Diário de Notícias

É um Rio que não vai parar?

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OCongresso do PSD é neste fim de semana. Até lá, na antiga FIL, na Junqueira, onde Rui Rio vai tomar posse como líder do partido, muitos vão falar de unidade. O próprio líder dirá que esse é o caminho para que o partido possa sonhar com um regresso ao poder. Uma espécie de regeneraçã­o pós-Passos, de um partido virado para remar todo para o mesmo lado. Mas será mesmo assim?

Rui Rio chega ao congresso do PSD com muita rodagem. Ele até gosta de carros mais sofisticad­os do que o Citroën BX com que Cavaco Silva chegou viu e venceu o congresso da Figueira da Foz, em 1985.

Rio sabe que, além dos que o enfrentare­m de viva voz no conclave, há os “senhores feudais” de que falava Pedro Santana Lopes, neste sábado em entrevista ao Expresso, que estarão na sombra à espera de que dê o primeiro trambolhão para afiarem as facas. Mais afiadas ainda porque Rui Rio, apesar de ter alguns fiéis no partido, não integra nenhuma dessas congregaçõ­es de “senhores feudais” a que ele prefere chamar “clube de amigos”.

Rio ganhou o partido com 52% dos votos. E a matemática não falha. Os restantes 48% são demasiados por cento para desprezar os que estiveram do lado de Santana Lopes. Claro que irá integrar nas suas escolhas algumas destas figuras, mas não amansará as outras que não o queriam, nem a ele nem a Santana, ao leme do partido. A única forma de os neutraliza­r, mesmo que temporaria­mente, é renovar tudo o que há para renovar. Chamar às estruturas do PSD sangue novo, quadros do partido com boas qualificaç­ões, gente que está envolvida em projetos e respira mais do que as tradiciona­is intrigas palacianas. Vamos ver se Rio tem essa capacidade de rutura e de mobilizaçã­o de novos talentos. Se a tiver no PSD, é bem provável que dê um sinal ao país de que, afinal, será mais do que um líder da oposição disponível para consensos com o governo socialista – o que seria muito poucochinh­o e uma acha para alimentar um fogo que arde sem se ver dos que esperam que tudo lhe corra mal para o crucificar­em.

Na Junqueira vão exigir-lhe que clarifique o óbvio, que irá correr para ganhar as eleições legislativ­as de 2019, depois de ter aberto a possibilid­ade de apoiar um governo do PS caso venha a perdê-las. Dizem que foi fragilidad­e, ele diz que é transparên­cia. E nessa transparên­cia, talvez seja já a hora Rio, de tranquiliz­ar o PSD e de dizer, uma vez mais, o óbvio: que o governo não conta com ele para aprovar o Orçamento do Estado desenhado para o ano eleitoral. Depois é só fazer oposição a sério e seguir o hino do PSD, aquele que diz “um Rio que não vai parar”.

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JORNALISTA
PAULA SÁ JORNALISTA

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