Mais um líder que acaba mal
Extraordinário dia, o de ontem, na África do Sul. Porquê tantos líderes políticos acabam em falhanço notório? Porque raros compreendem o fim antes de começarem a ser empurrados. Ontem, Jacob Zuma, o terceiro presidente sul-africano desde que, em 1994, eles são eleitos por todas as etnias do país, parecia mais um infeliz exemplo dessa condição teimosa e cega. O seu próprio partido, o ANC, já havia avisado que hoje votaria no Parlamento, junto à oposição, para que ele fosse destituído. O ANC pressionava e já apoiava um sucessor, o vice-presidente Cyril Ramaphosa. No fim do seu segundo mandato, que acabaria para o ano, Zuma estava envolvido em graves casos de corrupção. Ainda ontem, a polícia ocupara as empresas dos irmãos Gupta, aliados de Zuma e duvidosos homens de negócios. Horas depois, o ainda presidente Zuma, em mangas de camisa, apresentou-se na estação pública de televisão e falou ao país. Disse que não compreendia o seu partido, o ANC, disse-se injustiçado e ofereceu-se para ficar mais uns meses para “apresentar” Ramaphosa ao mundo. Qualquer psicólogo reconheceria a síndrome da “doença”, acima descrita, de tantos líderes que não reconhecem o fim... Na sua alocução inesperada, Zuma até exibiu um sintoma agudo: os seus adversários “vão arrepender-se”, disse,“porque as pessoas não vão aceitar”. Uma ameaça, de um presidente que é zulu, num país de fortes tensões étnicas... À noite, porém, o presidente Jacob Zuma voltou a aparecer na televisão, de fato e gravata, e demitiu-se. Em casos destes, um raro assomo de lucidez.