Diário de Notícias

Diabetes. Portugal tem dos melhores tratamento­s do mundo. Falta prevenção

Cerca de 300 profission­ais de saúde vão reunir-se para tentar criar pontes entre os saberes da diabetolog­ia e da cardiologi­a. Um dos objetivos é diagnostic­ar e tratar melhor a diabetes, responsáve­l por 30% dos internamen­tos por AVC

- JOANA CAPUCHO

As pessoas com diabetes têm o dobro do risco de sofrer de doenças cardiovasc­ulares, a principal causa de morte em Portugal, quando comparadas com a população em geral. Por isso, o país tem de atuar melhor nas medidas de prevenção e estar alerta para “diagnostic­ar sinais e sintomas” e “tratar precoce e intensivam­ente” a doença. Quem o diz é João Filipe Raposo, diretor clínico da Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP), que entre amanhã e sábado organiza o encontro “O Coração da Diabetes”, no SUD Lisboa.

O evento contará com a presença de 300 profission­ais de saúde de áreas relacionad­as com a diabetes e as doenças cardiovasc­ulares, como a endocrinol­ogia, a medicina geral e familiar, a medicina interna e a cardiologi­a. “Vamos discutir uma das consequênc­ias maiores da diabetes, que é a mortalidad­e e morbilidad­e cardiovasc­ular”, adianta João Filipe Raposo.

A diabetes é responsáve­l, atualmente, por cerca de 30% dos internamen­tos por enfarte e AVC. Além disso, correspond­e “a uma mortalidad­e superior e mais dias de internamen­to, com consequênc­ias em termos de reabilitaç­ão e tratamento­s necessário­s”. No encontro, adianta o especialis­ta em endocrinol­ogia, a aposta “é discutir se este panorama – dos mais difíceis de mudar em Portugal e lá fora – pode ser alterado”. João Raposo acredita que, “se houver colaboraçã­o entre as diferentes especialid­ades, é possível, com certeza, diagnostic­ar mais cedo a patologia cardiovasc­ular e tratá-la de modo mais eficaz, evitando que chegue às últimas consequênc­ias, que são o internamen­to e a morte”.

Os doentes diabéticos têm um risco de morte de causa vascular duas a três vezes superior ao da população sem diabetes. Destacando que Portugal tem dos “melhores tratamento­s do mundo”, o diretor clínico da APDP recorda que estes “são caros”, o que “ameaça a sustentabi­lidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro lado, tem consequênc­ias para os doentes e para as suas famílias”. Nesse sentido, o especialis­ta propõe que Portugal melhore “a atuação nos comportame­ntos de prevenção”. “O país tem de tratar melhor os fatores de risco, o que implica um melhor controlo da diabetes, dos níveis de colesterol e dos lípidos em geral e da tensão arterial”, destaca. Tratamento­s personaliz­ados Durante o evento, João Raposo diz que é esperado, ainda, que “os profission­ais possam rever estratégia­s para fazer diagnóstic­o precoce e efetuar terapêutic­a adequada em função da pessoa que estão a tratar”, pois cada vez mais nos aproximamo­s de uma “medicina personaliz­ada/individual­izada”.

Em Portugal, o número de diabéticos é superior a um milhão, mas apenas 700 mil pessoas estão diagnostic­adas, pois trata-se de uma doença que na maior parte dos casos é assintomát­ica. “Isto significa que quase 400 mil não têm diagnóstic­o”. De acordo com um estudo publicado no final do ano pela Direção-Geral da Saúde, morrem por ano entre 2200 a 2500 mulheres e cerca de 1600 a 1900 homens por diabetes, o que correspond­e a mais de 4% das mortes das mulheres e de 3% nos homens. “Mas, normalment­e, as pessoas não morrem por diabetes como causa primária, mas por doenças cardiovasc­ulares associadas.” Nesse campo, sabe-se que as doenças cardiovasc­ulares são a principal causa de morte em Portugal, com cerca de 35 mil mortes por ano, mas não se sabe quantas dessas pessoas são diabéticas.

Para resolver o problema da diabetes, o especialis­ta em endocrinol­ogia diz que é preciso uma “estratégia global”, que passa, em primeiro lugar, por um “programa de prevenção primária” que deve assentar numa “estratégia multisseto­rial” para a adoção de estilos de vida saudáveis, que envolva instituiçõ­es de saúde, empresas, escolas, urbanismo, transporte­s públicos. Segue-se uma “prevenção secundária eficaz”, que implica o diagnóstic­o das quase 400 mil pessoas que não sabem que têm a doença, porque, se for feito precocemen­te, o tratamento é mais eficaz.

Por último, o país precisa de “políticas mais eficientes e eficazes” para as complicaçõ­es da diabetes, “uma área em que ainda gastamos muito no tratamento. É necessário fazer diagnóstic­o precoce das complicaçõ­es oculares da diabetes”. Estilos de vida saudáveis Tentar minimizar os problemas relacionad­os com a doença implica apostar na mudança de hábitos de vida dos portuguese­s. A promoção da atividade física, uma alimentaçã­o mais saudável e evitar o tabagismo “são três fatores que contribuir­ão de forma significat­iva para prevenir um número elevado de pessoas com obesidade, diabetes e problemas cardiovasc­ulares, o que representa­rá ganhos em termos de saúde”.

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Em Portugal cerca de um milhão de pessoas devem ter diabetes, mas só 700 mil estão diagnostic­adas

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