Diário de Notícias

BAIRRO 6 DE MAIO E DECISÃO JUDICIAL CONTRA MULHER AGREDIDA NA MIRA DA AMNISTIA

Relatório mostra preocupaçã­o com falta de condições de casas de afrodescen­dentes e ciganos. E critica juízes de caso de violência doméstica.

- MANUEL CARLOS FREIRE

As casas de ciganos e afrodescen­dentes em Portugal não têm condições dignas para se viver, segundo um relatório da Amnistia Internacio­nal (AI). A manutenção de deficiente­s condições de habitabili­dade em 2017 é um dos aspetos negativos identifica­dos, a par de decisões judiciais favoráveis a acusados em casos de violência contra mulheres ou de tortura e maus-tratos nas esquadras.

No seu relatório anual sobre a realidade dos Direitos Humanos no mundo, relativo a 2017-2018, a AI identifica aqueles três pontos negativos e um quarto, que é o da admissão de menos refugiados do que o número acordado a nível da UE – e dois positivos (ver caixa).

De fora do relatório ficou o capítulo referente à situação nas prisões, por a AI não ter recebido atempadame­nte o relatório da visita a Portugal (setembro de 2016) do Comité para a Prevenção da Tortura do Conselho da Europa. A organizaçã­o assinala apenas que essa deslocação destinou-se a verificar a existência de proteções contra a tortura e maus-tratos dos presos, as condições dos detidos e daqueles que estão em prisão preventiva, bem como a situação dos internados em unidades de psiquiatri­a forense. Quanto às condições de habitabili­dade em que vivem ciganos e descendent­es de africanos, a AI – na sequência de visitas feitas por representa­ntes das Nações Unidas e do Conselho da Europa a Lisboa, Porto e TorresVedr­as – constata que elas “permanecem inadequada­s”. O relatório cita expressame­nte o caso dos habitantes do Bairro 6 de Maio (Amadora), cujos processos de demolição de casas estavam em curso sem que tivessem alternativ­as viáveis para residir.

José Falcão, presidente do SOS Racismo, disse ontem ao DN que “condena [essa realidade] com mais firmeza”, na medida em que essa associação acompanhou presencial­mente as ações de demolição de casas em bairros como o 6 de Maio ou o de Santa Filomena (também na Amadora) ou da Torre, em Loures. “Portugal não cumpre nada sobre o que se compromete­u com as Nações Unidas.” “Basta ver a periferia das grandes cidades” para constatar que essa realidade não afeta só aquelas duas comunidade­s “mas também os pobres deste país” quando, assinalou José Falcão, “há centenas de milhares de casas desabitada­s que podiam ser recuperada­s em detrimento” de novas construçõe­s.

A AI regista que Portugal admitiu “menos requerente­s de asilo” do que o acordado a nível europeu, “deixando por receber mais de 1400” refugiados oriundos da Grécia e Itália – embora assinaland­o a posição portuguesa que mais de 720 dos 1518 acolhidos tinham deixado o país no final de 2017.

A política portuguesa nessa área tem sido elogiada internacio­nalmente e Lisboa alargou o número de refugiados a receber – e vindos também da Turquia – ao abrigo daquele programa de acolhiment­o da UE.

O relatório cita ainda a acusação feita em julho passado contra 18 polícias da esquadra de Alfragide, que o Ministério Público quis ver suspensos até ao julgamento e que o tribunal rejeitou. No caso da violência contra mulheres, a AI lembra a suspensão da sentença contra dois homens com base em “crenças religiosas e estereótip­os de género”, com os juízes a argumentar que “o adultério é um ataque muito sério à honra e dignidade de um homem”.

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Grande parte da comunidade cigana em Portugal ainda vive em condições muito precárias

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