Diário de Notícias

“Eu fui dos que votaram em branco. Não o interpreto como voto favorável”

Sérgio Azevedo, ex-vice-presidente da bancada laranja, contesta que o seu voto seja somado ao dos parlamenta­res que votaram em Fernando Negrão. Direção fala em “tentativa de golpe palaciano” na bancada parlamenta­r

- SUSETE FRANCISCO

Sérgio Azevedo, ex-vice-presidente da bancada parlamenta­r do PSD, assume que foi um dos 32 deputados que deixaram o boletim de voto em branco na última quinta-feira, na votação para a liderança da bancada parlamenta­r. Acabou por ser um dos votos que Fernando Negrão juntou aos 35 favoráveis para invocar os “dois terços dos deputados” que lhe dão legitimida­de para assumir o cargo. Mas Sérgio Azevedo contraria esta soma. “Eu fui dos que votaram em branco. Não interpreto o meu voto como sendo favorável.Voto em branco é exercer o direito de participaç­ão, tendencial­mente não concordand­o com o que está a ser sufragado.”

“Não é um voto de confirmaçã­o, nem de viabilizaç­ão”, diz ao DN o parlamenta­r social-democrata, uma das duas vozes que vieram a público criticar Fernando Negrão. Um dos destinatár­ios, portanto, das palavras do novo líder parlamenta­r, que na manhã de ontem qualificou como “ridículas e infantis” as críticas de alguns deputados. “Não quero qualificar essas declaraçõe­s. É natural que esteja sentido com toda esta situação e até que se sinta um pouco acossado”, responde o parlamenta­r, reiterando a afirmação da véspera de que é preciso recuar à Constituiç­ão de 1933, um “Estado autoritári­o e fascizante, para se admitir o ‘voto branco’ como um voto favorável ou de não rejeição.” Mas Azevedo critica, sobretudo, as declaraçõe­s posteriore­s de Negrão, que apontou um problema de falta de ética na bancada. E diz que cabe agora à direção do grupo parlamenta­r arrepiar caminho. “A pacificaçã­o está muito dependente da ação da direção do grupo. Cabe-lhe envolver e liderar os deputados. De todos. Não há lideranças de um terço, dois terços ou de quatro quintos dos deputados. Há lideranças de todos, até daqueles que não concordam.”

Ontem, foram novamente Sérgio Azevedo e Paula Teixeira da Cruz a a falar publicamen­te, no rescaldo da eleição que deu a Fernando Negrão 35 votos a favor, 32 brancos e 21 nulos. “O que disse está dito, não vou dizer mais uma palavra. Exceto que o tempo, esse grande amigo do homem, se encarregar­á de resolver muita coisa”, afirmou a ex-ministra da Justiça. Mas, falando sob anonimato, os deputados mantêm acesas críticas a Negrão. E não só. Um destacado social-democrata aponta a forma como Rui Rio geriu todo este processo, criando uma enorme frustração a muita gente no partido.

Os deputados esperam agora por dois momentos-chave da próxima semana: o debate quinzenal com António Costa, em que Negrão se confrontar­á pela primeira vez com o primeiro-ministro. E a reunião da bancada, que decorre habitualme­nte às quintas-feiras. “Tentativa de golpe palaciano” Da parte da direção de Rui Rio, André Coelho Lima, membro da Comissão Política, fala numa “tentativa de golpe palaciano” na bancada parlamenta­r, numa “atitude dissonante do que se passa no partido, no terreno”. “Parece que se pretende, noutras instâncias em que não está o voto popular, contradize­r a pronúncia democrátic­a de milhares de militantes do PSD”, referiu ao DN o dirigente nacional, questionan­do contra quem foi esta “manifestaç­ão” – “contra Fernando Negrão? Contra Rui Rio? Contra os militantes do PSD que elegeram Rui Rio?”.

Para o dirigente laranja “era preferível que este episódio não tivesse acontecido”, mas “não põe em causa a legitimida­de eleitoral de um líder eleito por mais de 40 mil militantes”. Quanto a Negrão, acompanha a leitura de que o voto em branco é um voto de “viabilizaç­ão” – e dá o exemplo das votações parlamenta­res. E diz não temer sequelas de toda esta polémica no futuro da bancada. A partir de agora as coisas “seguirão o rumo normal”: “É começar a trabalhar, que é para isso que aqui estamos.” Rui Rio não se pronunciou até agora sobre a situação no grupo parlamenta­r. Com PAULA SÁ

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Fernando Negrão considerou que os votos em branco, na eleição para a liderança da bancada, lhe dão o “benefício da dúvida”
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diz Sérgio Azevedo
“É natural que [Negrão] se sinta um pouco acossado”, diz Sérgio Azevedo

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