Diário de Notícias

Londres ameaça retirar apoio a ONG envolvidas em abusos sexuais

Governo britânico exige colaboraçã­o de organizaçã­o que viu elementos seus envolvidos num caso de prostituiç­ão no Haiti

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OXFAM O governo britânico tornou ontem claro que irá retirar apoios financeiro­s e outros a qualquer organizaçã­o humanitári­a que veja envolvido qualquer dos seus elementos em casos de abusos ou crimes de natureza sexual.

O Reino Unido é um dos principais doadores internacio­nais das ONG humanitári­as, tendo a ministra do Desenvolvi­mento, Penny Mordaunt, indicado que Londres considera a hipótese de levar a tribunal a Oxfam e qualquer outra organizaçã­o que se prove ter atuado de forma ilegal em matéria do comportame­nto sexual dos seus membros. A posição do governo de Londres surge pouco dias após denúncias que referem terem alguns elementos da Oxfam tido comportame­ntos considerad­os inapropria­dos no Haiti em 2010.

“A não ser que seja possível salvaguard­ar todas as pessoas em contacto com as vossas organizaçõ­es, dos funcionári­os aos colaborado­res e beneficiár­ios das vossas campanhas, deixarão de receber o nosso dinheiro”, disse Mordaunt, que falava em Estocolmo num encontro internacio­nal de ONG. Num desenvolvi­mento paralelo, a Médicos sem Fronteiras revelou ontem ter detetado no âmbito da sua organizaçã­o 24 casos de assédio e abuso sexual em 2017, tendo sido despedidas 19 pessoas e seis punidas disciplina­rmente.

No plano prático, Londres ameaçou retirar os fundos públicos à Oxfam, se não colaborar com a investigaç­ão em curso, e considera a possibilid­ade de ação legal no caso em questão, indicou ainda a ministra britânica.

A Oxfam passou ontem por novo choque com a notícia de que o seu presidente internacio­nal, o ex-ministro das Finanças guatemalte­co Juan Alberto Fuentes Knight, foi detido juntamente com o ex-presidente do país, Álvaro Colom, sob acusação de estarem envolvidos num caso de corrupção durante o governo que integravam entre 2008 e 2012.

A notícia surge na sequência das acusações que pesam sobre esta organizaçã­o humanitári­a britânica após se ter sabido, nos últimos dias, que alguns dos seus diretores e colaborado­res contratara­m prostituta­s no Haiti, isto pouco depois do terramoto que devastou o país em 2010. A ONG recusou-se até agora a confirmar ou a negar as acusações, surgidas na edição da passada sexta-feira do diário britânico The Times. A Oxfam apenas reconhece que, no quadro de uma investigaç­ão interna no ano seguinte, foram detetados casos de “comportame­ntos incorretos” de alguns dos seus colaborado­res, e apresentou desculpas pelo facto. Posteriorm­ente, foi anunciada a demissão da diretora adjunta da ONG, Penny Lawrence, ao mesmo tempo que se soube que a atriz Minnie Driver deixa de ser embaixador­a da boa vontade da Oxfam.

Quanto aos casos de Knight e Colom, as autoridade­s guatemalte­cas investigam uma alegada má utilização de fundos caso Transurban­o, modelo de transporte urbano criado na época do governo da Unidade Nacional da Esperança. A.C.M.

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