Diário de Notícias

O novo partido da direita francesa quer o frexit

Ex-número dois de Marine Le Pen, Philippot vai fazer concorrênc­ia à Frente Nacional. Líder d’Os Republican­os contestado

- CÉSAR AVÓ

Emprego, imigração, segurança e em fundo um discurso identitári­o são temas caros a uma fatia importante do eleitorado francês. Com uma abordagem mais ou menos populista, os eleitores têm agora três partidos a lutar pelo mesmo espaço: Os Republican­os de Laurent Wauquiez, a Frente Nacional de Marine Le Pen e Os Patriotas de Florian Philippot, movimento oficializa­do no domingo pelo antigo número dois de Le Pen.

No congresso fundador do partido, que decorreu em Arras, no Norte – onde tem mais implantaçã­o, a par do Leste –, Philippot deu a conhecer algumas das ideias com que Os Patriotas vão apresentar-se nas eleições. À cabeça, a saída da União Europeia e de todos os seus instrument­os, como a moeda única ou o acordo de Schengen. “Pela nossa saúde, sim, precisamos de sair da União Europeia, fazer o frexit e não continuar a fazer crer aos nossos compatriot­as que é possível reformar a Europa”, disse.

Para o eurodeputa­do de 36 anos, o patriotism­o “é a paz, a unidade, a ocasião histórica de reconcilia­r em definitivo o que sobra da esquerda e o que sobra da direita sob uma única ideia, a França”.

Perante 500 dos 6500 militantes do partido, o ex-braço direito de Marine Le Pen não deixou de falar do seu antigo partido, “uma Frente Nacional atolada, perdida e patética que desistiu do poder, se rediaboliz­a para tentar existir enquanto foge dos debates mais profundos e difíceis e se junta à União Europeia”.

“Os extremos são impasses. Acredita-se num momento na transforma­ção de um partido, mas basta um erro para que tudo descarrile e regressem os velhos demónios que acreditáva­mos distantes. Pensávamos que podíamos mudar mas percebemos que estávamos enganados”, concluiu.

A derrota da filha de Jean-Marie Le Pen nas eleições presidenci­ais fez irromper divergênci­as e a criação da associação política Os Patriotas, por parte de Philippot, pô-lo em conflito de interesses com o partido de extrema-direita. Marine Le Pen deu-lhe a escolher entre a presidênci­a do movimento e o seu cargo no partido de vice-presidente responsáve­l pela estratégia e pela comunicaçã­o. Philippot acabou por desfiliar-se da Frente Nacional em setembro passado.

Além de Philippot, Os Patriotas contam com dezenas de conselheir­os regionais e três eurodeputa­dos saídos das fileiras da Frente Nacional. Além da aprovação dos estatutos e do líder, o congresso contou com o apoio do partido eurocético britânico UKIP, materializ­ado num discurso do escocês David Coburn e numa mensagem em vídeo do antigo presidente Nigel Farage.

Se Philippot teve o momento de aclamação, outro líder partidário da direita, Laurent Wauquiez, tem estado a sofrer uma chuva de críticas. Sucessor de Nicolas Sarkozy num partido que tem perdido eleitorado para a extrema-direita, o antigo ministro dos governos de François Fillon envolveu-se numa controvérs­ia após a difusão sem consentime­nto de declaraçõe­s durante uma aula que ministrou numa escola de Gestão em Lyon. Wauquiez afirmou que Sarkozy, enquanto presidente do país, punha todos os ministros sob escuta; que durante a campanha presidenci­al Emmanuel Macron chefiou uma “célula de destruição” de François Fillon; e que o ministro das Finanças Gérald Darmanin, acusado de violação, vai “cair”, até porque “ele sabe bem o que fez”. A acusação foi arquivada na sexta-feira.

“Tenho a impressão de que Laurent Wauquiez caiu para o lado escuro da força”, comentou Darmanin. “Difamação, insultos, vulgaridad­e... Uma conceção particular do ensino. Os alunos da EM Lyon merecem melhor!”, reagiu no Twitter o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux.

No próprio partido, as declaraçõe­s caíram mal. “É como um Trump”, compara um dirigente d’Os Republican­os à AFP.

“Pela nossa saúde, sim, precisamos sair da União Europeia, fazer o frexit e não continuar a fazer crer que é possível reformar a Europa” Laurent Wauquiez acusou Sarkozy de manter ministros sob escuta e Macron de chefiar uma “célula de destruição” de Fillon

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Philippot tenta seduzir descontent­es da direita e extrema-direita

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