Esperança num acordo global sobre migração
António Guterres foi de novo o secretário-geral das ONU, a falar dos perigos no Médio Oriente e da má utilização da inteligência artificial
SEM TOGA Na conferência de imprensa que se seguiu à cerimónia, Guterres foi sobretudo o secretário-geral das Nações Unidas e não tanto o novo doutorado. Foi assim que os jornalistas o encararam e não se furtou a nenhuma questão.
Assim, manifestou a “sincera esperança” na aprovação de um “compacto que dignifique a comunidade internacional, reconheça o papel positivo das migrações e reafirme os direitos dos migrantes”, em resposta uma questão sobre a retirada dos Estados Unidos da negociação do Global Compact for Migraton. Está esperançado em que o acordo possa “contrariar algum discurso xenófobo, algum populismo que tem descrito as migrações de uma forma negativa e que não corresponde à realidade que as migrações representam na comunidade internacional”, ressalvando que, “simultaneamente, é preciso fazer tudo para combater traficantes, contrabandistas e outros violadores dos direitos humanos”.
Sobre o Médio Oriente, sublinhou: “Já não se pode falar numa crise entre palestinianos e israelitas, numa crise síria, numa crise iraquiana, numa crise nos países do Golfo, hoje tudo está interligado, há linhas de fratura que se entrecruzam”. Entre estas, falou do conflito sírio, que era encarado por Israel “como uma distração positiva em relação ao conflito israelo-palestiniano”, mas hoje “há a perceção de uma presença crescente do Irão, com milícias na Síria que se aproximam da fronteira israelita e o reforço potencial do Hezbollah, o que causa forte tensão”.
É um tema muito atual, acrescentou: “Como disse na Conferência de Munique há dias, o pior pesadelo seria um confronto entre Israel e o Hezbollah”, apesar das reiteradas declarações de ambas as partes contra essa hipótese. “Basta uma faísca para desencadear este tipo de conflitos, no clima de imprevisibilidade em que vivemos. Se esse conflito tiver lugar, o nível de destruição que podemos esperar no Líbano é devastador”.
Revelou ainda que as Nações Unidas estão a dar apoio humanitário à Colômbia por causa do crescente número de migrantes que chegam da Venezuela, “numa situação em que não há um horizonte de solução a curto prazo”.
Falando de África, defendeu “uma liderança africana para resolver os problemas africanos” e, nesse quadro, considerou que as Nações Unidas devem ser um foco de apoio, nomeadamente à ação da CDAO (Comissão Económica dos Estados da África Ocidental).
Interrogado sobre a estratégia para se chegar a uma regulação da web, tema que abordou na Aula Magna, recordou que as formas tradicionais, pelos Estados ou pelas convenções internacionais, estão desadaptadas porque são muito lentas. “Precisamos de inovação na forma de trabalhar e só mobilizando os atores e reconhecendo a contribuição de todos será possível evitar riscos reais, quer pela utilização indevida da internet quer pelas ameaças sérias que a evolução da Inteligência Artificial podem ser para a espécie humana. Recordou o testemunho de Stephen Hawking na Web Summit que “revela que a IA, oportunidade espantosa para melhorar as condições de desenvolvimento e de vida da humanidade, traz riscos que ainda não somos capazes de medir. Temos de nos unir todos, partilhar o conhecimento e a visão, para garantir que a IA seja um fator de bem”. A.S.D.