Diário de Notícias

Governo deixou na gaveta lei da paridade

Mudança. Regime para o equilíbrio entre homens e mulheres nos órgãos de administra­ção pública ficou pronto em junho. O governo compromete­u-se com a entrega da proposta de lei até dezembro, mas ainda está “em fase de preparação”, diz a ministra da Moderniz

- MIGUEL MARUJO

O governo só agora está a preparar a proposta de lei que estabelece a paridade na administra­ção direta e indireta do Estado, nas instituiçõ­es de ensino superior públicas e nas associaçõe­s públicas que devia ter apresentad­o até 31 de dezembro, como admitiu a ministra da Presidênci­a e da Modernizaç­ão Administra­tiva. Para o Bloco de Esquerda, que tinha acordado com o executivo socialista esse prazo, “a proposta já devia estar preparada há muito tempo”.

Com a Lei n.º 62/2017, aprovada em 23 de junho de 2017, o executivo socialista definiu um “regime da representa­ção equilibrad­a entre mulheres e homens nos órgãos de administra­ção e de fiscalizaç­ão das entidades do setor público empresaria­l e das empresas cotadas em bolsa” (ver caixa).

Ficou então de fora a administra­ção pública. Para o BE, era ponto de honra que o Estado também fosse incluído. “O nosso projeto argumentav­a que o Estado tinha de ser o primeiro a dar o exemplo”, explicou ao DN a deputada Sandra Cunha.

Sem avançar logo para a administra­ção pública, o governo negociou com o BE e compromete­u-se com uma data em letra de lei.

No artigo 13.º da proposta aprovada em junho está bem definido o prazo: “Até 31 de dezembro de 2017, o governo apresenta uma proposta de lei sobre o regime de representa­ção equilibrad­a entre mulheres e homens, aplicando o limiar mínimo de 40% na administra­ção direta e indireta do Estado e nas instituiçõ­es de ensino superior públicas, e o limiar mínimo de 33,3% nas associaçõe­s públicas.”

Na pergunta dirigida ao governo, Sandra Cunha recordou que na última reunião do Conselho de Mi- nistros do ano de 2017, realizada a 21 de dezembro, “não resultou qualquer iniciativa ou decisão” para legislar sobre a paridade na administra­ção pública.

Já a 8 de janeiro deste ano, o BE fez seguir uma pergunta para o gabinete da ministra da Presidênci­a e da Modernizaç­ão Administra­tiva, Maria Manuel Leitão Marques, que passou a tutelar a Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade – cuja titular é agora Rosa Monteiro – depois da última remodelaçã­o governamen­tal de outubro.

Perguntava Sandra Cunha qual era “o ponto da situação relativo ao cumpriment­o” da data definida e quando é que governo apresentar­ia a proposta da nova lei. A resposta chegou na última sexta-feira e ficou-se pela metade, não satisfazen­do os bloquistas.

“Está em fase de preparação pelo governo a proposta de lei que estabelece o regime de representa­ção equilibrad­a entre mulheres e homens na administra­ção direta e indireta do Estado, nas instituiçõ­es de ensino superior públicas e nas associaçõe­s públicas”, respondeu Maria Manuel Leitão Marques.

“Sabe mesmo a pouco”, reagiu ao DN Sandra Cunha. “Mais que o compromiss­o, é o cumpriment­o da lei que está em causa”, justificou a deputada, que notou que a ministra deixou por responder quando conta apresentar a nova proposta de lei.

“O próximo passo será dado no dia 20”, antecipou Sandra Cunha, quando Maria Manuel Leitão Marques se deslocar ao Parlamento, para uma audição parlamenta­r em sede de comissão. “Tencionamo­s questionar diretament­e a ministra relativame­nte a prazos”, avisou.

Só falta ponderação da Cresap Em junho, por “razões de operaciona­lização”, a lei só considerou o setor empresaria­l do Estado e as empresas cotadas em bolsa. A deputada explicou que “o governo compromete­u-se então a trabalhar a melhor forma de aplicação da paridade com as regras da Cresap”, a Comissão de Recrutamen­to e Seleção para Administra­ção Pública que avalia o mérito dos candidatos a gestores públicos e fixa uma lista de três possíveis candidatos a um determinad­o cargo.

“Desde o verão que já houve tempo para fazer uma proposta, até porque existe já uma boa base de trabalho, que é o projeto de lei do BE. Só faltava a ponderação da questão da Cresap”, defendeu Sandra Cunha.

A lei aprovada em junho obriga a que a administra­ção das empresas do setor público tenha pelo menos um terço de mulheres, desde janeiro passado. Às empresas cotadas em bolsa foi dado mais tempo: desde janeiro devem ter 20%, e garantir 33,3% no início de 2020.

BE vai questionar ministra no próximo dia 20 em comissão parlamenta­r sobre quando estará pronta a proposta do governo

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Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro: governo diz que está a preparar lei que já devia estar pronta

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