Determinação
MANTÓNIO PIRES
DE LIMA al nos conhecíamos quando, na sequência da crise política que deixou o país em suspenso em julho de 2013, aceitei fazer parte do governo. Pedro Passos Coelho era, naqueles dias, um homem tenso mas absolutamente determinado em evitar um segundo resgate a Portugal. No início da nossa colaboração, creio que olhava para mim com alguma reserva. Não esquecia seguramente algumas críticas que eu formulara, no passado recente, a propósito da comunicação política e falta de peso da economia no executivo. Procurei ganhar a sua confiança entregando-me ao trabalho e mostrando lealdade nos momentos mais decisivos. Em outubro de 2014, conversámos sobre a privatização da TAP. Havia 15 anos que se anunciava a sua necessidade sem a concluir. O primeiro processo falhara em dezembro de 2012. Estávamos a um ano de eleições. O calculismo político aconselharia a que não se tocasse num processo de resultado tão incerto e de enorme melindre político. O próprio modelo fora alvo de muitas discussões no seio do governo. No Ministério da Economia queríamos avançar. O interesse nacional exigia a única decisão que permitiria dar fôlego financeiro à empresa. O primeiro-ministro não hesitou nem procurou proteger-se: “Vamos avançar e salvar a TAP.” O processo foi complexo. Para além das críticas da oposição, sucederam-se protestos vários e o anúncio de greves, nomeadamente pelo sindicato dos pilotos, que tratava a empresa como coutada sua. Em dezembro, perante a primeira ameaça na época de Natal, procedeu-se a uma requisição civil. Com sucesso. Em maio, a um mês da privatização, os pilotos convocaram uma segunda greve. Foi um enorme revés para o sindicato. Um mês depois, o consórcio Pedrosa/Neeleman apresentou a melhor proposta e a privatização, finalmente, fez-se. Em todo este processo nunca vi Pedro Passos Coelho hesitar ou mostrar receio. A sua determinação estava em total sintonia com a perceção que tinha daquele que era o interesse nacional. Portugal deve-lhe muito.