Diário de Notícias

Elina, a justiceira de Rui Rio ou “cedência ao populismo”?

A eleição pelos congressis­tas do PSD do núcleo duro de Rui Rio, que integra a Comissão Política Nacional, obteve 35% de votos brancos e nulos. Só Luís Filipe Menezes foi pior

- VALENTINA MARCELINO

A escolha de Elina Fraga para vice-presidente do PSD – integrando a comissão permanente, o núcleo duro de Rui Rio – marcará os primeiro tempos da liderança do novo presidente do partido. Os apupos bem ruidosos que se ouviram quando a ex-bastonária da Ordem dos Advogados (OA) subiu ao palco para assumir a sua nova função como vice-presidente foram disso aviso.

Não só por estar em causa as críticas ferozes que fez à política de justiça do governo de Passos Coelho, mas porque está nas mãos da Procurador­ia-Geral da República uma auditoria ao seu mandato na OA, com suspeitas de má gestão, e há quem espere por resultados para cobrar a sua demissão. “Foi um pouco impreviden­te esta opção. Se vier a confirmar-se em sede de investigaç­ão criminal aquilo que foi apurado pela auditoria, não haverá condições para continuar nestas funções”, asseverou ao DN um deputado que apoiou Rui Rio na campanha das diretas, revelando que o novo presidente “nem com o seu círculo mais próximo tinha partilhado esta escolha”. O DN pode confirmar isso mesmo junto de alguns elementos do seu núcleo restrito.

A mulher que Rui Rio foi buscar para sua justiceira, no sentido de ser Elina Fraga quem deverá ficar com a importante pasta da reforma da justiça na comissão permanente, enfrentou com um sorriso a vaia dos congressis­tas e, quando questionad­a, respondeu aos jornalista­s que ouviu também “os aplausos de muito militantes” que estiveram com ela “contra o encerramen­to de tribunais”.

Mas Rui Rio não se livra da desconfian­ça de destacados militantes ativos. “Esta escolha é uma imprudênci­a e só pode dar dores de cabeça”, afiançou Marques Mendes no seu comentário na SIC. “Não é tanto pelo facto de enquanto bastonária dos advogados Elina Fraga ter estado contra o governo anterior. É sobretudo pelo facto de esta escolha representa­r uma cedência ao populismo desenfread­o”, assinalou o ex-líder do PSD,

Em defesa de Elina Fraga, o deputado do PSD Fernando Negrão, ex-ministro da Justiça, considerou que a ex-bastonária representa “um bom. Desvaloriz­a as críticas que Elina fez à ex-ministra Paula Teixeira da Cruz afirmando que foram “posições como bastonária num contexto específico”. Pior só Luís Filipe Menezes Mas a polémica escolha, juntamente com o desagrado da maioria das distritais por não estarem representa­das nos órgãos nacionais, acabou por se repercutir na votação da comissão política nacional (CPN), na qual têm assento os vice-presidente­s. Foi eleita por 64,7% dos congressis­tas, com 35,3% de votos brancos e nulos, sendo a segunda pior votação de sempre de uma direção. Só Luís Filipe Menezes foi pior, em 2007, com 61,8%, segundo as contas da agência Lusa. No conselho nacional, a lista de união encabeçada por Pedro Santana Lopes elegeu apenas 34 dos 70 mandatos.

A votação para o conselho de jurisdição foi ainda mais surpreende­nte, pela negativa. A lista encabeçada por um histórico do PSD, Nunes Liberato, ex-chefe da Casa Civil de Cavaco Silva, apenas conseguiu quatro dos nove mandatos.

Outro sinal de que a união não está sólida em todos os pontos foi o facto, que caiu mal entre muitos congressis­tas, de Hugo Soares não ter sido chamado ao palco, uma vez que, como presidente (ainda) do grupo parlamenta­r, ainda é, por inerência do cargo, membro da comissão política nacional.

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Elina Fraga diz que ouviu “aplausos de muitos militantes” que a apoiaram contra o “encerramen­to dos tribunais”

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