Diário de Notícias

“TENCIONO ESTAR PRESENTE E AJUDAR NO TRABALHO DO PARTIDO”

Novo líder do PSD apresentou cumpriment­os em Belém. Hoje reúne-se com Costa, com a descentral­ização em cima da mesa

- SUSETE FRANCISCO

Rui Rio foi ontem ao Palácio de Belém “mostrar predisposi­ção para colaborar e dialogar com todos os partidos”, hoje irá testar a afirmação em São Bento. O novo líder dos sociais-democratas reúne-se ao fim da manhã com o primeiro-ministro, António Costa, num encontro que deverá dar já os primeiros sinais para o futuro relacionam­ento entre socialista­s e sociais-democratas. Com um tema à cabeça – a descentral­ização.

Ontem, já depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter afirmado que o congresso social-democrata do passado fim de semana “foi particular­mente importante para a democracia portuguesa”, Rio esteve uma hora e meia reunido com o chefe do Estado – com o qual o PSD tem “particular afinidade”, fez questão de frisar –, num encontro em que foram “trocadas impressões” sobre o país. E em que o novo líder social-democrata voltou a expressar disponibil­idade para consensual­izar reformas com os outros partidos: “Não estou a falar apenas em diálogo com um outro partido, estou a falar com os outros partidos todos.”

Quanto a propostas em concreto, Rio remeteu as respostas para o futuro: “Tudo isto tem o seu tempo, sob pena de não ser bem feito. Depressa e bem há pouco quem, diz o povo na sua imensa sabedoria popular.” De acordo com o novo presidente dos sociais-democratas, “algumas coisas” poderão ser feitas até às eleições europeias de maio: “Pouca coisa, mas muita poderá ser já delineada para, logo a seguir, termos o trabalho de casa feito.” Hoje, o partido deverá começar a concretiza­r propostas na primeira reunião da recém-eleita comissão política nacional. Segurança Social, uma incógnita Quando hoje se sentar com António Costa, Rui Rio deverá ter uma recetivida­de muito diferente aos dois grandes temas em que admitiu procurar acordos alargados. Se, de um e de outro lado, a descentral­ização é apontada como uma prioridade, já a reforma da Segurança Social não parece ter pés para andar, pelo menos no atual panorama político. E Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Segurança Social, tem garantida a sustentabi­lidade do sistema pelo menos até 2030.

As linhas concretas da reforma que Rui Rio pretende para a Segurança Social são desconheci­das. No congresso do último fim de semana, o líder social-democrata falou numa reforma que “confira justiça, racionalid­ade económica e sustentabi­lidade à nossa Segurança Social”, defendendo que é “imprescind­ível pensar globalment­e o sistema”. Recordando que as receitas da taxa social única – “cujas taxas são altíssimas” – “não são suficiente­s para financiar todas as pensões”, e que 30% da verba necessária tem origem no Orçamento do Estado, Rio deixou antever que será necessário repensar o financiame­nto da Segurança Social, sem precisar em que termos. O que não deverá passar por mexidas no valor das pensões – é para aí que aponta a garantia de que “há princípios do Estado social que temos de defender”. E não se conhece muito mais do pensamento de Rui Rio sobre um assunto que, estando inscrito na moção de estratégia que levou ao congresso, não teve maior precisão durante a campanha eleitoral. A própria moção não explicita mais de que um propósito ao afirmar que “a reforma da Segurança Social é uma das reformas estruturai­s que assumem maior urgência”, mas que depende, na sua sustentabi­lidade, de um “compromiss­o parlamenta­r alargado”.

Já sobre a descentral­ização, deverá ser um tema a ocupar hoje boa parte da conversa com António Costa. Rui Rio chega à presidênci­a dos sociais-democratas quando já está em curso um processo legislativ­o de transferên­cia de competênci­as para as autarquias, mas com as duas peças-chave (a lei chapéu da descentral­ização e a chamada Lei das Finanças Locais) a precisarem do voto do PSD para serem aprovadas no Parlamento. Uma das exigências de Rio será, certamente, uma reivindica­ção que tem vindo a ser expressa pelos autarcas sociais-democratas – a de que é necessário concretiza­r de forma pormenoriz­ada a mochila financeira que acompanhar­á a transferên­cia de novas competênci­as para as autarquias. Mas não só. Rio quererá discutir o próprio quadro da transferên­cia de competênci­as e se esta deve ser universal (como pretende o executivo) ou negociada com cada autarquia (a opção tomada pelo governo de Pedro Passos Coelho). E há ainda a questão do timing. O governo quer aprovar a lei -quadro e o novo regime das finanças locais até final da atual sessão legislativ­a (até julho), mas o novo líder social-democrata tem dado sinais de que não quer pressa. No discurso de encerramen­to do congresso sublinhou, aliás, a necessidad­e um “debate sério” e “alargado” feito com base “em estudos idóneos”, o que dificilmen­te se compatibil­izará com um desfecho do processo nos próximos três meses. Além da descentral­ização, Rio também quer apostar na desconcent­ração, um tema de que também tinha falado na campanha. Com dois exemplos concretos: “O Tribunal Constituci­onal ou a Provedoria de Justiça não poderiam estar localizado­s, por exemplo, em Coimbra?” Porque é que o Tribunal Constituci­onal e a Provedoria de Justiça têm de ser em Lisboa?”

Comissão política nacional dos sociais-democratas reúne-se hoje pela primeira vez. Antes, Rui Rio é recebido por António Costa Líder do PSD diz que “algumas coisas” poderão ser acordadas até às europeias de 2019, mas a maior parte ficará para depois

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