Diário de Notícias

Nove torres da prisão de Lisboa sem vigilância 14 horas por dia

Sindicato Nacional, em ofício enviado à ministra da Justiça, denuncia várias falhas de segurança naquela cadeia de Lisboa

- RUTE COELHO

› Há “torres desativada­s, de dia e de noite”, refere o ofício enviado pelo Sindicato Nacional. Há “gradões sem guardas” › “Existem apenas duas câmaras de videovigil­ância no EPL, uma dentro da cadeia, junto ao graduado, que permite ver apenas o corredor por onde os reclusos passam. › Há “alas ou zonas prisionais com mais de 200 reclusos e com apenas um guarda prisional”, lê-se no ofício enviado à ministra.

Existem algumas “torres desativada­s de dia e de noite”; há “muitas falhas de segurança e os reclusos estão a perceber isso”; “as visitas estão caóticas, com dois guardas para 300 pessoas nas salas de visitas, deveriam ser 10; existem 200 guardas para 1200 reclusos”. Estas são algumas das alegadas falhas de segurança no Estabeleci­mento Prisional de Lisboa (EPL) denunciada­s desta forma à ministra da Justiça, num ofício enviado pelo Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP) na semana passada, depois de um plenário na cadeia central. A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) “desmente em absoluto que a segurança de instalaçõe­s e de pessoas se encontre em causa”.

“São nove torres de vigia ao todo no Estabeleci­mento Prisional de Lisboa. Das 8.00 da manhã às 22.00 estão todas desativada­s ou sem guardas. Às 22.00 são ativadas seis, com um guarda para cada uma. À meia-noite, com a rendição de guardas, fecham duas. Da meia-noite às 8.00 da manhã ficam apenas quatro torres do EPL com vigilância”, explica ao DN Jorge Alves, presidente do SNCGP.

O problema é não haver outros meios para observação do espaço prisional. “Existem apenas duas câmaras de videovigil­ância no EPL, uma dentro da cadeia, junto ao graduado, que permite ver apenas o corredor por onde os reclusos passam. Outra na portaria, onde entram as viaturas”, refere o dirigente sindical.

As torres de vigia deveriam estar ativas de dia e de noite para prevenir e evitar fugas de reclusos, adiantou. Mas também para impedir a entrada de pessoas estranhas ao estabeleci­mento prisional – recentemen­te, na cadeia feminina de Tires (Cascais) um homem passou o muro para entrar na prisão e ir à cela da namorada, contou fonte prisional. Ter as torres com guardas permite monitoriza­r o exterior e impedir arremessos de droga ou telemóveis escondidos em embalagens para o interior da prisão. Ainda recentemen­te um dos guardas que estava numa torre do EPL avisou o chefe de um arremesso estranho que presenciar­a. Eram dois pacotes de leite que tinham sido atirados por alguém que não foi identifica­do e que continham telemóveis (aparelhos proibidos nas prisões).

A ministra da Justiça e consequent­emente a DGRSP foram informados também de que naquela cadeia, onde há 1200 reclusos, “no período diurno (das 8.00 às 16.00) e em dias úteis estão escalados para o serviço nove chefes e 61 guardas. No período noturno (das 16 horas às 8 horas) estão escalados dois chefes e 38 guardas”.

Os sindicatos Nacional e Independen­te dos guardas contestam os novos turnos de oito horas aplicados desde janeiro nas cadeias de Castelo Branco, Coimbra, Funchal, EPL, Paços de Ferreira e Custoias (Porto) e continuam a pedir a demissão do diretor-geral das prisões, Celso Manata. “Mil em cerca de quatro mil guardas já apresentar­am requerimen­tos para não fazer as horas extraordin­árias das 16.00 às 19.00”, diz o dirigente Júlio Rebelo, líder do Sindicato Independen­te da Guarda Prisional.

Ontem, Jorge Alves e Júlio Rebelo estiveram reunidos com a ministra da Justiça, Francisca van Dunem, que decidiu aguardar por uma avaliação da DGRSP sobre o impacto do novo horário no funcioname­nto das seis cadeias onde entrou em vigor. Mas o único foco de rebelião é o EPL: na próxima quinta-feira à meia-noite os guardas iniciam uma greve às horas extraordin­árias no período das 16.00 às 19.00 (que afetam os que entram às 8.00 da manhã), que se vai estender até às 23.59 do dia 28. A convocatór­ia é do Sindicato Nacional.

O diretor-geral Celso Manata impôs serviços mínimos durante a greve e o Colégio Arbitral decidiu que estes vão limitar-se à “manutenção da ordem e da segurança de reclusos e instalaçõe­s prisionais”, segundo a decisão a que o DN teve acesso. O Sindicato Independen­te vai marcar uma greve no Estabeleci­mento Prisional de Lisboa para o início de março.

› Há “alas em piloto automático sem guardas, como o caso da ala E, onde ocorreram os problemas” no passado sábado. › “As visitas estão caóticas. Dois guardas para 300 pessoas nas salas de visitas”, refere o ofício do sindicato. › “Existe apenas uma guarda feminina para revistar em média 400 visitas femininas.” Diligência­s estão sempre a ser anuladas.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal