Liga instaura processo sobre os incidentes de Guimarães
Entidade que gere o futebol profissional quer apurar responsabilidades sobre os desacatos que antecederam do dérbi minhoto
O Estoril e o FC Porto, 37 dias depois, vão terminar amanhã (18.00, SportTV1) o que começaram no dia 15 de janeiro, a partida da 18.ª jornada da I Liga que ao intervalo registava um 1-0 favorável aos estorilistas – golo do médio brasileiro Eduardo aos 17 minutos de livre direto. Um abatimento de parte da bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota não permitiu que o encontro fosse concluído naquela noite, deixando os derradeiros 45 minutos serem disputados noutro tipo de condições de pressão e temperatura... e com outros intervenientes.
Desde então, os estorilistas já disputaram cinco jogos, todos para o campeonato, entre os quais três vitórias que deixam a equipa de Ivo Vieira um pouco mais confortável, acima da zona de despromoção. Já os portistas entraram em campo por nove vezes, tendo neste período ficado afastados da Taça da Liga e com pé e meio fora da Liga dos Campeões.
Para António Sousa, antigo jogador dos dragões na década de 1980, “a vantagem está toda virada para o Estoril”. “Olhando para aquilo que foram os primeiros 45 minutos, o Estoril teria grandes problemas na segunda parte, devido à pressão que fez durante a primeira, e o FC Porto tiraria vantagem e provavelmente até ganharia o jogo. Agora, o Estoril está fresco, tem mais alternativas, está mais motivado e em vantagem no resultado”, considerou o treinador de 60 anos em declarações ao DN.
O antigo médio portista, campeão europeu em 1986-87, nunca passou por uma situação do género, mas coloca-se na pele de Sérgio Conceição. “Há que ter consciência de que são 45 minutos e a estratégia do FC Porto deverá passar por colocar uma equipa muito ofensiva e a pressionar muito, para virar o resultado”, disse o ex-técnico de Sanjoanense, Beira-Mar, Rio Ave, Penafiel e Trofense.
Relativamente ao Estoril, Sousa não perspetiva “grandes alterações” ao que é o modelo habitual do conjunto orientado por IvoVieira. “A equipa vai manter-se fiel à sua identidade”, diz, não esperando Eduardo (autor do golo do Estoril) e Herrera num lance dos primeiros 45 minutos disputados no dia 15 de janeiro uma atitude defensiva por parte da formação canarinha nos 45 minutos que faltam disputar. Formar onze a ler regulamento IvoVieira e Sérgio Conceição poderão – ou melhor, terão, uma vez que não vão poder atuar jogadores utilizados a 15 de janeiro – apresentar um onze diferente do da primeira parte, mas terão de ler bem o ponto 10 do artigo 41.º do regulamento da Liga antes de fazer escolhas.
De acordo com a alínea a), “a ficha técnica pode ser alterada para incluir qualquer jogador que, encontrando-se regulamentarmente inscrito à data do jogo interrompido, dela não constasse inicialmente”, o que permite ao técnico portista utilizar Brahimi e Otávio e ao estorilista fazer alinhar Halliche e Mano, por exemplo. Contudo, não podem ir a jogo os dragões Waris, Gonçalo Paciência, Paulinho e Osorio – além dos lesionados Ricardo, Danilo e Aboubakar – e os canarinhos Ewandro, Ailton, Matheus Sávio, Dankler e Gonçalo Santos, que na altura ainda não estavam inscritos.
E, segundo a alínea c), “os jogadores que estavam em campo no momento em que o jogo foi interrompido não podem ser incluídos na ficha técnica como suplentes”. Utilizando um exemplo concreto, se Sérgio Conceição decidir atribuir a titularidade a Iker Casillas, tal como fez anteontem diante do Rio Ave, terá de convocar Vaná ou Fabiano, pois José Sá não poderá ir para o banco.
Algo a ter em conta, mas apenas para Ivo Vieira, é a alínea b), que diz que “os jogadores substituídos (...) não podem ser utilizados”. Ou seja, Joel Ferreira é carta fora do baralho, uma vez que tinha sido substituído por motivos de ordem física. Também devido a essa substituição o técnico só poderá fazer duas no que resta da partida, conforme explícito na alínea h).
Cuidados especiais também terão de ter o guarda-redes estorilista Renan e o central portista Diego Reyes, que não se podem esquecer de que foram amarelados durante o primeiro tempo, pois a alínea d) adianta que “as sanções impostas antes de o jogo ser interrompido continuam a valer para o restante tempo de jogo”.
Ainda assim, nem tudo são más notícias para os treinadores. Embora Bruno Gomes (Estoril) tenha sido expulso diante do Belenenses e Corona (FC Porto) visto o quinto amarelo frente ao Rio Ave no fim de semana, ambos poderão ir a jogo. “Os jogadores suspensos na sequência de um jogo disputado após o jogo interrompido podem ser incluídos na ficha técnica”, diz a alínea g).
VIOLÊNCIA A Liga Portuguesa de Futebol Profissional anunciou ontem a abertura de um processo de averiguações aos incidentes registados no exterior do Estádio D. Afonso Henriques, antes do jogo de domingo entre o V. Guimarães e o Sp. Braga, que causaram oito feridos e 52 detidos, segundo as forças policiais.
Este organismo esclareceu, em comunicado, que irá “tomar medidas no sentido do apuramento de responsabilidades”. A Liga “repudia e condena este género de incidentes no futebol”, razão por que irá solicitar às forças de segurança pública “o envio, com carácter de urgência, do relatório das ocorrências”.
O Comando Distrital da PSP esclareceu os moldes da operação efetuada nas imediações do estádio, confirmando que foram disparados tiros de borracha devido ao facto de terem resultado “três elementos policiais com ferimentos ligeiros e, pelo menos, três adeptos feridos, dos quais dois receberam tratamento nas instalações policiais e um foi conduzido para o hospital”.
Segundo a PSP, os incidentes foram causados por “um grupo de cerca de cem adeptos” do Sp. Braga na Rua Teixeira de Pascoais, “todos vestidos com roupas escuras e sem sinais clubísticos que os identificassem”, os denominados casuals, que proferiram “cânticos insultuosos dirigidos a um grupo de cerca de 100 adeptos doVitória, deflagrando, em ato contínuo, vários artigos de pirotecnia” na direção dos rivais.
Foi a partir daí que, segundo a polícia, se iniciaram os desacatos com o arremesso de “garrafas, pedras, mesas e cadeiras de esplanada” por parte dos vimaranenses. Este facto obrigou os agentes destacados a “recorrer à força e a proceder a disparos de arma antimotim”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fez um apelo na sequência dos incidentes de Guimarães, mas também em Alvalade, onde os jornalistas foram alvo após a assembleia geral do Sporting. “Tudo o que for trabalhar por um ambiente de descrispação, entendimento, diálogo, tolerância e compreensão recíproca, é bom. Isto aplica-se a todos os domínios e portanto também se aplica ao desporto.”