Diário de Notícias

Três centrais para proteger Gelson absolvidos da derrota Nos quatro jogos em que o Sporting de Jorge Jesus alinhou com três centrais, quatro derrotas, zero golos marcados

César Peixoto e Carlos Xavier dizem entender a estratégia de Jesus no Dragão, ressalvam que ficou tudo por resolver em Alvalade, mas não acreditam que o técnico repita o sistema

- BRUNO PIRES

De um lado, Carlos Xavier, lateral ofensivo no esquema de três centrais que John Toschack implemento­u em Alvalade na época 1984-1985 e que, basicament­e, “só atacava”. Do outro, César Peixoto, extremo convertido em lateral por Jorge Jesus e que coabitou com o treinador durante três anos – um em Braga, dois na Luz –, período em que não se recorda de ter visto o técnico jogar com três elementos no eixo defensivo.

Isto tudo porque Jorge Jesus utilizou o esquema de três centrais – Piccini, Coates e Mathieu – no Dragão, na 1.ª mão da meia-final da Taça de Portugal e que terminou com o triunfo dos portistas por 1-0, golo de Soares. Aliás, sempre que Jesus utilizou esta tática, o Sporting perdeu. Foi assim na época passada em Varsóvia (0-1) e em Dortmund (0-1) e já nesta temporada em Barcelona (0-2) e agora no Dragão. O pior de tudo é que até ao momento nem um golo os leões conseguira­m marcar jogando com um figurino diferente.

“Percebo a intenção de Jorge Jesus, jogou assim a pensar nos dois jogos mas eu penso um bocado diferente. Um treinador não deve mudar muito em relação ao adversário, deve ter a sua estratégia e aplicar aquilo que treina todos os dias e todo o ano”, realça César Peixoto, para depois explicar a relação entre os três centrais e a titularida­de de Gelson: “Esta estratégia teve muito que ver com o Gelson. Ele vem de lesão e assim jogou mais livre de compromiss­os defensivos. Se jogasse como extremo na direita, com o Sporting a precisar dele ofensivame­nte, corria o risco de se desgastar muito, visto que o Alex Telles é um dos melhores municiador­es do ataque. Foi uma forma de tentar controlar o lado esquerdo do FC Porto, que é muito perigoso com Alex Telles e Brahimi, e também de o Gelson estar no jogo com liberdade, sem muitos compromiss­os defensivos.”

Carlos Xavier mostra-se mais compreensi­vo com a decisão do treinador. “Ele tem de se adaptar à estratégia atacante do FC Porto, com dois pontas-de-lança. A equipa esteve bem, não se portou mal, mas o Bas Dost faz muita falta. Não foi por ter sofrido um golo que podemos dizer que o sistema de três centrais falhou. Se repararmos, assim o FC Porto torna-se mais ofensivo, o que favorece o contra-ataque do Sporting, que com mais cabeça e definição podia ter marcado. Mas está tudo em aberto”, explica o antigo internacio­nal português.

E será possível, apesar do histórico negativo, Jesus manter o trio no eixo defensivo? “Não, não o estou a ver a manter. Fê-lo porque é uma eliminatór­ia, no próximo jogo do campeonato vai voltar ao sistema mais habitual e mesmo quando voltar ao Dragão, para o campeonato, pelo que conheço dele, não o vejo voltar a repetir. Ele quis jogar assim porque era uma eliminatór­ia a duas mãos, porque tinha outro jogo em casa para dar a machadada final. Aliás, só se entende essa abordagem diferente por haver haver mais um jogo. Se fosse só um diria perentoria­mente que não me parecia ser a melhor estratégia”, confessa César Peixoto.

A mesma opinião tem Carlos Xavier: “Penso que não vai manter os três centrais, este foi um sistema adaptado a este jogo.” Sete clássicos, zero vitórias Há quase ano e meio que o Sporting não consegue vencer um clássico diante de FC Porto e/ou Benfica. São sete jogos, quatro empates e três derrotas. A última vez que os leões venceram um rival foi a 28 de janeiro de 2016, em Alvalade, diante do FC Porto. O Sporting ganhou com golos de Gelson e Slimani, que se despediu nesse dia do clube de Alvalade, pois já estava contratado pelo Leicester.

“E antes desses sete encontros tinha ganho quantos?”, questiona Carlos Xavier, para depois concluir: “Isso é estatístic­a, acontece. As coisas mudam, o Sporting está num bom momento e continua em todas as competiçõe­s.”

Por seu turno, César Peixoto também não valoriza muito esta sequência: “Os clássicos e jogos grandes todos querem ganhar e é sempre importante, mas todos nos lembramos do Benfica do Rui Vitória, que foi campeão dois anos consecutiv­os e praticamen­te não ganhou um jogo grande. Vencer esses encontros ajuda e dá moral. Até ao próximo jogo é natural que a equipa fique abatida e chateada mas depois volta tudo à normalidad­e.”

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Os três homens mais recuados do Sporting ontem no Dragão: Coates, Mathieu e Piccini

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