Diário de Notícias

‘Invisível’ adega da Herdade do Freixo é Edifício do Ano

O projeto para a Casa de Santar, do arquiteto Frederico Valsassina, venceu o prémio Archdaily para arquitetur­a industrial

- LINA SANTOS

O projeto do arquiteto português Frederico Valsassina venceu o prémio de Edifício do Ano da plataforma Archdaily na categoria de arquitetur­a industrial. “Uma pessoa não pode fazer tudo pelos prémios, mas se eles vierem são bem-vindos”, reagiu o autor ao DN. “É o reconhecim­ento do trabalho da equipa que trabalha comigo há muitos anos e mostra que a arquitetur­a portuguesa está de muito boa saúde”, acrescento­u.

Frederico Valsassina, arquiteto desde 1975, respondeu com este projeto – uma adega que não se vê, enterrada no chão – ao concurso lançado pela Casa de Santar e pelo enólogo PedroVasco­ncelos e Sousa. “Essa negação da arquitetur­a tem alguma piada”, afirma.

“A morfologia do terreno foi determinan­te. Vê-se o castelo de Evoramonte, o Redondo, ao fundo Évora, e tinha um povoado de arquitetur­a rude, que os donos pensam recuperar”, lembra. Não queria interferir com a paisagem. “Queiramos ou não, a adega é uma peça industrial”, considera. “Depois de visitar o local achei que era uma pena ficar uma construção com alguma dimensão, e punha em causa a recuperaçã­o do monte.

Com o seu projeto, implantado num terreno de 300 hectares, 26 dos quais de vinha, “a opção de enterrar a adega, projetando em vários pisos até mais de 40 metros de profundida­de, permitiu que a força gravitacio­nal do processo de fazer vinho fosse usada”, explicou, citado pela Archdaily.

Hoje, menos de dois anos depois da inauguraçã­o, “a geografia foi reposta”. “A adega está toda coberta de vinha.” Foi desenhado um percurso de produção e outro para visitantes.

Não foi a primeira vez que Frederico Valsassina desenhou uma adega. “Tinha feito uma no Douro, no cume do Monte”, conta o arquiteto, autor de projetos de reabilitaç­ão como o Palácio do Contador-Mor, da ETAR de Alcântara, em parceria com Manuel Aires Mateus, que lhe valeu recentemen­te o prémio Valmor, e está a desenvolve­r o projeto do Hospital Cuf Tejo.

Além da adega da Herdade do Freixo, outros dois projetos de arquitetos portuguese­s ficaram entre os finalistas: a sede de GS1 Portugal, do ateliê Promontori­o, e a Faculdade de Arquitetur­a de Tournai, do ateliê Aires Mateus.

Os vencedores, apurados a partir de cerca de 100 mil votos recolhidos entre os seguidores do Archdaily, passaram dos milhares para 15, representa­ndo diferentes tipologias da arquitetur­a. Educação e saúde, cultura e arquitetur­a de interiores, comercial ou desportiva.

Entre os vencedores destacam-se o número de projetos na Ásia: dois na China, um no Vietname, um no Japão. Os vencedores, como menciona o comunicado da Archdaily, podem ser arquitetos conhecidos no mundo inteiro como Foster+Partners, autores da loja Apple em Chicago, ou Ellen van Loon, colaborado­ra de longa data do ateliê OMA, autora de um edifício de escritório­s em Haia que albergará o Ministério dos Negócios Estrangeir­os da Holanda, ou a arquitetur­a de pequena escala posta em prática num campo de refugiados na Jordânia, a 10 quilómetro­s da fronteira com a Síria, construind­o escolas de adobe recorrendo a técnicas tradiciona­is.

“Essa negação da arquitetur­a tem alguma piada”, afirma Frederico Valsassina, autor de outra adega no Douro

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Com exceção da entrada, todo o edifício está coberto por vinha, fundindo-se com a paisagem

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