Eu sou o Rui Rio. Eu sou assim. Habituem-se
Se tivesse de apostar, metia o meu dinheiro em como a esmagadora maioria dos militantes do PSD saiu do 37.º congresso já a pensar no 38.º. O ambiente na sala foi quase sempre tenso, duro, frio, sem alma. Entre críticos que vão andar por aí, caciques revoltados porque não têm lugar na corte e um casting muito questionável para a direção do partido, os militantes não tiveram quase nada que os animasse. Alberto João Jardim e Fernando Costa bem tentaram, mas já nem eles conseguem levantar congressos.
Do ponto de vista partidário, Rui Rio fez um congresso contranatura. Não teve entradas apoteóticas na sala, não entrou no bate-boca político com os adversários internos e até os ataques que fez ao PS, ao PCP e ao Bloco de Esquerda foram “para meninos”. Os discursos não tiveram grandes soundbytes nem finais galvanizadores, daqueles que deixam os militantes com pele de galinha e a sair da sala a gritar “até os comemos”.
Nada disto é tática política. Pelo contrário, é a total ausência de tática, num político que sempre acreditou mais na substância do que na forma e para quem o partido é apenas um meio para chegar a um fim. Se o fim for o do próprio Rui Rio, que seja. Mas não é agora que chegou a presidente do PSD que ele vai mudar.
O discurso de encerramento do congresso é a expressão máxima de tudo isto. Rio alinhou as prioridades políticas que tem para o país, escreveu-as todas num texto de 18 páginas e leu palavra a palavra, frase a frase, sem nunca sair do guião. Se discutir a forma com Rui Rio é tempo perdido, vamos então à substância.
No essencial, Rio apontou aos mesmos temas de Passos Coelho: segurança social, educação, saúde, descentralização, uma economia mais sustentável, aposta na ciência e na inovação. A justiça e a valorização da classe média serão, porventura, as únicas novas bandeiras que Passos ou nunca hasteou ou foi deixando cair com o tempo. Mas se é verdade que as prioridades políticas do PSD não mudam assim tanto com a nova liderança, não é menos verdade que a forma – aqui sim – já é completamente diferente.
Passos Coelho, mesmo antes de ser presidente do partido, já tinha escrito um livro que era uma espécie de programa de governo. Nos congressos, nos comícios, sempre que tinha um microfone à frente, qualquer oportunidade era boa para esmiuçar mais um bocadinho daquilo que defendia para o país. Passos Coelho explicava tudo ao detalhe e, com isso, dava material precioso aos adversários políticos, inviabilizando, ao mesmo tempo, qualquer tipo de entendimento alargado, nomeadamente com o Partido Socialista.
Rui Rio parece ter uma estratégia diferente. No discurso de encerramento, enunciou as reformas que considera urgentes para o país sem nunca explicar como as pretende fazer. Claro que os adversários políticos o vão acusar de falta de concretização, mas com isto Rio pode conseguir criar as condições para um debate sem pré-condições, sem estigmas e com menos ruído. Quanto ao conteúdo, o que pode fazer a diferença entre Rio e Passos não são tanto as prioridades políticas, mas a forma de as concretizar. A diferença entre um PSD mais liberal e um PSD mais social-democrata. O tal recentramento que enche a boca dos homens de Rio e que deixa os passistas tão irritados.
A estratégia é arriscada, mas Rui Rio achará que, se resultou no Porto, também pode resultar no país. O que não o livra de, mais cedo que tarde, concretizar um programa político alternativo ao do Partido Socialista. E convém que seja mais cedo, que as eleições são já no próximo ano.
Que Rui Rio não é muito popular dentro do PSD, o congresso deste fim de semana não deixou margem para dúvidas. Agora só tem de fazer o mais difícil: provar que é mais popular no país.