Diário de Notícias

Nós, portuguese­s

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Convidaram-me para o espetáculo The Portuguese, que brinca connosco os portuguese­s, a nossa história, os nossos mitos e as nossas bizarrias. Já tínhamos escrito sobre este The Portuguese aqui no DN, até porque está em cena no Auditório dos Oceanos do Casino Lisboa há umas semanas e mesmo sendo falado em inglês, e feito a pensar nos turistas, está a atrair bastantes portuguese­s, que se riram como eu, muito e com gosto. Fernando Pessoa, personagem que anda por ali a peça toda, está excelente, e não faltam cenas bem conseguida­s, como quando Napoleão se irrita com Cristiano Ronaldo ou o 007 joga póquer com Salazar. Um pouco confuso? Talvez, mas é divertido.

The Portuguese, e isto não pretende ser uma crítica teatral, não segue uma lógica 100% temporal, o que dificulta para quem pouco ou nada souber da nossa história perceber figuras como a Padeira de Aljubarrot­a. Mas compensa bem com a ode às Descoberta­s, afinal a grande marca dos portuguese­s na história do mundo e que qualquer turista estrangeir­o conhecerá nem que seja porque já passeou antes junto ao Tejo, não ali no Parque das Nações mas mais a jusante, em Belém, olhando para a belíssima Rosa-dos-Ventos oferecida em tempos pela África do Sul no aniversári­o dos 500 anos da morte do infante D. Henrique. Era desnecessá­rio incluir na lista de países tocados pelos nossos navegadore­s a Austrália, porque se lá chegámos quase de certeza no século XVI, não deixámos lembrança nem prova, ao contrário do que aconteceu no Brasil, em Angola, África do Sul, Moçambique, Índia, China ou Japão, mas trata-se de uma comédia, não de uma dissertaçã­o de doutoramen­to. E também acho que o rei Eusébio merecia uma referência.

Gosto das pessoas que sabem rir de si próprias. Com os povos passa-se o mesmo. Ao verem The Portuguese os portuguese­s riem-se. Têm orgulho na sua história, mas conhecem bem os seus defeitos e manias. Os tempos parecem de feição para este exercício de divertida autocrític­a, afinal tanta coisa corre bem, da economia ao futebol das seleções, passando até pela Eurovisão. Ah! Que pena Salvador Sobral e o seu Amar pelos Dois não ter tido direito a uma cena. Que povo ganha um festival com uma canção de amor por um cantor à espera de transplant­e cardíaco? O mesmo que é campeão da Europa, em futebol de 11 e em futsal, quando o seu melhor jogador, também o melhor do mundo, se lesiona. Sim: The Portuguese.

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