­s? Pelo contrário! Passei para a escrita porque fazer filmes nunca me deu a liberdade criativa que queria. Num filme temos de responder perante pessoas diferentes e num livro não, exceto perante mim próprio e os leitores... Há quem ache que os seus bandidos são demasiado espertos e bem estruturad­os. Concorda? Muitos dos maiores bandidos da história foram pessoas extremamen­te inteligent­es. Por exemplo, Ted Bundy – o pior assassino em série da América – era formado em Direito e trabalhou durante um tempo para o Partido Republican­o. Para mim, o vilão inteligent­e é muito mais excitante e perigoso. Já algum leitor lhe disse que tinha descoberto o vilão antes ser revelado? Sim, mas nem em todos os meus livros escondo o vilão. Às vezes, deixo claro no início quem ele é. Os meus livros são muito mais de suspense do que policiais para descoberta do culpado. Vi que está ligado a atividades de caridade. Porquê esse empenho social? Acredito firmemente que a única obrigação que os seres humanos têm é a de tentar deixar o mundo um lugar um pouco melhor do que aquele que encontrara­m. Um dos grandes benefícios e alegrias do sucesso financeiro que a minha escrita me deu é a capacidade de ajudar outras pessoas através das instituiçõ­es de solidaried­ade que apoio. Ofereceu um carro à Polícia de Sussex. ‘Pagamento’ por troca de informação? As forças policiais em todo o mundo têm-me ajudado ao longo dos anos porque dizem que me veem como uma pessoa que os observa de forma correta. Mostro-os com verdade, muitas vezes com falhas, mas com justiça. Através da minha escrita, as pessoas podem ver que o trabalho de um polícia é altamente perigoso mas imensament­e gratifican­te. Os polícias são as pessoas que correm em direção ao perigo quando todas as outras fogem dele e não são assim tão bem pagos por fazerem tudo isso. Juntamente com a minha editora, doei dois carros à Polícia de Sussex, porque estavam muito pressionad­os financeira­mente devido aos cortes do governo britânico.

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Peter James Ed. Clube do Autor 472 páginas PVP: 18,50 euros
Marcada para Morrer Peter James Ed. Clube do Autor 472 páginas PVP: 18,50 euros

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