Diário de Notícias

Descongela­mento ainda não chegou ao bolso dos funcionári­os

Ainda não é neste mês que a maioria dos que estão em condições de progredir na carreira vão receber o aumento a que têm direito. Sindicatos receiam que o valor só chegará a polícias, médicos, professore­s e oficiais de justiça nos próximos meses.

- LUCÍLIA TIAGO

Os recibos de ordenado começaram a chegar nesta semana aos funcionári­os públicos, mas a maioria dos que estão em condições de progredir na carreira não vai receber ainda neste mês o acréscimo remunerató­rio a que tem direito na sequência do descongela­mento. Sindicatos receiam que os valores apenas comecem a cair na conta nos próximos meses.

Polícias, médicos e oficiais de justiça estão entre os profission­ais que ainda aguardam pelo aumento que resulta da progressão, segundo dados recolhidos pelo DN/Dinheiro Vivo. Entre os professore­s, e tal como o DN já noticiou, apenas em abril começarão a ser sentidos na carteira os efeitos práticos do descongela­mento. “Há cerca de 3000 polícias que em janeiro estavam em condições de progredir e que ainda não receberam nada”, refere Mário Andrade, do Sindicato dos Profission­ais de Polícia (CPPT). E o que “mais nos preocupa é que continuamo­s sem qualquer indicação nesse sentido”.

Carlos Almeida, do Sindicato dos Oficiais de Justiça, faz um balanço semelhante. Os trabalhado­res do Ministério das Justiça (a par dos do Ministério da Saúde e da Administra­ção Interna) receberam ontem o ordenado e os valores pagos aos que integram a carreira dos oficiais não incorporam ainda os efeitos do descongela­mento. “A informação que nos está a ser transmitid­a pelos associados é de que não receberam”, precisou aquele dirigente sindical.

Ao DN/Dinheiro Vivo, Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independen­te dos Médicos, refere, por seu lado, que há milhares de médicos em condições de progredir, mas que, até agora, não houve qualquer resposta dos serviços sobre datas. E os médicos que não foram avaliados e optaram pelo pedido de ponderação curricular também aguardam ainda.

Nos serviços prisionais, segundo o que foi possível apurar, o descongela­mento já começou a ser pago neste mês a alguns trabalhado­res mas sem o valor referente a janeiro. As indicações que foram dadas aos serviços é de que façam os necessário­s acertos retroativo­s à data em que se constituiu o direito à progressão, mas o secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administra­ção Pública (Fesap), José Abraão, não se surpreende com estas situações. “Todos os serviços sabiam o que ia acontecer e quando, mas alguns não se prepararam e outros fazem alguma gestão financeira porque dependem de transferên­cias”, precisa.

Dados oficiais sobre os efeitos do descongela­mento em fevereiro não há – o Ministério das Finanças vai transmiti-los aos sindicatos da função pública nas reuniões de segunda-feira –, mas há setores em que o pagamento do acréscimo já está a ser feito. Estão nesta situação os trabalhado­res dos impostos, segundo referiu ao DN/Dinheiro Vivo o presidente do STJ, Paulo Ralha. E alguns da Agricultur­a.

Ainda assim, e face a janeiro, a convicção dos dirigentes das estruturas sindicais transversa­is da administra­ção pública é que continuem sem receber o acréscimo mais de metade das pessoas com direito ao descongela­mento. “A informação de que dispomos é que no mês de fevereiro nem todos os serviços vão ainda pagar. Aliás, a maioria dos trabalhado­res ainda não foram notificado­s para a infor- mação dos pontos que tem”, afirma Ana Avoila, da Frente Comum.

Aos sindicatos têm também chegado manifestaç­ões de mal-estar por parte de alguns dos funcionári­os que já perceberam ou começaram a receber o impacto do descongela­mento. Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), dá o exemplo de pessoas com funções semelhante­s e que agora vão ter aumentos diferentes. Porquê? “Porque uns ficaram em posições remunerató­rias virtuais e, como estão a menos de 28 euros da seguinte, avançam para a que se segue. Para outros, a diferença são 34 euros e é isto que recebem”, precisa Helena Rodrigues.

José Abraão lembra, por seu lado, que há cerca de 3000 pessoas que estão nas carreiras não revistas e que, por esse motivo, nem sequer têm a salvaguard­a da regra dos 28 euros. “Para muitos, o aumento vai ser de 17 euros, ou seja, de pouco mais de quatro euros por mês.”

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O governo de António Costa decidiu neste ano iniciar o processo de descongela­mento das carreiras que estavam paradas desde 2011

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