Anna Gabriel estuda a via Puigdemont e revela hoje se fica exilada na Suíça
O juiz Pablo Llarena, do Supremo Tribunal, está a ouvir mais dirigentes independentistas que estiveram envolvidos no referendo de 1 de outubro. Marta Rovira ficou em liberdade mas terá de pagar fiança de 60 mil euros
A antiga porta-voz da Candidatura de Unidade Popular (CUP) Anna Gabriel poderá imitar Carles Puigdemont e não comparecer à chamada do juiz Pablo Llarena, que investiga o processo independentista catalão. A ex-deputada está desde sábado na Suíça e terá contactado com um advogado que no passado defendeu as causas de presos da organização separatista basca ETA. Hoje vai revelar se volta a Espanha para declarar amanhã no Supremo Tribunal, que a investiga por rebelião. Ontem, ao abrigo do mesmo processo, Llarena deixou em liberdade Marta Rovira, a número dois da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), mediante o pagamento de uma fiança de 60 mil euros.
Com as negociações para a formação de um novo governo a avançar em segredo, sem que haja luz ao fundo do túnel para uma nova investidura de Puigdemont como presidente da Generalitat, as atenções voltaram-se para o Supremo. O juiz Llarena está a investigar quem, além dos membros do anterior governo, podia ter conhecimento do plano para declarar unilateralmente a independência da Catalunha. Na terça-feira passada, ouviu outra deputada do partido antissistema, Mireia Boya, que saiu em liberdade sem medida de coação.
Anna Gabriel estava convocada para declarar no mesmo dia, mas a defesa pediu para adiar. Começaram então os rumores de que a ex-porta-voz da CUP não estaria em Espanha – falava-se que estava na Venezuela a apoiar o presidente Nicolás Maduro – e não planeava regressar para ser ouvida pelo juiz. Neste fim de semana soube-se que está em Genebra, na Suíça, tendo contactado com entidades, instituições internacionais e advogados ligados à defesa dos direitos civis e políticos, incluindo Olivier Peter. O advogado suíço defendeu vários etarras no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, incluindo os autores do atentado no Aeroporto de Barajas, Igor Portu Juanenea e Martín Sarasola Yarzabal, que Espanha foi condenada a indemnizar há dias.
A CUP convocou para hoje uma conferência de imprensa em Barce- lona para explicar a defesa de Gabriel, sem especificar se ela estará presente. “É claro para nós que a dimensão internacional é fundamental”, disse ontem uma das dirigentes do partido, Mireia Vehí, à Catalunya Ràdio. “A dimensão internacional há muito tempo que está em causa com o presidente Puigdemont no exílio e é importante para mostrar o défice de garantias democráticas do Estado espanhol diante da comunidade europeia”, acrescentou.
Puigdemont e quatro ex-membros do governo catalão viajaram para Bruxelas após a declaração unilateral de independência e quando já tinham sido chamados a declarar diante da justiça. Os membros do governo que foram ouvidos acabaram detidos – o ex-vice-presidente Oriol Junqueras e o antigo conseller do Interior Joaquim Forn continuam presos e os restantes saíram mais tarde, após o pagamento de uma caução.
Ontem, o juiz Pablo Llarena ouviu a secretária-geral da ERC. Marta Rovira disse que no dia do referendo propôs, numa reunião à hora do almoço, suspender a votação por causa das cenas de violência com a Polícia Nacional, mas que o então presidente da Generalitat recusou, porque havia muita gente nas filas para votar. A número dois da ERC disse que foi a única que propôs suspender o referendo. Admitiu ainda que esteve presente em algumas reuniões prévias, para preparar a consulta, depois de ser convocada por Puigdemont. “A declaração de independência era uma declaração ou manifestação política sem efeitos jurídicos para iniciar um período eleitoral posterior”, terá afirmado. O juiz decretou o pagamento de uma fiança de 60 mil euros, por “risco de repetição do crime”.
Já a coordenadora-geral do Partido Democrático Europeu Catalão, Marta Pascal, disse ao juiz que sempre defendeu a legalidade da Constituição e foi contra a declaração unilateral de independência, que considerou, apesar de tudo, apenas política e sem efeitos jurídicos. Era defensora da antecipação das eleições. Saiu sem medida de coação.
Hoje é a vez do ex-presidente da Generalitat Artur Mas e da antiga líder da Associação dos Municípios Independentistas Neus Lloveras declararem diante de Llarena. Todos terão estado em reuniões prévias ao referendo, no qual as estratégias terão sido decididas, segundo documentos encontrados numa das buscas feitas durante o processo.
Quem também terá de voltar ao tribunal é o ex-major dos Mossos d’Esquadra Josep Lluís Trapero. A juíza da Audiência Nacional Carmen Lamela investiga-o por novo crime de sedição pelas ações a 1 de outubro. A polícia catalã é acusada de passividade frente às ordens judiciais para travar o referendo, fechar os locais de votação e apreender as urnas. Está convocado para esta sexta-feira. Já antes Trapero respondeu pelo crime de sedição, mas relacionado com manifestações prévias ao referendo.
“A dimensão internacional (...) é importante para mostrar o défice de garantias democráticas do Estado espanhol diante da comunidade europeia”
MIREIA VEHÍ
DIRIGENTE DA CUP