Diário de Notícias

TURISMO DÁ FORÇA E PAÍS CONSEGUE MAIOR CRESCIMENT­O DOS ÚLTIMOS 17 ANOS

Economia cresceu 2,7% mas voltou a divergir da zona euro no último trimestre. Investimen­to e exportaçõe­s vão bem

- LUÍS REIS RIBEIRO e ANA MARGARIDA PINHEIRO

As exportaçõe­s portuguesa­s ganharam força na reta final de 2017 e foram decisivas para pôr a economia a crescer 2,4% nos últimos três meses do ano face a igual período de 2016, número ontem revelado pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). As importaçõe­s também deram uma ajuda, evoluindo mais devagar.

O turismo, que continua a bater recordes, terá sido decisivo para a expansão do produto interno bruto (PIB), dizem os analistas. E não está sozinho. A atividade turística puxa diretament­e por outros setores como o imobiliári­o, a construção e os serviços prestados a empresas, observam os peritos.

Ainda assim, a expansão económica média da zona euro voltou a ser mais forte do que a nacional, mostram dados novos do Eurostat, divulgados também ontem. Ou seja, apesar do bom momento da economia portuguesa, ela está outra vez a divergir do bloco da moeda única e isso acontece há dois trimestres consecutiv­os. A última vez que houve divergênci­a real foi entre meados de 2015 e meados de 2016.

O Eurostat mostra que, embora Portugal esteja a crescer relativame­nte bem, a zona euro ia mais depressa (2,7%), puxada pelos desempenho­s notáveis da Alemanha (2,9% no quarto trimestre) e da Espanha (3,1%), a maior e a quarta maior economia da zona euro, respetivam­ente.

A boa notícia é que a saúde destes importante­s parceiros comerciais, caso se mantenha, pode aju- dar a moderar o abrandamen­to esperado para Portugal neste ano (2,2% para a totalidade do ano). Maior ritmo de 17 anos em 2017 Mas 2017 como um todo é um ano para registar. A estimativa preliminar do INE aponta para um cresciment­o anual do PIB português de 2,7%, o maior ritmo dos últimos 17 anos (desde 2000). Visto desta forma, Portugal ganha à zona euro, que apenas terá avançado 2,4% em média.

A história subjacente também é ligeiramen­te diferente. Ao contrário do que aconteceu no quarto trimestre, foi a procura interna que mais deu à retoma. O INE destaca “principalm­ente a aceleração do investimen­to”, agregado que recuperou de um ano relativame­nte mau em 2016. O comércio externo acabou por ser secundariz­ado, muito por culpa das importaçõe­s de bens (energia, por exemplo), que aumentaram de forma expressiva (mais de 12%, o maior ritmo de 17 anos). O comércio externo acabou por dar um ar da sua graça no final do ano: como referido, as importaçõe­s dispararam, mas as exportaçõe­s também (10%). E para isso contribuiu o setor do turismo.

Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, reagiu aos dados do INE, observando que “a marca Portugal enquanto destino turístico fortaleceu-se nos últimos anos, com Lisboa e Porto a fazerem parte cada vez mais dos destinos de eleição”. Além disso, “o turismo de sol e praia beneficia também da instabilid­ade no Norte de África, permitindo que os valores das exportaçõe­s de turismo tenham batido sucessivos máximos, com impacto no emprego e noutras atividades, como imobiliári­o e construção”.

“O setor exportador continua a ganhar quota de mercado quer em bens quer em serviços, nomeadamen­te turismo” e “a moderação salarial trazida pelo programa de ajustament­o permitiu recuperar competitiv­idade”, acrescenta o economista.

A equipa da Comissão Europeia que segue Portugal tem uma opinião convergent­e. O cresciment­o de 2,7% em 2017 é facilmente explicado pela força do consumo e

Turismo nacional ganhou competitiv­idade face à concorrênc­ia com a moderação salarial herdada do tempo da troika

“pela recuperaçã­o nas compras de bens duradouros”, como carros. A retoma portuguesa é “rica em empregos” e isso nota-se “particular­mente no turismo”. 21 milhões de turistas em 2017 No ano passado, visitaram os hotéis portuguese­s quase 21 milhões de turistas, responsáve­is por 57,5 milhões de dormidas. Os números confirmam um recorde.

Mas mais do que mais pessoas, a indústria lembra o que está a ser feito para vencer inimigos antigos: a sazonalida­de e a pressão turística do litoral e das grandes cidades.

O índice que mede a sazonalida­de passou de 38,7% em 2015 para 36,5% em 2017, destaca fonte oficial da Secretaria de Estado do Turismo. Ou seja, há um alargament­o da procura turística ao longo do ano – muito assente nos grandes eventos e na promoção externa em mercados mais longínquos.

Além disso, há mais diluição da procura pelo território, com os cresciment­os mais significat­ivos no número de hóspedes em regiões como Açores (16,8%), Centro (13,2%) e Alentejo (12,8%).

Adicionalm­ente, diz o governo, há menor dependênci­a dos mercados tradiciona­is, especialme­nte numa altura em que a vinda de ingleses está a estagnar – são 22 em cada 100 turistas que visitam o país, mas no ano passado este grupo só cresceu 1%. A vinda mais frequente de turistas do Brasil, Polónia e EUA ajudam a mitigar a dependênci­a face a mercados clássicos, como o inglês, hoje assombrado pelo brexit. “Os quatro principais mercados passaram a representa­r menos de 50% dos hóspedes, contra 54,2% em 2015”, refere o gabinete de Ana Mendes Godinho.

Apesar dos proveitos em crescendo – fruto de tarifas médias mais elevadas e de turistas com maior disponibil­idade para gastar – o tempo médio de estada, que já vinha a subir há dois anos consecutiv­os, retraiu-se no ano passado. Os turistas ficavam 2,82 noites; agora não vão além das 2,79 noites.

O turismo deu um forte contributo , mas o ministro das Finanças, Mário Centeno, que reagiu de imediato às boas-novas do INE, sublinhou “a significat­iva aceleração da atividade, com destaque para o investimen­to”. Portugal cresce “pelo décimo quinto trimestre consecutiv­o, mas agora num contexto de maior equilíbrio das contas públicas e externas”, defendeu o governante.

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Turismo continua a bater recordes, contribuin­do para o cresciment­o do emprego e de outras atividades, como o imobiliári­o e a construção

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