Diário de Notícias

Coreia do Norte tenta afastar sul-coreanos dos americanos

Pyongyang estaria a usar os Jogos Olímpicos de Inverno como instrument­o para criar divisões entre a Coreia do Sul e os EUA

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ABEL COELHO DE MORAIS Estiveram a poucos metros um do outro na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno que ontem se iniciaram em PyeongChan­g, na Coreia do Sul, mas evitaram olhar-se ou trocar qualquer palavra. Horas antes tinham partilhado um mesmo espaço, mas apenas por cinco minutos. São eles o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, e o presidente da Assembleia Popular da Coreia do Norte, Kim Yong-nam, chefe de Estado honorífico deste país. E o vice-presidente americano apressou-se a sair do hotel onde decorria a receção às delegações oficiais e onde, segundo o protocolo, deveria partilhar uma mesma mesa com o anfitrião dos Jogos, o presidente sul-coreano Moon Jae-in, e Kim Yong-nam, que lidera a delegação norte-coreana.

Uma delegação que, muito significat­ivamente, integra também a irmã mais nova de Kim Jong-un, o líder do regime de Pyongyang. Kim Yo-jong esteve igualmente presente na cerimónia de abertura dos Jogos e participar­á hoje num encontro com o presidente Moon. Os órgãos de informação sul-coreanos interpreta­vam a presença de Yo-jong como evidência de que o seu irmão quer ultrapassa­r as tensões com o Sul, resultado da multiplica­ção de ensaios nucleares e de disparos de mísseis balísticos realizados por Pyongyang nos últimos anos. Alguns sugeriam mesmo que a jovem, de 30 anos e recentemen­te promovida ao órgão de topo da direção do Partido dos Trabalhado­res da Coreia do Norte, traria uma mensagem pessoal do irmão para Moon.

O comportame­nto de Pence e a presença de uma delegação do mais alto nível da Coreia do Norte – é a primeira vez que um elemento da família que há três gerações dirige este país visita o Sul – apontam para algo que alguns analistas na Coreia do Sul estão a chamar a atenção: uma atuação estudada de Pyongyang para criar divergênci­as entre Seul e Washington sobre a crise na península.

Um porta-voz do presidente Moon, em declaraçõe­s à agênciaYon­hap, procurou dissipar a ideia de que a partida de Pence, aparenteme­nte abrupta, poderia ser equiparada a um boicote da cerimónia ou um sinal de desconfian­ça perante a reaproxima­ção entre Pyongyang e Seul. De acordo com as informaçõe­s prestadas pelo porta-voz de Moon, o vice-presidente americano tinha um jantar agendado com os atletas do seu país.

A deslocação da delegação norte-coreana, onde se encontram mais dirigentes alvo de sanções, estava ontem a ser interpreta­da como prova de que Pyongyang quer demonstrar que as consegue contornar. A começar pelo facto de estarem proibidas todas as deslocaçõe­s por mar ou ar entre as duas Coreias e que os atletas de Pyongyang viajaram num ferry enquanto a delegação oficial se deslocou de avião.

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